Recentemente circulou na mídia a notícia do óbito de uma mulher após um transplante de fígado, que se fez necessário por uma hepatite fulminante, que teria sido provocada pelo uso de um produto conhecido como “50 ERVAS EMAGRECEDOR”. Chamou a atenção o fato de entre as muitas ervas citadas no composto, constarem ervas amplamente utilizadas e até mesmo recomendadas por profissionais de saúde, como o chá verde, a carqueja e o hibisco. E agora? Devo parar de consumir chá? Mas não é natural??
Então…pra discutir esse assunto vou focar em uma única erva, a Camellia sinensis. Essa planta é popularmente conhecida como chá verde, chá preto, chá branco, chá oolong, chá vermelho e chá amarelo. Tais denominações dizem respeito a sua forma de processamento e fermentação, mas se trata da mesma planta. O chá da planta Camellia sinensis é altamente consumido no mundo inteiro, sendo a segunda bebida mais consumida, perdendo apenas para a água. É muito conhecido por suas propriedades medicinais, das quais podemos destacar: prevenção de doenças cardiovasculares (pela ação dos flavonóides), melhora da disposição física e mental (rico em cafeína), promoção do bem estar (L-teanina) e diminuição da gordura corporal (ação sinérgica da cafeína com as catequinas). É a bebida preferida dos monges!
Você pode estar se perguntando: como uma planta tão cheia de propriedades benéficas pode ser prejudicial? chá verde é ou não é hepatotóxico? Sim, a camellia sinensis está na lista de plantas com potencial hepatotóxico. A planta é rica em flavonóides, sendo predominante as catequinas. A catequina mais abundante no chá verde é a epigalocatequina galato (EGCG), que apesar de ter grande contribuição terapêutica, o seu consumo em excesso pode estar relacionado à hepatotoxicidade. Sim, a mesma substância que promove benefícios é também responsável pela hepatotoxicidade…..mas, qual seria a diferença? Adivinha….A dose!!
A forma tradicional de preparo do chá verde é a infusão, na qual cerca de 2g das folhas são colocadas em 200 ml de água e abafadas por tempo determinado. Nesse caso, a quantidade de EGCG será inofensiva…a menos que a pessoa tome litros e litros de chá por dia. Situação muito diferente ocorre quando o extrato do chá verde é colocado em cápsulas, sem os devidos estudos que comprovam a segurança da dose utilizada. Como se não bastasse, imagine agora uma formulação onde se tenha esse extrato e mais 49 extratos de ervas diferentes…agora coloque no rótulo a palavra “emagrecedor”. Pronto! O perigo está iminente!
Vale destacar que é vedado pela ANVISA a comercialização de produtos com alegações terapêuticas ou medicamentosas sem que se tenha comprovado eficácia e segurança. Vamos lembrar que chá é alimento e não medicamento, portanto é proibido que em seu rótulo contenha tais alegações. O chá, juntamente com o café, está enquadrado em uma categoria que dispensa a obrigatoriedade de registro. A RDC ANVISA nº 267/2005 lista as espécies vegetais e as partes do vegetal permitidas para o preparo de chás. Tal lista foi complementada posteriormente pela RDC ANVISA nº 219/2006. Já no caso do chá em cápsulas, tabletes, comprimidos ou similares é necessário o registro na ANVISA.
Você notou que para entender essa polêmica foi preciso utilizar de conhecimentos de farmacognosia, toxicologia e legislações sanitárias? Poderia ser um bom tema de redação, não acha? Como andam os seus estudos para essas matérias? Venha para o Gran Cursos Online e fique afiado para as próximas provas!
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