Somos direcionados a seguir o caminho dos concursos públicos por questões peculiares. Devido a diferentes históricos de vida, experiências, princípios e valores, cada indivíduo assume uma rota diversa, mais ou menos tortuosa, porém seguramente trabalhosa. Dessa forma, ao longo da nossa trajetória rumo à Administração Pública, algo vai se tornando claro: para além da escolha de se tornar servidor(a), é preciso definir, crucialmente, o porquê dessa decisão. Nesse sentido, é preciso migrar da relação concurso/ o que ganharei para concurso/porque estudarei.
Escolas atuantes no mercado de coaching exploram, durante a formação de seus futuros coaches, essa decisão com o objetivo de estabelecer uma missão de vida, uma visão de futuro: devemos identificar nossa função no mundo, aquilo de excelência a ser feito por nós, aquilo que promove sentido à nossa existência. Diante dessa perspectiva, caro leitor, pergunte-se: por que me preparo para um certame público? Sem esta resposta, você estará a deriva: qualquer concurso servirá, qualquer resultado estará a contento. Para buscar essas respostas, é que nos deparamos com a Inteligência Emocional (IE).
Segundo essa teoria, essa resposta é possível a partir do amadurecimento da nossa habilidade de autoconhecimento: identificar capacidades e fraquezas, limitações e potencialidades. Dessa forma, se há o desejo de mudança, há a necessidade de se conhecer os pontos a serem melhorados. Do contrário, continuaremos a definir metas atreladas a características negativas, não reconhecidas, muito menos trabalhadas. Qual o resultado disso? Muita iniciativa e pouca “acabativa”. Já iniciou e abandonou, inúmeras vezes, novos projetos? Pensou ou desistiu de concursos a partir de uma reprovação? Assim, antes de ingressar na jornada do concurso público, ou se está nela, questione-se: o que pretendo ser/fazer neste mundo, qual a minha vocação?
No ambiente corporativo, educacional, de interações sociais, nos contextos coletivos da atualidade, em concursos públicos, a IE tem despontado como competência diferencial. Daniel Goleman (1995), alcunhado “pai” da IE, postulou a existência de 24 habilidades emocionais. O autor as dividiu entre duas inteligências – a intrapessoal e a interpessoal. Em âmbito intrapessoal, há três blocos de habilidades: autoconsciência, automotivação e controle emocional. No aspecto interpessoal, existem dois: consciência do outro e habilidades sociais. Por meio do quadro sinótico abaixo é possível visualizar a distribuição das habilidades, dentro de cada um dos blocos.
Entre as habilidades constantes no bloco de inteligência intrapessoal, Goleman (1995) cita, por exemplo, a “automotivação”, que diz respeito à capacidade de se canalizar energia para o alcance de objetivos previamente estabelecidos; a “orientação para a realização”, que se refere à habilidade de ser movido para a concretização de objetivos; o “engajamento”, concernente à dedicação para se atingir a meta; a “iniciativa”, segundo a qual é possível tomar atitudes espontaneamente e prontamente; e, por fim, o “otimismo”: acreditar que o melhor acontecerá.
No tocante à inteligência interpessoal, importante mencionar a “consciência do outro”, que nos apresenta habilidades direcionadas à compreensão e ao desenvolvimento do outro; a “empatia”, segundo a qual é possível dar atenção individualizada às pessoas; o “desenvolvimento de pessoas”, que se refere à facilitação para o aumento das habilidades dos outros e, por fim, a “orientação para o serviço”, que nos direciona a proporcionar a satisfação das pessoas.
Diante desse constructo teórico, perguntamos: qual a relação desses blocos de habilidades com o estudo para concurso público? Ora, o desenvolvimento da IE para concursos nos auxilia a lidar com os percalços — inevitáveis — até a sonhada aprovação.
Comumente, a trajetória de estudos para concursos é recheada de dificuldades, entre elas, as temidas reprovações. Nesse sentido, a IE pode responder a essas situações de desafio com efetividade. Pode-se passar por todos esses percalços sozinho(a) ou ter o suporte de uma rede de pessoas que passam pelas mesmas dificuldades. Perceber o outro, preocupar-se com ele, ajudá-lo a compreender uma matéria, compartilhar um material é propagar o bem. Gentileza gera gentileza. Aprovação atrai aprovação – sua rede se desenvolve, você se desenvolve.
Reprovei, e agora?
Ter uma missão de vida e visão de futuro, claras, bem definidas, faz-nos enxergar as frustrações como aprendizado, não como derrota. Uma reprovação passa a ser vista como elemento necessário à aprovação. É possível afirmar, por experiência, que a espera do gabarito preliminar gera ansiedade. Corrigir a prova e perceber um desempenho fraco, não condizente com o exigido pelo certame, faz nossa moral baixar um bocado. Entretanto, com uma missão e visão bem definidas e a habilidade de automotivação desenvolvida, seu luto não passará para a semana seguinte. Na verdade, passada a tristeza, você entrará novamente em ação. Ciente, ainda, sobre o fato de, na próxima prova, surgirem “magicamente” questões marcadas erradamente em exames anteriores, as quais, dessa vez, se acertará!
Mas como desenvolver a IE, estabelecer missão de vida e visão de futuro?
Nossas experiências pessoais/profissionais são fonte de aprendizagem emocional. A depender do momento, circunstâncias e características peculiares de cada pessoa, os treinamentos e as ações educacionais podem ser um recurso. É possível, ainda, ser assessorado por um profissional de coaching. Adicionalmente, alguns precisarão de atividades terapêuticas ou do auxílio, por exemplo, de profissionais da psicologia.
Sendo possível, é preciso, inicialmente, reconhecer a existência das 24 habilidades, realizar uma auto (individual) e hetero (coletiva) avaliação de quais existem, inexistem ou estão subdesenvolvidas em nosso comportamento. A partir disso, devemos nos permitir a experimentação com o novo, nos enxergar sob outro ponto de vista e nos possibilitar mudanças.
Para finalizar, por ser coach — e não poderia ser diferente —, proponho uma tarefa: escreva uma carta para você mesmo. Para isso, utilize o FutureMe (https://www.futureme.org/). No tempo estabelecido por você (um, três ou cinco anos), o sítio enviará a carta para seu email. Vamos fazer um compromisso? Quando ela chegar, compartilhe comigo suas percepções. Estamos juntos!
Bons estudos, boa prova e boa posse!
Referência:
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. 82ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
Glauber Marinho
Atualmente, Analista Judiciário – Pedagogia no TJDFT. Aprovado em diversos concursos, como: Fuzileiros Navais, Policia Militar do Distrito Federal, Técnico Judiciário – Segurança e Transporte no TJDFT , Secretaria de Educação do Distrito Federal – Atividades( 7ª posição) e Analista Judiciário – Pedagogia no TJDFT( 1º colocado no certame). Formação em Life e Professional Coaching, Analista Educacional e Analista Comportamental.
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