Dos assuntos mais cobiçados entre os novos integrantes da carreira diplomática, estão os de natureza política. Em teoria, todo tema que envolve o relacionamento entre os governos, é político. Mas a chamada Área Política do Itamaraty diz respeito, especialmente, ao acompanhamento das questões de política interna, quando se serve no exterior; e os de externa, no Brasil. Comecemos pelo exterior.
Quando um diplomata serve em um setor político de uma embaixada brasileira, sua principal função é a de informar[1]. Para tanto, precisa informar-se e, evidentemente, buscar acesso a informações, especialmente as não disponíveis ao público geral.
Costumo comparar um diplomata no exterior a um repórter de campo de futebol. Imagine uma partida de seu time, que você acompanha pela televisão. O jornalista que fica à beira do gramado assiste ao mesmo jogo que todos estão vendo, mas sua posição é privilegiada e, por isso, pode conversar com os jogadores e enxergar e ouvir detalhes que não aparecem na TV.
O mesmo ocorre com o acompanhamento de temas políticos por diplomatas em uma embaixada. Esse profissional acompanha a política local do mesmo modo como qualquer interessado lê as notícias desse país estrangeiro pela imprensa, mas sua experiência, localização e acesso a autoridades governamentais, empresários, acadêmicos, jornalistas etc. o permitem fazer uma avaliação diferenciada, o que é fundamental para a definição da política externa brasileira.
É por isso que o desenvolvimento tecnológico e o avanço das telecomunicações não acabará com a diplomacia como profissão. A Internet facilita o acompanhamento das notícias internacionais, mas a análise diplomática sensível e as informações que mais interessam às chancelarias não estão nos portais de notícias.
Isso não quer dizer que um diplomata no exterior não tenha de ler os jornais de onde viva. Sua primeira responsabilidade é estar bem informado, até para entender o que se passa. Depois, precisa ir atrás de informações complementares ao que leu. Com tal intuito, deve frequentar seminários, ligar para pessoas e ir a eventos sociais, por exemplo.
Muitos imaginam o trabalho de um diplomata fora do Brasil em festas e coquetéis e acham, por isso, que sua vida é divertida e que sua mão esquerda tem formato de “C”, de tanto segurar copos de vinho e uísque. Eu, particularmente, acho essa a pior parte da atividade diplomática. Imagine o que é trabalhar o dia inteiro e à noite ainda ir a um evento social para ficar em pé, conversando sobre trabalho com um desconhecido? Trata-se, portanto, de trabalho, não diversão, mas é essencial para o desempenho da tarefa de informar.
Produzida a informação, que é transmitida pelas embaixadas brasileiras ao Ministério das Relações Exteriores por documentos denominados telegramas[2], as unidades do Itamaraty – responsáveis pelo processamento dessas informações e formulação da política externa brasileira para as relações bilaterais com aquele país – passam a preparar documentos, chamados maços, que servem de subsídios às conversas das autoridades brasileiras, inclusive ao Presidente da República, chefe de nossa diplomacia, com suas contrapartes estrangeiras.
Assim, por exemplo, um diplomata brasileiro lotado no setor político de nossa embaixada em Buenos Aires envia diariamente informações estratégicas ao Itamaraty, em Brasília, as quais são lidas e avaliadas em uma Divisão que cuida de nosso relacionamento político com a Argentina. Os maços, então produzidos, preparam os diplomatas hierarquicamente superiores a dialogarem politicamente com os argentinos, em diversos mecanismos de diálogos temáticos que ajudam a aprofundar o desenvolvimento de temas das relações bilaterais.
Isso é a base para a definição de decisões mais práticas como a negociação de tratados internacionais. Do abstrato, portanto, se vai ao concreto. É assim que a diplomacia afeta a vida das pessoas, mesmo quando trata de questões mais abstratas como os temas políticos.
[1] Essa, aliás, é uma das três principais tarefas de um diplomata, sendo as outras duas representar e negociar. Alguns acrescentam à lista a função de assistir (os brasileiros no exterior), mas, tecnicamente, assistir é trabalho consular, não diplomático, ainda que no caso brasileiro sejam os mesmos profissionais que exercem ambas atribuições.
[2] Os telegramas hoje são uma espécie de e-mails, mas permaneceu a designação dessa forma mais antiga de se comunicar.
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Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico
Nomeado Terceiro Secretário da Carreira de Diplomata, em 14/07/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco, em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires, Setor Político, entre 2004 e 2007. Saiba + AQUI!
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