Olá pessoal! Tudo bem? Sou a professora Débora Juliani, farmacêutica, especialista em Análises Clínicas e faço parte da equipe do Gran Cursos Saúde.
Me desculpe, mas hoje venho te dizer que nem durante as comemorações das festas de fim de ano eu vou deixar você esquecer das Análises Clínicas…
Certamente em nossas aulas de Hematologia você já me ouviu falar que as hemácias são compostas pela proteína hemoglobina (Hb), a qual é responsável pelo transporte de oxigênio para os tecidos do nosso organismo, não é mesmo?
Talvez você também lembre de já ter me ouvido dizer que, uma vez que a Hb é uma proteína, ela possui grupos amino terminais em sua cadeia beta de globina, e estes grupos amino são simplesmente IR-RE-SIS-TÍ-VEIS para as moléculas de glicose que estão em excesso em nossa corrente sanguínea.
Mas aí vem a pergunta: “Professora: o que uma molécula relacionada à Hematologia tem a ver com a glicose, molécula dosada na Bioquímica?”. Tem tudo a ver pois ocorre um processo de ligação irreversível e não enzimático (chamado de glicação) das moléculas de glicose às moléculas de Hb, já que a glicose atravessa facilmente a membrana das hemácias, dando origem à “dedo-duro”, a hemoglobina glicada, também abreviada como HbA1c. Inclusive a amostra utilizada para dosagem da HbA1c é o sangue total e não o soro/plasma!
Mas atenção: até podemos usar outros nomes para descrever esta molécula de Hb ligada à glicose, como por exemplo glicohemoglobina, mas quimicamente falando, o termo “hemoglobina glicosilada” não está correto. Esta expressão tem sido erroneamente utilizada como sinônimo de hemoglobina glicada, já que o processo de“glicosilação”de proteínas envolve uma ligação enzimática e reversível, o que já vimos que não é o caso da HbA1c, não é mesmo?
Voltando à HbA1c, vou te explicar melhor porque ela leva a fama de “dedo-duro”. Lembra que o tempo médio de vida de uma hemácia é de aproximadamente 90-120 dias? Durante este período, ela vai se incorporando à glicose presente no sangue, naquela ligação irreversível que falamos. Isso mesmo, é como se a Hb fosse “tatuada” pela glicose em excesso em nossa corrente sanguínea e esta “tatuagem” só irá desaparecer quando a hemácia completar seu ciclo de vida e for fagocitada pelo sistema retículo endotelial (fígado, baço e medula óssea) para posterior degradação da hemoglobina.
Isso quer dizer que diferentemente da glicemia em jejum (a qual avalia as concentrações de glicose presentes sangue no momento em que foi coletado), a dosagem de HbA1c nos permite avaliar a média da concentração de glicose ao longo dos últimos 90- 120 dias. É por isso que esse exame é muito utilizado para o diagnóstico e monitoramento do Diabetes Mellitus, sendo complementar à glicemia em jejum.
Mas isso também quer dizer que se você “enfiar o pé na jaca” durante as festas de fim de ano e comer todo o estoque de rabanadas da ceia de Natal, por exemplo, só depois do Carnaval é que a “prova do crime” terá sido eliminada do seu organismo… Já pensou?
Brincadeiras à parte, esta característica da HbA1c é muito importante, como dito, para o acompanhamento adequado dos pacientes que de fato precisam controlar a glicemia, os pacientes diabéticos, já que a hiperglicemia prolongada promove, no decorrer dos anos, o desenvolvimento de lesões orgânicas extensas e irreversíveis nestes pacientes, afetando os olhos, os rins, os nervos, os vasos sanguíneos, assim como a coagulação sanguínea.
Logo, o paciente diabético até pode mentir, dizendo que está seguindo a dieta corretamente, mas a Hemoglobina Glicada é quem vai dizer a verdade, pois ela é resultado de meses de glicemia alta e não apenas de um dia esporádico, entendeu?
Atualmente, os métodos mais difundidos no mercado brasileiro para análise de hemoglobina glicada são a imunoturbidimetria, a cromatografia de troca iônica (mais conhecida como high performance liquid chromatography ou HPLC, na língua inglesa), o método enzimático e a eletroforese capilar.
O resultado é expresso em percentual de hemácias ligadas à glicose, e permite calcular a chamada glicose média estimada por meio de uma equação matemática que transforma o valor de HbA1c obtido por algum dos métodos supracitados em concentração de glicose em mg/dL, para facilitar a interpretação. A fórmula é
glicose média estimada (mg/dL) = 28,7 x HbA1c (%) – 46,7
Na prática, os valores normais de referência vão de 4% a 6%. Níveis de HbA1c acima de 7% estão associados a um risco progressivamente maior de complicações crônicas. Por isso, o conceito atual de tratamento do diabetes define a meta de 7% (ou de 6,5%, de acordo com algumas sociedades médicas) como limite superior acima do qual está indicada a revisão do esquema terapêutico hipoglicemiante em vigor.
Conclusão: não exagere na glicose neste fim de ano e, claro, continue a estudar com o time do Gran Cursos Saúde. Temos cursos on line voltados para os editais dos principais concursos e residências do Brasil e estamos prontos para lhe ajudar a conquistar a sua tão sonhada vaga.
Então eu desejo a cada um de vocês um forte abraço, um Natal de muita luz e um próspero Ano Novo! Nos vemos em 2023!