[Artigo do jornal The Guardian, reproduzido pelo site Espaço Vital – tradução Dionísio Birnfeld]
A melhor coisa de ser advogada autônoma é que você é sua própria chefe. Até ficar grávida. Aí a coisa complica. Sem benefícios legais da maternidade e uma equipe para absorver a ausência no trabalho.
E depois há que retornar ao labor. Ao invés de retornar com os mesmos ganhos financeiros como as trabalhadoras empregadas, você volta a nada mais do que uma carteira devastada, tendo que juntar cacos e recomeçar lembrando ao mundo que você está à disposição e competindo com outros profissionais.
Exceto, claro, que algo tenha mudado e você não tenha mais a mesma vontade de pegar no batente, debruçando-se sobre o trabalho até a meia-noite, todos os dias.
Eu nunca planejei nada além da minha vida profissional cotidiana zero de gravidez, zero de parto, zero de maternidade. Nunca imaginei ser mãe solteira aos 39 anos nem a única provedora da família. Mas queria ser mãe e deixar de trabalhar um mês antes do parto, estando preparada financeiramente para isso.
Mas isso não aconteceu. Estive trabalhando em casos judiciais urgentes até o momento em que a bolsa se rompeu.
Internada no hospital, meu filho nasceu uma semana depois, prematuro, tão pequeno e tão doce…Não deu nem para passear e ir às compras de roupinhas e aproveitar o sol.
Os primeiros meses foram preenchidos com as habituais poucas horas de sono, choros de cólicas e uma overdose de informações conflitantes sobre como criar meu filho. Assim que a vida ficou mais tranqüila e meu bebê se tornou mais interativo, entrei em pânico sobre dinheiro e carreira. Convencida por uma amiga e uma vizinha que também tiveram bebês, passei a dividir com elas uma babá e voltei a trabalhar.
Meu filho tinha sete meses e meio e ainda não dormia a noite toda. Depois do susto de passar a caminhar sem meu bebê no colo e de acudi-lo a todo momento podendo finalmente sorver um cappuccino inteiro antes que esfriasse sentei-me à mesa de trabalho, exausta e pensando por onde recomeçar.
Depois de 13 anos de advocacia criminal, anunciei bravamente aos colegas que também passaria a atuar no cível e no administrativo, já que precisava atuar mais no papel e menos nos júris, pois que não podia mais fazer as viagens necessárias na defesa de meus clientes réus.
Não preciso dizer que foi desmoralizante e um verdadeiro esforço ter que me reinventar profissionalmente. E mal ganhava o suficiente para pagar a babá.
Passado um ano desde a volta ao trabalho, já estou numa situação melhor. Meu filho está numa creche em tempo integral (caríssima, mas ele é feliz lá…) e estou prestes a completer a transição profissional que eu desejava. Mas, e este é um grande “mas”, eu estou de fora de várias reuniões decisivas no escritório onde hoje trabalho, por causa dos horários (as reuniões são nos domingos às 17h30) e longe de um maior convívio com outros advogados.
A creche fecha às 18h30. Minha mãe e minha irmã moram em outro país, então, não podem ajudar. Todos os dias chego esbaforida na creche, que me multa em 15 libras por chegar cinco minutos atrasada para buscar meu pimpolho. Sempre, meu coração se aperta e bate rápido quando meu filho está doente e eu estou no meio de um julgamento ou audiência. Ou quando um juiz decide se atrasar e eu estou numa extremidade de Londres que não é bem aquela em que eu deveria estar…
Meu conselho a outras gestantes advogadas. Achem um parceiro, se já não tiverem um (ou assegurem-se de que sua mãe ou outro parente more perto), verifiquem se o escritório dá alguma ajuda a quem vai ser mãe, peçam seus benefícios legais, tirem um ano para cudiar do bebê, encontrem um lugar que cuide bem do seu filho (de preferência uma babá em tempo integral).
E não sintam medo de dizer aos juízes (se trabalharam na corte), ou ao titular do escritório, que vocês tem que ir embora buscar seu filhinho.
Nunca encontrei outra mãe solteira no bar (mas já encontrei aquelas que se separaram dos companheiros e continuam dividindo despesas). Com certeza há uma razão para isso.
Fonte: Conjur
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