Entre as perguntas que mais ouço sobre a carreira diplomática, especialmente daqueles que conhecem menos a carreira, é sobre a suposta obrigatoriedade de ida a um determinado destino ou ao exterior, em geral. Nada é obrigatório, mas a eventual permanência no Brasil tem seu preço.
Idealmente, para aqueles que gostam da ideia de viver um tempo fora do Brasil, que são a maioria no Itamaraty, a melhor opção seria ir de um posto a outro sem retornar à SERE . Na prática, entretanto, o mais adequado está no meio-termo, como quase tudo na vida. As carreiras mais bem-sucedidas são aquelas que mesclam períodos equilibrados de permanência em Brasília e no exterior. E quais seriam esses tempos?
Em geral, os prazos ideais variam de 2 a 5 anos, dependendo da situação. Pensemos em caso concreto, ainda que hipotético. Imagine um diplomata chamado José que acabou de ser formar no Instituto Rio Branco (IRBr). Ao deixar os bancos escolares, José terá sua lotação definida de acordo com as necessidades do Itamaraty e suas escolhas, de acordo com a classificação obtida no final do curso.
O período dessa primeira lotação varia. Se José estiver satisfeito com o tema de que trata, normalmente ficará no mesmo local até sua primeira saída para o exterior. Caso contrário, depois de 1 ou 2 anos, terá certa liberdade para buscar outra lotação, desde que isso seja negociado entre os chefes, ainda na SERE.
Quando José começar a pensar em ir para o exterior, suas opções dependerão do tempo que permaneceu trabalhando em Brasília após o Curso de Formação do IRBr. Para candidaturas a postos de categoria D, basta um ano de trabalho; 2 para C; 3 para B; e 4 para A.
José poderá esperar mais para sair, ou mesmo não sair, pois não é obrigado a isso. No curto prazo, nada mudará, já que, se ficar no Brasil por mais de 4 anos depois de formado, concorrerá a uma remoção para um posto A (ou de qualquer outra categoria) em igualdade de condições com os colegas que esperaram o tempo mínimo para candidatar-se a um desses destinos, porém, no médio e longo prazo, pagará um preço. Vejamos.
Digamos que José decida ficar 10 anos em Brasília antes de sua primeira remoção ao exterior. Ao chegar seu momento de ser promovido de Terceiro a Segundo-Secretário, bastará ter o tempo de carreira necessário, pois essa promoção é por antiguidade e não exige tempo de exterior. Mas seus colegas de turma que saíram, por exemplo, com 3 ou 4 anos de SERE, já estarão a essa altura no final do segundo posto, caso tenham optado por fazer dois, respeitando o rodízio entre as categorias A, B, C e D.
Com isso, José, que necessitará de 2 anos de exterior para ser promovido de Segundo a Primeiro-Secretário, somente poderá concorrer a essa promoção depois de 12 anos de carreira. Além disso, normalmente os promovidos estão trabalhando em Brasília, pois quem está no Brasil trabalha mais e ganha menos (a remuneração é em real) e, portanto, necessita ser recompensado.
Assim, José, se for fazer dois postos – e o ideal é que faça, já que depois, para ser promovido de Primeiro-Secretário a Conselheiro, necessitará de 5 anos de exterior –, no fundo só será um candidato forte à promoção após seu retorno a Brasília, quando já terá 16 anos de carreira. A essa altura, seus colegas de turma já disputarão a classe de Conselheiro, enquanto ele estiver disputando acesso à classe de Primeiro-Secretário.
O inverso também é verdadeiro. Se José optar por sair cedo ao exterior e lá permanecer 10 anos (tempo máximo de permanência, desde que faça ao menos 3 postos e um deles seja das categorias C ou D), certamente ganhará mais dinheiro do que os colegas de turma que optarem por ficar menos tempo no exterior, pois será remunerado em dólar durante um período maior, porém no exterior provavelmente não conseguirá ser promovido, enquanto os que estiverem em Brasília sim.
E assim seguirá a dinâmica da carreira diplomática para José até que chegue à classe de Ministro de Primeira Classe, mais conhecida como Embaixador. Se seguir os prazos regulares, seu fluxo será o mesmo da maioria. Se optar pela permanência no Brasil ou no exterior por períodos maiores, atrasará sua carreira, mas não será obrigado nem a sair, nem a voltar, enquanto estiver no tempo de permanência permitido em cada posto.
Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico
Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +
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