Por: Adriana Almeida de Oliveira
O mundo mudou. A advocacia não, ao menos não substancialmente quando comparada com outras profissões. E nem majoritariamente. Os advogados autônomos, em particular os de fora das grandes capitais, os quais compõe expresso número na advocacia, ficam alheios a algumas importantes inovações e ferramentas de tecnologias, não raro, reputadas exageradas ou extravagantes para seus gostos e perfis. Poucas vezes o fator é custo (sistemas de controle processual e financeiro chegam a custar cerca de R$ 30 reais por mês).
Na maior parte das vezes, parece-nos, a questão são os paradigmas. Quase todo escritório de advocacia coloca entre seus pilares a humanidade. Contudo, dedicação e a pessoalidade não são antônimos de tecnologia, como rapidamente se “vende” ou se “compra”. Aliás, se bem usada, a inteligência artificial pode aumentar o tempo e atenção dedicados ao cliente, já que, de outro lado, é capaz de otimizar a organização administrativa, a rotina financeira, a localização de informações e documentos. Assim como é possível aproveitar as redes sociais para manter novos e outros contatos (que, sejamos francos, seriam muitas vezes perdidos), a tecnologia pode nos ser muito benéfica.
A eventual superficialidade das relações e informações não é um dado da tecnologia, mas sim uma forma de se lidar com ela, uma escolha ou um arrastamento que nada tem de irresistível, ainda que, é certo, dificultoso. As reuniões presenciais, contudo, seguem vivas, os coworking estão abarrotados de pessoas, e, recentemente, de advogados que procuram interação não virtual com outros colegas, parceiros e clientes. Daí dizer-se que tecnologia e humanidade podem andar de mãos dadas, basta atuar para isso e, obviamente, buscar esse alinhamento é um constante aprendizado. Tudo bem, é preciso seguir. O que não é possível mais é dispensarmos ferramentas e aplicativos comumente usados por profissionais de outras áreas. Nesse sentido, veja-se a importância do LinkedIn como canal de parcerias e contatos. Saliente-se o crescimento do uso do “Trello” como ferramenta de organização de tarefas ou do MailChimp, que otimiza o envio de informações ou boletins aos clientes. Contudo, antes da aderir a qualquer “inovação”, algo muito mais difícil precisa ser mudado: o nosso mindset.
Nós advogados, e de várias idades, somos, apegados às nossas verdades e, no geral, não nos vemos como empresários – o que dificulta a busca de tecnologia e eficiência e a abertura a ver o risco como parte do negócio. É hora de inovar. É hora de quebrar paradigmas. Precisamos nos permitir. A ode à tradição da nossa advocacia, que merece ser mantida e exaltada, não significa um rompimento com o novo. A economia compartilhada, a diversidade e, em particular, a inteligência artificial revisitam pontos de partidas. Isso é fundamental para que estejamos certos de quem somos e do que queremos.
Cabe agora a cada um de nós decidir se nos abriremos a refletir, se ousaremos nos modificar, quando concluirmos termos repisado irrefletidamente um conceito que se mostrou descabido ou incoerente com o que somos, ou se ficaremos presos ao passado, engessados em paradigmas inquestionados, em manias improdutivas, em crenças limitantes, que tudo que fazem é nos deixar alheios a um mundo que acontece aí fora.
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