Olá pessoal! Tudo bem? Sou a professora Débora Juliani, farmacêutica, especialista em Análises Clínicas e faço parte da equipe do Gran Cursos Saúde e não, eu não errei no título deste artigo, eu realmente vou falar sobre os vampiros…
No último dia 31 de outubro celebrou-se o Dia das Bruxas ou Halloween e inspirada nesta data, resolvi trazer para vocês um mito muito antigo, cuja explicação está nas Análises Clínicas: o mito do vampirismo.
Por muito tempo na história da humanidade, tudo aquilo que não era bem entendido acabava ganhando uma explicação recheada de mistérios. Infelizmente, isso acontecia também com doenças que não apresentavam cura.
A lenda do vampirismo, por exemplo, teve início, na Idade Média, em comunidades isoladas no território da atual República Tcheca. Nestas comunidades era frequente a reprodução consanguínea (entre indivíduos pertencentes a uma mesma família), o que favorecia a falta de diversidade genética nos filhos e levava a um aumento na prevalência local de determinadas doenças.
Entre elas, está a porfiria (do grego porphiros, que significa púrpura), uma doença genética (autossômica recessiva) que afeta enzimas específicas da via de biossíntese do grupo heme que compõe a molécula de hemoglobina. Para ser mais específica, nos portadores de porfiria, não ocorre a ligação entre o anel porfirínico ao ferro para formar a hemoglobina.
Mas vou fazer uma pausa para um comentário importante: não há qualquer registro de que um portador de porfiria tenha atacado uma pessoa, muito menos se interessado pelo sangue humano, ok? Tudo tem explicação bioquímica mesmo!
Dito isso, vamos continuar, pois é importante que você entenda que os anéis de porfirina sem o átomo de ferro central não conseguem desempenhar a sua tarefa de transporte de O2 e se depositam no tecido subcutâneo, ossos e dentes. Porém, sob a exposição à luz solar, liberam radicais de oxigênio, que são lesivos para a pele e podem provocar queimaduras. Daí surgiu o mito de que os vampiros teriam aversão à luz solar.
Mas não é só isso: a deposição dos anéis defeituosos nos ossos e dentes podem causar desfigurações na face, levando ao surgimento, por exemplo, de gengivas retraídas e avermelhadas, que revelam dentes com aspecto maior do que verdadeiramente são e semelhantes a presas. Logo, vieram outras características dos supostos vampiros: os enormes caninos e o comportamento noturno e sombrio, que se relaciona com o fato de as pessoas acometidas viverem isoladas, por vergonha da própria aparência.
Como se não bastasse, devido à deficiência do grupo heme que compõe a molécula de hemoglobina, os indivíduos acometidos têm menor produção de hemácias e consequentemente, desenvolvem quadros de anemia e palidez cutânea. Este fato contribuiu para o mito do desejo de sangue na lenda dos vampiros pois, na tentativa de tratar os indivíduos com porfiria, era comum o abate de animais para a ingestão de sangue, entendido, na época, como a “energia vital”.
Para finalizar, é interessante acrescentar ainda que o distúrbio na síntese do grupo heme leva ao acúmulo sanguíneo de ácido delta-aminolevulínico que se deposita no cérebro, gerando sintomas mentais, como irritabilidade, inquietação, insônia, agitação, cansaço e depressão.
O que pensar então de uma pessoa pálida, com medo do sol e com comportamento recluso e depressivo e que ainda por cima bebia sangue? Ora, somando a aparência física e os sintomas, o imaginário popular deu forma aos vampiros!
Mas fica o alerta: se por um lado esses personagens folclóricos são muito curiosos, por outro lado, como portadores de qualquer outra doença, as pessoas com porfiria têm de lidar não apenas com as limitações que uma doença sem cura pode causar, mas também com o preconceito que só aumenta o sofrimento dos doentes. Então vamos usar o conhecimento adquirido como forma de combater o preconceito, ok?
Espero que tenha gostado do conteúdo! Um forte abraço e bons estudos, com a equipe do Gran Cursos Saúde, claro!