A carreira diplomática faz parte, sem qualquer sombra de dúvidas, do serviço público de um Estado. E os profissionais que a compõem são, em qualquer parte do mundo, servidores públicos, ainda que o processo seletivo possa variar consideravelmente de um país para outro. Até aí, nenhuma novidade.
Outro dia, no entanto, um diplomata brasileiro foi expulso da carreira porque se envolveu em uma confusão com a namorada. Ele já tinha processo disciplinar no Ministério das Relações Exteriores, e o caso caiu como uma gota d’água em um copo prestes a transbordar. O assunto foi parar na imprensa, não apenas no Brasil, mas no exterior.
Mais recentemente ainda, outro diplomata, este mais graduado, virou notícia porque criou um blog para discutir temas eleitorais. Ele não se apresentou na Internet como diplomata, apenas como um cidadão que, como qualquer outro, tem o direito de expressar publicamente as próprias opiniões. Mesmo assim, por alguma razão, o fato pareceu curioso o suficiente para virar matéria de jornal.
Eu poderia escrever parágrafos e mais parágrafos para citar diversos e numerosos outros exemplos de diplomatas que fizeram ou sofreram algo que chamou atenção pública enquanto serviam no Brasil ou fora. E se isso ocorre com não pouca frequência, cabe a pergunta: por que nossas vidas privadas interessam a ponto de o que fazemos ir parar na imprensa? Não é comum lermos notícias sobre servidores públicos de outros órgãos, a não ser quando se tratam de questões criminais, mas, nesse caso, o que atrai curiosidade são os crimes em si, não o fato de terem sido cometidos por funcionários de determinado órgão estatal.
Creio que isso ocorre porque há certa vinculação da carreira diplomática com a pessoa que a exerce, a ponto de, na maioria das vezes, o senso comum confundir as duas, a pessoa física com a jurídica, ou seja, com a função exercida, como se o(a) diplomata fosse diplomata 24 horas por dia[1]. Isso não quer dizer, obviamente, que quem ocupa essa posição não possa ter vida privada ou que não deva se manifestar publicamente sem a autorização do Ministério das Relações Exteriores (MRE). A autorização somente é necessária quando o assunto estiver relacionado com suas atividades profissionais.
É por isso que o MRE pede aos diplomatas que, quando publicarem artigos, mesmo que sobre temas estranhos à política externa brasileira, façam a ressalva (“disclaimer”), mostrando que falam em nome próprio, que as opiniões expressadas não correspondem necessariamente às posições oficiais do Governo brasileiro.
Todo cuidado é pouco, no entanto. Já que a sociedade parece se interessar pela vida privada dos diplomatas, os profissionais do Itamaraty não devem perder isso de vista. Movimentações que, para qualquer servidor público possam parecer normais, muitas vezes, vão parar na imprensa se o(a) autor(a) é diplomata.
[1] Afirmei em outro artigo que é difícil a um diplomata, especialmente quando representa o Brasil no exterior, desvincular-se de suas responsabilidades como representante de seu país, mesmo fora do horário do expediente.
Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico
Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006.
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