Afirmei anteriormente[1] que o principal instrumento de que dispõem os diplomatas é a palavra escrita, especialmente em língua portuguesa. Já os idiomas estrangeiros não considero instrumentos – como o piano utilizado pelo maestro João Carlos Martins para encantar plateias –, mas ferramentas, a exemplo do serrote de que se serve o marceneiro que monta uma mesa.
Utilizo-me dessas imagens para diminuir a importância, no meu entendimento superdimensionada, que se costuma atribuir às línguas estrangeiras na carreira diplomática. Menor ainda é a necessidade do conhecimento de idiomas exóticos. Não estou afirmando que são inúteis, porém o importante é ter por perto quem os domine, não necessariamente um(a) diplomata.
É comum a associação da carreira diplomática com a necessidade do domínio de idiomas estrangeiras. Costumo deparar-me com bons candidatos ao Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) que se sentem desanimados a encarar o desafio por se acharem pouco fluentes em um ou outro idioma exigido no exame.
De fato, é preciso conhecer bem a língua inglesa para aumentar as chances de aprovação no CACD, porém não há deficiência que não possa ser superada com estudo sério realizado no Brasil (não é essencial ter vivido ou ir estudar em país de idioma inglês). Tampouco o(a) candidato(a) a ser aprovado(a) necessita debruçar-se sobre a obra de Shakespeare ou mesmo ser capaz de ouvir uma canção inédita do Bruno Mars e entender 100% da letra. No caso de francês e espanhol, menos ainda, pois o nível cobrado do Concurso é elementar.
O que dizer, então de línguas consideradas exóticas, ou seja, menos comuns na interlocução diplomática? Fui procurado por um candidato que queria confirmar a informação de que até o Instituto Rio Branco (IRBr) estava cobrando esse estudo no Curso de Formação, aquele a que se submetem os recém-aprovados no CACD. Isso é verdade. Além de estudarem inglês, francês e espanhol, o que já é tradição no IRBr, os alunos-diplomatas agora necessitam optar pelo estudo de um idioma exótico. Entre as opções do momento estão russo, chinês e árabe.
Isso, no entanto, não me faz mudar de opinião. Conheço poucos diplomatas que viveram em países onde se falam essas três línguas “exóticas” supramencionadas e falavam bem os idiomas locais. A maioria estudou, claro, a respectiva língua do país onde viveram, porém poucos se aprofundaram nesse estudo e nem por isso tiveram desempenho profissional inferior ao daqueles poucos que, com mais facilidade e dedicação, sabiam se comunicar melhor no idioma local.
Se um diplomata brasileiro vai negociar algo com um interlocutor checo, a língua de trabalho provavelmente será inglês, ainda que a reunião seja em Praga com um diplomata servindo em nossa Embaixada naquela capital. Será preciso, pois, dominar o conteúdo do assunto a ser discutido, não um idioma (ferramenta para a comunicação) que, mesmo se o brasileiro conhecesse bem, não seria o utilizado em uma reunião formal. Mas para comprar pão de manhã na padaria perto de onde vive, seria conveniente apresentar a frase, ainda que decorada, que permita comunicar-se com o atendente padeiro.
Volto a afirmar, portanto, que é útil, sem dúvida, a um(a) diplomata falar idiomas estrangeiros, devido inclusive à natureza de suas interlocuções, mas seu impecável domínio servirá apenas como um bônus de comunicação facilitada. No caso das línguas exóticas, impressiona encontrar um brasileiro que fale russo, chinês, árabe ou outro algo do tipo, mas a utilidade desse conhecimento costuma restringir-se a usos locais nos países onde esses idiomas são oficiais.
[1] Cf. http://blog.vouserdiplomata.com/escrita-principal-instrumento-dos-diplomatas/
Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico
Nomeado Terceiro-Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006.
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