Chamado por muitos de educação banqueira, o investimento na educação feito através de agentes privados ligados à economia, que se trata de instituições financeiras, empresas, fundações e instituições filantrópicas, geralmente financiadas pelo deslocamento de impostos de grandes corporações, geraram maior alarde na educação brasileira influenciando a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no ano de 2017. Neste aspecto, são colocados como “parceiros” pelos agentes públicos interessados na colaboração da BNCC.
Ocorreram inúmeros encontros nacionais e internacionais, em que se discutiram questões amplas e específicas das políticas educacionais antes da apresentação da primeira versão BNCC pelo Ministério da Educação (MEC). Algumas vezes financiados pelas grandes fundações, os encontros reuniam agentes privados e públicos como MEC, Conselho Nacional de Educação, Conselho Nacional de Secretários de Educação e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação.
Uma das instituições que se dedicou à construção do texto final da Base Nacional Comum Curricular em 2016, a Fundação Lemann, criada em 2002, que investe em projetos ligados à educação financiados com recursos da família do empresário brasileiro João Paulo Lemann, com foco na melhoria da aprendizagem de todos os alunos da rede pública da Educação Básica. De acordo com seu relatório deste ano de construção do projeto da BNCC, a instituição ajudou a articular o trabalho de 78 pessoas e organizações que se uniram para aprimorá-la.
A questão que instiga muitos, é o interesse de tais instituições privadas na educação pública brasileira. Estas empresas querem inserir na educação pública, uma lógica empresarial atual, de forma contemporânea, com a finalidade de tornar a escola como empresa, logo como em qualquer empresa, os resultados deverão ser medidos. Em outras palavras, esses grandes grupos econômicos desejam implantar na educação pública uma ideologia de produtividade e controle.
Podendo ser altamente prejudicial para a educação, incorporar uma lógica empresarial, que não considera os aspectos que não podem ser medidos, e dá apenas importância aos resultados obtidos, apesar das avaliações e objetivos serem de grande importância à educação em geral. Com a importância de resultados, trazendo por consequência a competitividade podem acabar passando por cima do que verdadeiramente é importante no ensino e nos processos de aprendizagem.
À “educação bancária” apontada por Paulo Freire – como uma atitude autoritária em relação aos alunos –, acrescenta-se, para os críticos desta junção entre educação e instituições financeiras, mais uma forma a ser combatida: a “educação banqueira”, na qual o capital financeiro encontra mais uma de suas formas de expressão.
Adverso ao julgamento negativo no qual é colocado o interesse das instituições na educação, há o pensamento de que as empresas investem pesado na educação por verem nesse segmento a chance de gerar transformações mais profundas e de longo prazo. Há, também, o consenso de que a educação é um problema histórico do país, e a mudança desse paradigma passa por boas ações e um esforço coletivo, unindo recursos públicos e privados.
Nos últimos anos, no entanto, o que tem sido observado nas pesquisas de investimento social privado é um alinhamento maior dos projetos corporativos com as políticas públicas de educação, mostrando que esta parceria entre agentes privados e públicos, apresenta certa importância para o desenvolvimento da educação no âmbito público, por conta dos investimentos e injeção de capital na educação.