Boi a gente segura é pelo chifre. Isso é algo que minha mãe me fala desde que eu era criança. O que ela queria dizer é que os problemas devem ser enfrentados de frente, com coragem e bravura. É com esse ensinamento que encaro todos os desafios que surgem em minha vida.
No que se refere a concursos públicos, 3 desafios marcaram bastante minha trajetória. Destacarei abaixo como foram essas 3 batalhas.
A primeira delas foi o concurso da Polícia Federal. Em 2004, faltando um semestre para eu me formar em Engenharia de Redes na UnB, decidi estudar para perito da Polícia Federal, um concurso que estava prestes a sair. Estudei uns cinco meses para perito, mas, como eu não gostava, e continuo não gostando, da área de informática, decidi mudar o foco e estudar para agente/escrivão da PF para poder ter base para outros concursos, caso eu não viesse a ser aprovado. Depois de um mês dessa decisão, em julho de 2004, o edital foi publicado com mais de 1.200 vagas só para agente! Hoje em dia é praticamente impossível ver um concurso com tantas vagas assim. No início de outubro, fiz a prova e, apesar de almejar a vaga para escrivão, acabei sendo aprovado entre os 150 primeiros para o cargo de agente da Polícia Federal. Nesse primeiro concurso, aprendi que as coisas nem sempre acontecem do jeito que nós queremos. Porém, hoje vejo que foi o melhor para mim, pois algumas oportunidades não teriam aparecido caso eu fosse escrivão. Sou muito grato pela experiência de ter passado pela Federal. Há coisas de lá que carrego até hoje comigo. Infelizmente, uma delas não foi minha Glock 9mm.
No início de 2009, comecei a estudar para o TCU. Essa Corte de Contas ainda estava preenchendo as 600 vagas criadas, se não me engano, em 2006. Ele pretendia realizar certames com 100 vagas por ano. O concurso daquele ano seria o quarto dessa série, então, se eu não passasse, eu ainda teria mais uma chance no ano seguinte. Todos estavam esperando um concurso para a área de auditoria governamental. Entretanto, em maio de 2009, o edital foi publicado e, para a surpresa geral, TODAS as 88 vagas do concurso eram para a área auditoria de obras públicas, ou seja, as matérias eram voltadas para quem tinha formação em engenharia civil. Quem estava estudando tinha duas opções: se preparar para técnico ou mudar completamente os estudos e encarar as matérias de engenharia civil. Optei pelo segundo caminho. Historicamente, as provas em si do TCU sempre foram muito difíceis e desgastantes. Para vocês terem uma ideia, elas eram realizadas em dois dias. No primeiro, eram 4 horas para fazer 100 questões objetivas e duas questões discursivas de 20 linhas. No segundo, eram 5 horas, para fazer 100 questões objetivas, uma questão discursiva de 20 linhas e uma peça técnica de 50 linhas. Fiz a prova e, quando saiu o resultado preliminar, eu tinha nota na prova objetiva para ficar entre os 40 primeiros colocados, porém minha nota na discursiva me puxou para a posição, mais ou menos, 150. Eles chamaram 90 pessoas. Lição dessa prova: não podemos negligenciar nenhum detalhe na nossa preparação. Um erro estratégico pode te colocar para fora do concurso. Por isso, cuido de todos os detalhes na preparação dos meus alunos: balanceio corretamente as horas estudadas em cada matéria; imprimo uma rotina de revisão de matérias estudadas recentemente e de matéria estudada há mais tempo; programo a realização de muitos, muitos simulados; e assim vai.
Em janeiro de 2010, encarei meu segundo desafio: o Banco Central do Brasil (Bacen). Apesar de não ter estudado muito para esse concurso, acabei sendo aprovado para o cargo de analista. Foi aí que me dei conta do quão estratégico é estudar para concursos de tribunais de contas. Essa preparação abre um leque muito grande de opções, pois se adquire uma base muito boa para qualquer outro concurso. Converse com quem já passou no Bacen, na CGU, CVM, Susep, MPOG, ou qualquer outro cargo do ciclo de gestão, analista judiciário ou legislativo ou mesmo consultor legislativo. Vocês verão que 90% deles já se prepararam para o concurso do TCU.
Eu estava muito bem no Banco Central. O salário era excelente, o clima organizacional dessa autarquia é muito bom, o plano de saúde é maravilhoso, porém eu tinha um caso de amor mal resolvido com o TCU. Sabe aquela história de quanto mais você apanha, mais você gosta? Eu sou a prova viva disso. Mesmo trabalhando em um órgão de ponta, continuei a minha saga rumo ao TCU.
Fiz o concurso de 2011 novamente para obras, porém não tive nem a redação corrigida.
Até que veio o concurso de 2013! O concurso seria muito difícil, pois os bons tempos de 100 vagas por edital já não existiam mais. Vieram somente 29 vagas! Com uma bagagem de quase 10 de concurso. Eu sabia o que tinha que ser feito. Nós temos cinco áreas de nossas vidas que temos que administrar para alcançar o sucesso em nossos projetos. São elas: a intelectual, a física, a emocional, a espiritual e a financeira. Quem fala que se preparar para concurso é só sentar a bunda na cadeira e estudar está completamente errado. Fazendo isso, a pessoa estará potencializando somente o intelecto, mas negligenciado todas as outras áreas. Pois bem. Veio o dia da prova. Foi o concurso mais desgastante que eu já tinha prestado até então. O TCU tinha alterado a configuração da prova e a colado para ser feita em um só dia, sendo a primeira na parte da manhã (4,5 horas para fazer 100 questões objetivas e uma questão dissertativa de 50 linhas), e a segunda no período da tarde (5 horas para fazer 100 questões objetivas, uma questão discursiva de 20 linhas e um parecer de 50 linhas). A primeira começou às 8h, e a segunda às 15h. Como de costume, fui o último a sair da sala. Depois de 9 horas e 30 minutos de prova, eu estava exaurido. Vou ser franco com vocês, quase eu largo tudo no meio da tarde. Eu estava muito cansado, os últimos dias tinham sido muito desgastantes, eu já era analista do Bacen, ganhava bem… Não vou negar, eu quase largo tudo mesmo! Mas algo me fez ficar naquele dia e ir até o fim. Não sei o que foi, mas eu fiquei, porém estava certo de que não tinha nenhuma chance de passar.
Quando liberaram o gabarito preliminar, eu tinha tirado 109 pontos. Pelos rankings que eu acompanhei, confirmei que eu não tinha nenhuma chance. Eu tinha duas amigas que tinham ido melhor que eu na prova. Uma tinha tirado 115, e outra 111. Elas ainda tinham esperança de passar. Quando saiu o resultado final da prova objetiva, para minha surpresa, eu tinha conseguido os 7 pontinhos necessários para ter a redação corrigida. Eu tinha tirado 116! Ou seja, com a mudança de gabarito, eu estava entre os 56 colocados. Com a prova discursiva, fiquei nessa mesma posição, isso mesmo, a última! Infelizmente aquelas minhas duas amigas não conseguiram passar nesse concurso. Tirei uma outra grande lição desse concurso: quando chegar o seu dia, você vai passar. Até lá, dê o seu melhor, lute contra a procrastinação e todas as tentações diárias para estudar, pois quem se dedica consegue passar. Às vezes, não é quando queremos, mas a aprovação, se você fizer por onde, um dia chegará.
Por isso, escolha o boi que quer encarar, escolha as armas e as ferramentas certas para enfrentá-lo e não ser pego de surpresa. Para evitar deslizes, leia livros ou materiais que ensinem a como se preparar para concursos públicos, converse com quem já passou, sugue o máximo que puder dessas pessoas. Contrate um coach se for necessário! Essas pessoas podem te ajudar a economizar alguns anos de dedicação e abdicações. É aquela história: dê subsídios para a sorte acontecer em sua vida. Só tenha uma coisa em mente: segure esse boi pelo chifre!
Rodrigo Lima
Auditor do TCU (2014-Atual), coach de concursos (2013-Atual), analista do Bacen (2010-2014), agente de polícia federal (2005-2010). Pós-graduado em direito civil (2011-2012); OAB/DF – 2010, Direito/Unieuro (2004-2010) e Engenharia de redes/UnB (1999-2004).
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