Meus amigos e minhas amigas, neste artigo de hoje vamos falar sobre o uso de medicamentos em Odontologia. Considerando o dia a dia do cirurgião-dentista, independentemente da área de formação/especialização, o conhecimento desse tema é de extrema importância. E por esse motivo, a temática Terapêutica Medicamentosa em Odontologia é frequentemente cobrada em provas de concursos e residências nas diversas áreas da Odontologia.
INTRODUÇÃO
O uso e a prescrição de medicamentos é algo que está diretamente ligado ao dia a dia do cirurgião-dentista, sendo os analgésicos, anti-inflamatórios, antibióticos e anestésicos locais os fármacos mais utilizados. Nesse sentido, é de extrema importância que o profissional esteja continuamente atualizado para indicar corretamente um determinado medicamento.
Vários fatores irão influenciar na escolha de um fármaco. Em primeiro lugar, é importante a realização de uma anamnese criteriosa do paciente, ainda na primeira consulta. Nesse primeiro momento, o profissional poderá identificar, por exemplo, a presença de comorbidades sistêmicas, uso contínuo de medicamentos e presença de alergias. Esse conhecimento inicial proporcionará ao cirurgião-dentista entender quais medicamentos ele poderá utilizar ou prescrever, considerando as indicações, contra-indicações e interações com outros fármacos.
Em segundo lugar, a escolha das medicações está diretamente relacionada ao tipo de patologia do paciente e do tipo de procedimento que o cirurgião-dentista irá realizar. Por exemplo, para o tratamento de infecções bacterianas, os antibióticos estarão indicados; para quadros de dor pós-operatória, os analgésicos e anti-inflamatórios poderão ser prescritos.
Portanto, antes de se prescrever uma medicação, é necessário que o profissional conheça o paciente, conheça o medicamento que está prescrevendo, faça um bom diagnóstico da patologia do paciente e, por fim, faça uma análise coerente entre o procedimento que irá realizar e o fármaco que irá prescrever.
De acordo com a Lei n° 5.081/66, compete ao cirurgião-dentista prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso interno e externo, DESDE que apresente indicação dentro da Odontologia. No entanto, na prática, as classes de medicamentos que mais rotineiramente são utilizadas são os analgésicos, anti-inflamatórios, antibióticos e anestésicos locais.
ANALGÉSICOS E ANTIINFLAMATÓRIOS
A dor talvez seja o problema que mais motiva o paciente a procurar o cirurgião-dentista. De forma geral, ela tem caráter inflamatório e está acompanhada, na maioria das vezes, de outras reações, como edema e alteração da função.
Em muitos procedimentos odontológicos, a ocorrência de inflamação/dor é um evento esperado. Por exemplo, no pós-operatório de uma exodontia, é comum o desenvolvimento de uma reação inflamatória, que poderá se apresentar mais ou menos intensa a depender do grau de trauma durante o procedimento. Nesses casos, normalmente são prescritos anti-inflamatórios e analgésicos.
Os analgésicos mais utilizados para dor leve são a dipirona e o paracetamol. Para dores mais importantes, de moderada a grave, a escolha é a associação do paracetamol com a codeína ou o tramadol (os dois últimos, analgésicos opioides).
Em relação aos anti-inflamatórios existe uma grande diversidade de medicamentos. Essa classe de fármacos pode ser dividida em anti-inflamatórios não-esteroidais (AINES) e anti-inflamatórios esteroidais (ou corticosteroides) e atuam em enzimas diferentes: as cicloxigenases e as lipoxigenases A2, respectivamente.
ANTIBIÓTICOS
O uso de antibióticos apresenta duas indicações principais: 1. auxiliar o organismo no combate de uma infecção de origem bacteriana (terapia antibiótica) e 2. prevenir a ocorrência de uma infecção (profilaxia antibiótica).
A terapia antibiótica está indicada em casos que apresentam sinais locais de disseminação do processo infeccioso (ex: linfadenite, celulite, trismo) ou sinais e sintomas de ordem sistêmica (febre, taquicardia, falta de apetite, mal-estar geral, etc). Nesses casos é essencial que, além de um diagnóstico correto e instituição do uso de antibióticos, o cirurgião-dentista atue ativamente também na remoção da causa.
No mercado brasileiro, existe uma grande variedade de antibióticos. Eles diferem principalmente em relação ao espectro de ação. Na prática clínica, os mais utilizados são penicilina, amoxicilina, clindamicina, azitromicina, metronidazol, moxifloxacino.
Em relação a profilaxia antibiótica, o paciente não apresenta, de fato, uma infecção; no entanto, o uso de antibióticos se justifica para prevenir uma infecção à distância (por exemplo, a endocardite bacteriana) ou para prevenir a infecção de um sítio cirúrgico.
Nessas situações, a indicação da antibioticoprofilaxia irá depender das condições sistêmicas do paciente e do tipo de procedimento a ser realizado. Os antibióticos mais utilizados nesses casos são amoxicilina, ampicilina, clindamicina e azitromicina.
ANESTÉSICOS LOCAIS
Os anestésicos locais são utilizados quando há necessidade de realização de procedimentos que causam dor, por exemplo, as exodontias. Os principais representantes desse grupo são a lidocaína, mepivacaína, articaína e bupivacapina.
Para obter uma anestesia local segura e com profundidade e duração adequadas, o cirurgião-dentista deve conhecer a farmacologia e a toxicidade dos anestésicos locais e dos vasoconstritores, para assim poder selecionar a solução mais apropriada ao tipo de procedimento e condições de saúde do paciente.
O mecanismo de ação dos anestésicos locais está relacionado à supressão da condução do estímulo nervoso de forma reversível, promovendo a ausência de sensibilidade dolorosa em uma determinada região do corpo.
Nos tubetes odontológicos, normalmente existe uma associação de anestésico local com vasoconstritor. Este tem a função de causar vasoconstrição local, o que resulta em maior duração de ação do anestésico local, menor risco de toxicidade e menor sangramento local. Os vasoconstritores mais comuns são a epinefrina, noraepinefrina e felipressina.
Questões de concurso e residência
- (UFRN, 2018 – Residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial) O controle da dor é muito importante em cirurgias buco-maxilo-faciais. Os analgésicos opioides constituem uma indicação de primeira escolha:
a) em dores instaladas, com intensidade leve.
b) na analgesia preemptiva, evitando a instalação da dor.
c) em dores instaladas de intensidade moderada ou grave.
d) em pacientes alérgicos a dipirona sódica.
Comentários:
Os analgésicos não-opioides, que tem como principais representantes a dipirona e o paracetamol, são indicados para dores leves. Analgésicos opioides normalmente são indicados para dores moderadas a severas.
O conceito de analgesia preemptiva diz respeito a prescrição de medicamentos antes da realização do procedimento, impedindo ou limitando a formação de mediadores inflamatórios. Nesses casos, os medicamentos são indicados são os anti-inflamatórios não-esteroidais e esteroidas.
Pacientes alérgicos a dipirona podem ser prescritos com paracetamol ou algum AINE com efeito analgésico, por exemplo, ibuprofeno.
A alternativa correta desta questão é a alternativa C.
- (Cespe/Cebraspe, 2018 – Cirurgião-dentista) Com base nos princípios e nas indicações da profilaxia antibiótica para endocardite bacteriana, julgue o item a seguir em Verdadeiro ou Falso.
Na profilaxia antibiótica para endocardite bacteriana em crianças não alérgicas à penicilina, deve-se administrar amoxicilina 20 mg/kg, em dose única, de 30 min a 60 min antes do procedimento.
Comentários:
A endocardite bacteriana é uma doença grave, que resulta usualmente da invasão de microorganismos (principalmente bactéria) em tecido endocárdico ou material protético do coração. Estão indicados a realizar a profilaxia antibiótica os pacientes susceptíveis que serão submetidos a procedimentos odontológicos com manipulação do tecido gengival ou da região periapical dos dentes ou perfuração da mucosa oral. A maioria das bibliografias cobra o seguinte protocolo de antibioticoterapia:
Portanto, o item avaliado acima apresenta uma afirmação FALSA.
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