Como fui parar em Buenos Aires?

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A pedido de uma leitora de nosso blog, hoje tratarei da experiência profissional que vivi na cidade de Buenos Aires, onde servi em nossa Embaixada no período de 2004 a 2007, mas também sobre como tive a sorte de ter esse posto como destino.

Brasemb Buenos Aires[1], assim é conhecida internamente no Itamaraty a Embaixada do Brasil na capital argentina. Ela é considerada um dos principais postos da carreira diplomática, certamente entre os cinco primeiros. Atualmente, sua classificação é A, e a remoção para lá é tão disputada quanto nossas representações em países bem mais desenvolvidos, como EUA, França, Inglaterra ou Espanha, ou mesmo nas missões brasileiras junto a importantes organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra.

Quando servi em Brasemb Buenos Aires, havia ainda um fator que tornava o posto ainda mais disputado: sua classificação era B[2]. Com isso, era possível, em uma mesma movimentação no exterior, sem necessidade de retorno a Brasília, ir para ou de Buenos Aires para outro posto de categoria A. Assim ocorreu comigo, inclusive. Quando eu saí de lá, em 2007, pude ser removido para a Embaixada do Brasil em Washington, EUA, essa, sim, sempre classificada como A[3].

Exatamente por ser um destino muito disputado, e mais ainda era na época, não saí do Instituto Rio Branco (IRBr) com Buenos Aires entre meus planos de remoção. Tencionava entrar na disputa por postos menos concorridos, depois de um período de quatro anos após a conclusão do Curso de Formação do IRBr. Esse é normalmente o tempo que os Terceiros-Secretários esperam antes de pleitear remoção para postos A. O acaso, no entanto, acabou me levando para lá sem que eu planejasse.

Ao concluir meu Curso de Formação, fui convidado a trabalhar no próprio Instituto Rio Branco, onde assumi o cargo de Chefe da Secretaria[4]. Na época, o Secretário-Geral das Relações Exteriores era o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que tinha predileção por dois assuntos que considerava prioritários: a formação dos diplomatas e as relações do Brasil com a Argentina. Nesse contexto, queria investir na formação de colegas para virarem professores do IRBr. Como o curso à época era um mestrado, os professores precisavam ser doutores. Foi assim que me foi oferecida a oportunidade de remoção para Buenos Aires, onde, além de trabalhar na Embaixada, eu iria cursar doutorado para posteriormente estar à disposição do Instituto como professor.

Assim, passei meu período de três anos na capital argentina entre o curso de doutorado em direito internacional na Universidade de Buenos Aires (UBA) e o trabalho na Embaixada, onde servi no setor político. Poucos postos, e talvez nenhum como Brasemb Buenos Aires, reúnem as qualidades de estarem em um país cuja parceria seja prioritária para o Brasil e vice-versa.

Além disso, os diplomatas brincamos que, ao escolher uma remoção, precisamos estar atentos a três “Cs”: chefia, clima e câmbio. O Embaixador à época era Mauro Vieira, um dos melhores quadros da carreira, atualmente Embaixador do Brasil junto às Nações Unidas e ex-Chanceler do Governo Dilma Rousseff. O clima da cidade é um dos melhores entre os postos A, menos frio que a grande maioria. E o câmbio não costuma ser muito favorável, mas eu tive a sorte de viver em um período imediatamente posterior à desvalorização do peso argentino, o que me permitiu ter excelente poder de compra local.

Nem precisaria dizer, portanto, que minha experiência no posto foi a melhor possível, e tanto eu como minha família toparíamos voltar para lá a qualquer novo momento da carreira. Ao chegar seu momento, recomendo fortemente considerar Buenos Aires como uma de suas principais opções de destino para remoção.

[1]                     Em Buenos Aires, há dois postos da carreira diplomática: a Embaixada (Brasemb) e o Consulado-Geral (Consbras). Na Argentina, há ainda Consbras em Córdoba e Mendoza e dois Vice-Consulados de fronteira, em Paso de Los Libres e Puerto Iguazu.

[2]                     A classificação dos postos muda frequentemente, de acordo com a política de movimentação de pessoal do Ministério e das condições de vida nas cidades. Tradicionalmente, tanto a Embaixada como o Consulado-Geral em Buenos Aires são classificados como A, mas houve alguns poucos períodos, como em 2004, que eram classificados como B.

[3]                     A classificação de Buenos Aires mudou de B para A em 2005, enquanto eu ainda servia lá, mas de acordo com as regras de remoção do Itamaraty, vale a classificação no momento da chegada.

[4]                     Curiosidade: a Chefia da Secretaria do IRBr não é a lotação dos sonhos de nenhum diplomata, mas para me inspirar eu tinha em minha sala pendurada na parede cópia da portaria de lotação de um ilustre diplomata que havia ocupado a mesma função décadas antes: Guimarães Rosa.

 

Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico

Jean MarcelNomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +


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