Desmontando a curva do esquecimento – Parte II

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30 de janeiro5 min. de leitura

No artigo anterior, já havíamos previsto que voltaríamos ao tema “Curva do Esquecimento”. De fato, o assunto tomou conta dos debates entre estudantes, em especial aqueles – como os concurseiros e os candidatos ao ENEM – que precisam estudar e assimilar muitos conteúdos, às vezes de dezenas de matérias previstas nos editais de concursos, algumas delas com conteúdos jamais vistos nos bancos da escola ou da faculdade. Então, hoje ofereceremos mais informações e dicas a respeito da teoria do filósofo Ebbinghaus e responderemos algumas das perguntas que foram postadas no espaço para comentários do artigo “Desmontando a curva do esquecimento” em nossa fan page, no espaço do aluno e em mensagens enviadas por e-mails.

“a melhor técnica para desenvolver um hábito é repetir a rotina, sem interrupção, por 21 dias ou três semanas, sempre no mesmo horário, no mesmo local e pelo mesmo período de tempo”

Um dos principais questionamentos que recebemos foi: “Como criar o hábito de estudar?”. Demos algumas orientações a respeito disso em outros artigos, mas não custa relembrar: a melhor técnica para desenvolver um hábito é repetir a rotina, sem interrupção, por 21 dias ou três semanas, sempre no mesmo horário, no mesmo local e pelo mesmo período de tempo. Obviamente, algumas pessoas podem precisar de mais tempo: há quem precise de umas quatro semanas, há quem só “entre no esquema” depois de uns dois meses de rotina… Não importa o tempo investido para desenvolver o costume de estudar; o que importa é obedecer à doída rotina, até consolidar o hábito. Não pode haver interrupções, preguiça, desobediência à regra. É sério: três dias de interrupção são suficientes para pôr tudo a perder.

Há algum tempo eu desenvolvi a (rigorosa) rotina de fazer exercícios físicos todos os dias. Costumo brincar que eu nunca falto, salvo em caso de guerra, doença grave ou desastre natural. É claro que há um pouco de exagero nessa afirmação, mas é o tipo de pensamento que me impede de faltar por qualquer razão – ao primeiro sinal da preguiça, por exemplo. Já perdi as contas de quantas vezes acordei exausto e sem nenhuma vontade de treinar, mas, mesmo assim, me levantei da cama, segui em frente e consegui ter um bom desempenho na malhação. A mesma lógica – e disciplina – deve ser seguida nos estudos.

Outra pergunta bem comum entre nossos leitores foi: “Devo estudar mais doutrina ou mais lei seca?”. Creio que nós também já respondemos essa dúvida, na série de artigos intitulada “Quebrando a banca”. Na ocasião, avaliamos exaustivamente provas de concursos para constatar, em resumo, que, no Direito Administrativo, por exemplo, a banca FCC cobra doutrina e lei seca em proporções iguais: 50% de cada. Já em provas do CESPE da mesma disciplina, 67% das questões versavam sobre lei seca – texto literal das leis básicas: 8.112, 9.784, 8.666, 10.520 e 8.429 – e os outros 30% sobre doutrina.

Em síntese, tudo depende da banca e do nível do concurso. Dito isso, o que os professores e coaches têm aconselhado é o estudo do texto atualizado da legislação listada no edital. Mas não se trata de qualquer estudo. Os especialistas recomendam que a preparação seja baseada na produção de resumos e de notas de rodapé ou de borda aliada à solução de centenas de exercícios sobre o tema, até que ele esteja na ponta da língua. De qualquer forma, vale a pena imprimir os gráficos ilustrativos dos nossos artigos, que resumiram bem o comportamento de cada banca em cada matéria. Cole-os no seu caderno de anotações de aulas ou de resumos e os consulte sempre que precisar.

Nossos leitores também foram insistentes em questionar se realmente vale a pena “perder tempo” com revisões. No artigo da semana passada (acesse aqui), tentamos deixar isso claro, mas talvez não tenhamos sido incisivos o bastante. Amigo leitor, revisar não é perda de tempo. Muito pelo contrário: revisões programadas e feitas por meio da leitura de resumos comprimidos são indispensáveis para interromper a curva do esquecimento. Afinal, como já vimos, sem as sucessivas revisões do assunto, corremos o risco de guardar apenas uma vaga lembrança do que estudamos. Felizmente, porém, não há regras rígidas sobre como essas revisões devem ser feitas. As características individuais, a quantidade de matérias, o tempo disponível para o estudo, a planilha de metas, a densidade do material a ser estudado e até a bagagem que o candidato já tem internalizada são determinantes para definir o número e a frequência delas.

” A chave é usar a curva do esquecimento a seu favor.”

Feitas essas ressalvas, a regra geral, segundo recomendam os gurus no assunto, é a seguinte: a primeira revisão deve ser concluída em 10 minutos e ser feita no fim do dia da aula ou logo após o estudo do assunto; a segunda demandará de 8 a 9 minutos de leitura e precisa ocorrer 24 horas após a primeira; a terceira deve durar entre 5 e 8 minutos e ser realizada 7 dias depois da aula ou do estudo; e a última deve ser feita 30 dias depois do primeiro contato com o conteúdo. É claro que você pode continuar com revisões mais rápidas, de poucos minutos de duração, a cada 45 dias, por exemplo, para manter o assunto ativo no cérebro. A chave é usar a curva do esquecimento a seu favor. Faça a primeira e a segunda revisão em espaço de tempo mais curto e, então, aumente o intervalo progressivamente, diminuindo o tempo de duração de cada releitura.

Ainda não se convenceu da importância desse método? Então saiba que todos os nossos ex-alunos que foram aprovados nas primeiras posições de alguns dos principais concursos públicos do país afirmaram, ao serem entrevistados por nós, terem produzido resumos sobre os conteúdos estudados e feito inúmeras revisões. Aliás, eles foram unânimes em dizer que reservaram a última semana antes da prova apenas para a revisão final. Além disso – e não menos importante –, todos eles organizaram planos de estudo em que destinaram parte do tempo para atividades físicas. De 20 a 40 minutos diários bastam. Dê preferência a atividades aeróbicas, ótimas para oxigenar o cérebro, melhorar a concentração e turbinar a memória.

Segundo Alberto Dell-Isola, o homem-memória brasileiro, autor das obras “Supermemória: você também pode ter uma” e “Mentes brilhantes: como desenvolver todo o potencial do seu cérebro”, o esquecimento é algo normal. Ele sugere um método em três passos para burlar o famigerado “branco” no dia da prova:

1º) Nas primeiras 24 horas após a sessão de estudos, faça uma revisão de dez minutos de duração para cada uma hora de leitura. Use fichas-resumos.

2º) No sétimo dia após a sessão de estudo (uma semana depois), destine cinco minutos para a revisão do conteúdo.

3º) No fim de 30 dias, reveja o conteúdo por cerca de 2 a 4 minutos.

“…sem revisão, o aprendizado se perde, e o candidato é obrigado a estudar tudo de novo, de modo que faltará tempo para vencer todo o programa do edital.”

Essas são dicas de quem tem memória de elefante. É bom respeitar, concorda? De qualquer forma, o que é certo e cientificamente comprovado é que, depois de sucessivas revisões, a curva do esquecimento cai muito, porque o cérebro já entendeu que aqueles conteúdos são importantes e devem ser memorizados. Por outro lado, sem revisão, o aprendizado se perde, e o candidato é obrigado a estudar tudo de novo, de modo que faltará tempo para vencer todo o programa do edital. Por isso, precisamos ser metódicos e dar crédito às pesquisas, à ciência e à experiência dos que já empregaram – com muito sucesso – tais técnicas. Tenho repetido sempre que um dos maiores erros dos concurseiros é não fazer revisões.

Os estudiosos da memória garantem que o cérebro faz uma limpeza nos arquivos toda noite, enquanto dormimos. Nossa mente simplesmente descarta informações que não usamos regularmente. Para evitar o descarte dos conteúdos estudados no dia, a recomendação-padrão é que, antes de se passarem 24 horas, nós os revisitemos, seja relendo as anotações, seja ouvindo mais uma vez o conteúdo, seja conversando com alguém sobre o assunto estudado, seja, ainda, ministrando uma miniaula sobre o assunto para outro colega. E, de novo, reitero que é preciso resolver muitas questões sobre o tópico estudado.

Enfim, fica a lição: a memória diminui… se não for exercitada. Nesse ponto, ela é como qualquer músculo do corpo: precisa ser treinada.

Sabendo disso tudo, vamos juntos, amiga e amigo concurseiro, derrubar o esquecimento e garantir a nossa vaga no serviço público e a mudança de vida com que tanto sonhamos!

Gabriel Granjeiro


GabrielDiretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há quase 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.

 

 


 

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