Quando está no Brasil, o diplomata é um funcionário público como outro qualquer, e a família, portanto, segue rotina normal de estudos e trabalho. No meu caso, por exemplo, minha esposa é psicóloga especialista em análise do comportamento e atende em consultório próprio crianças e adolescentes. Tenho dois filhos que frequentam escola em Brasília.
Ao ser removido ao exterior, no entanto, a vida se transforma, especialmente para os familiares. Para o diplomata, pouca coisa muda. Continuamos a conversar com os colegas de Embaixada, Missão junto a Organismo Internacional ou Consulado em português. Em geral, quando temos mais tempo de carreira, ao chegar a um posto, já conhecemos boa parte dos membros do serviço exterior que ali estão. Outras vezes, quando se repete um destino onde já se serviu, até os funcionários contratados locais são conhecidos.
O trabalho também é similar em nosso país ou fora. Enquanto em Brasília a Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE) define como será executada a política externa brasileira sob a orientação do Presidente da República, no exterior, são cumpridas as instruções que chegam da Capital Federal. A frequente troca de lado, porém, muda pouco nosso dia a dia.
Mas, para a família, a situação é bem diferente. Parceiros, filhos e outros dependentes que acompanham a(o) diplomata vivem a vida no exterior com maior intensidade e interagem mais com a sociedade local. São eles que frequentam escolas, fazem compras em supermercados com mais frequência e estão em casa quando aparece alguém para fazer um conserto ou entregar alguma correspondência. Em alguns países, é possível que os dependentes tirem licença de trabalho, mas, além de ser exceção, normalmente desempenham tarefas distintas de suas profissões no Brasil.
Quanto aos filhos, a necessidade de adaptação é ainda maior. Em alguns poucos destinos é possível frequentar escolas locais, às vezes públicas e de qualidade, como em muitas cidades europeias e norte-americanas. Em geral, no entanto, a opção disponível é a das escolas internacionais, normalmente em língua inglesa ou francesa. É por isso que, ao voltar ao Brasil, muitos optam por matriculá-los também em escolas internacionais em Brasília, para manter o currículo que seguiam no exterior.
Além da dificuldade da língua, há o problema do custo elevado. Não foi possível ainda, mesmo sendo uma reivindicação bem antiga dos diplomatas, viabilizar o chamado auxílio-educação no exterior. Assim, ao optar por escolas internacionais, que são privadas, é preciso desembolsar considerável quantia de mensalidade, o que muitas vezes influencia na decisão de remoção para os que têm filhos em idade escolar. Em alguns casos, quando são muitos os dependentes nessa situação, alguns postos de língua de difícil aprendizado, como China e Japão, tornam-se inviáveis opções.
Ao chegar até este parágrafo, você pode estar desanimada(o) achando que a carreira diplomática seria uma opção ruim por prejudicar sua família. O saldo, porém, é muito positivo. Volto a meu caso para exemplificar o que digo. Vivi com minha família em Buenos Aires e Washington. Ainda que fossem dois locais de fácil adaptação, minha família teve dificuldades. Partiu meu coração quando tirei meus filhos das escolas em que estudavam.
Mas, se perguntar a eles hoje o que acharam da experiência, todos dirão que adoraram e repetiriam a experiência. Minha filha saiu da Argentina falando espanhol como um portenho (meu filho ainda era muito pequeno). Os dois deixaram os EUA alfabetizados em inglês, idioma que dominam como nativos.
Costumo brincar que viver no exterior é muito difícil, mas ter vivido é maravilhoso, inclusive para as famílias. Não se faz omeletes sem quebrar ovos. O sacrifício, no final, vale muito a pena.
Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico
Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +
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