Tábata deixou a escola aos 17 anos durante a primeira gravidez. Depois do nascimento da filha, decidiu que iria se dedicar à maternidade. Durante os anos que esteve longe dos estudos, teve outros dois filhos e achou que estudar era uma realidade distante. Apenas com a oitava série, ela conta que foi a própria filha e o marido que a incentivaram a tentar voltar.
“Eu via os dois na faculdade e sentia que eu estava cada vez mais distante deles. Achava que seria impossível alcançá-los, até que meu marido fez a surpresa de me inscrever para o curso da Educação para Jovens e Adultos (EJA) para eu terminar o ensino médio”, disse.
Conseguir o diploma parecia o primeiro desafio. Em sua época, os alunos usavam livros e tudo era na ponta da caneta. Hoje, com a revolução tecnológica, os livros podem ser substituídos por pen-drives e o acesso ao conteúdo está na ponta dos dedos, com o uso dos smartphones e tablets.
“Voltar a estudar já era uma coisa nova para a minha rotina, com tantas mudanças na educação, foi tudo muito novo para mim. Eu mantive a força de vontade e acabei conseguindo”, disse. Em um ano e meio ela conseguiu terminar o ensino fundamental e o 1º ano do ensino médio.
O caminho para o sonho estava próximo, mas ainda faltavam várias etapas até que chegasse à graduação. Poucos sabem, mas o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) além de ser uma prova unificada para o acesso à universidades públicas e programas sociais, é também usado para a conclusão do ensino médio para aqueles que pararam os estudos. Segundo o Ministério da Educação, é preciso atingir pontuação mínima – 400 pontos em cada uma das áreas avaliadas e 500 na redação- para ter direito ao certificado. A aluna conseguiu 560 pontos no exame.
Sonho de família – O direito não era apenas um sonho de Tábata, mas da família. O marido, Luiz dos Santos Ribeiro, também decidiu deixar o medo de lado e se aventurou a tentar a primeira graduação depois de anos longe dos estudos. Funcionário do fórum de Caçapava, ele começou como entregador e hoje atua no administrativo do órgão.
“Eu me vi tentando e queria que ela fizesse o mesmo. Sabia que ela conseguiria pela mulher forte, comunicativa e esforçada que é. Era o sonho dela e queria que conquistássemos juntos” conta. Luiz hoje cursa o 2º ano de direito, e tem como colega de sala a filha do casal, hoje com 19 anos.
Fazer o Enem foi o primeiro passo, mas com tantos anos fora da sala de aula, a confiança de Tábata foi posta à prova quando decidiu fazer o vestibular. “Eu fiz, mas não acreditava que conseguiria. Tentei para saber como era”. Ao saber que passou, não pode conter as lágrimas.
Tábata teve a primeira aula na universidade nesta semana e planeja, junto com o marido e a filha, montarem um escritório de advocacia.
“Aprendi que nunca é tarde para tentar e só existem obstáculos se nós os fortalecermos. Sei que ainda tenho uma trajetória pela frente e que vai ser difícil, mas hoje sei que sou capaz”.
Fonte: G1
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