Numa prova de REDAÇÃO, o primeiro desafio que se apresenta ao candidato é anterior ao ato de produzir o texto, e pode, inclusive, transformar-se em uma armadilha perigosa para os desatentos: entender, pelo comando, que tipo de texto se deve produzir, a forma adequada de estruturá-lo e, ainda, que rumo dar à sua abordagem. Ou seja, decifrar o comando!
A primeira batalha é identificar qual a proposta de redação e, consequentemente, o que o examinador espera encontrar no texto em questão. Afinal, nos editais mais recentes, há uma grande diversidade de tipologias a serem cobradas, inclusive a inédita “Injunção” (propagada no edital da Caixa Econômica Federal). E mais, nem sempre essas tipologias são divulgadas com clareza nos editais.
No caso da Fundação Carlos Chagas, são cobrados temas de abordagem mais filosófica, que devem ser tratados sob a forma de uma “Dissertação argumentativa”, a qual exige uma estrutura mais formal: introdução, desenvolvimento e breve conclusão. Poucas são as provas desta banca em que se solicitam temas mais específicos, a não ser que se trate de Redação Oficial.
Já, o CESPE/UnB e a maioria das bancas examinadoras têm cobrado a “Dissertação de caráter expositivo”, por meio da abordagem de dois ou três aspectos sobre tema específico do concurso (constante no edital). Esse tipo de proposta exige uma atenção redobrada, porque, além de decifrar o assunto a ser explanado em cada um dos aspectos, o candidato precisa decidir em que parágrafos estes assuntos deverão ser situados. Na maioria das vezes, o 1º aspecto proposto pode vir já na introdução e o 3º na conclusão do texto. Já, em outros casos, os aspectos podem ser abordados (todos) no desenvolvimento, cabendo fazer uma introdução sobre o tema. OBS.: Neste caso, jamais se faz uma conclusão. Esta se configura pela abordagem do último aspecto proposto. Outro ponto importante a se considerar, nos comandos das redações, é a solicitação de que todos os aspectos relacionados sejam, necessariamente, abordados pelo candidato. Neste caso, é forçoso desenvolvê-los na sequência proposta e de modo claro, sem reprodução literal nem paráfrase. Ali, o que avalia é a noção que o candidato tem do assunto apresentado e não a sua “capacidade de parafrasear ideias alheias”.
Todas as decisões sobre a estruturação da redação têm de ser tomadas pelo candidato na hora de produzir o texto e de maneira muito rápida. Daí, a necessidade de uma interpretação assertiva dos comandos. O mais importante mesmo é ler com muita atenção todos os enunciados, já que as bancas examinadoras estão procurando, de alguma forma, inovar nas propostas de produção textual.
Para não errar:
1º) Destaque o tipo de texto exigido pela banca (o mais comum é uma dissertação) e mantenha-se fiel a ele, ainda que a proposta não te pareça clara. Por exemplo, nos “Estudo de caso” é comum que o comando peça que se produza uma “dissertação”. Isso se deve ao fato de que os “estudos de caso” são estruturados sob a forma de uma dissertação;
2º) Defina qual será a linha de raciocínio que você adotará a partir do tema (ou questionamento) apresentado no comando;
3º) Se o comando determinar a abordagem de alguns aspectos, procure reconhecer se existe mesmo um vínculo entre eles: caso não exista, não há por que usar conectores gramaticais entre eles;
4º) Determine em que parágrafos estarão situados os aspectos e procure explicitá-los com objetividade. Não copie nem parafraseie os aspectos;
5º) Construa o seu texto, sem se desviar da norma culta, considerando, sobretudo, a coesão interna das estruturas – a qual, consequentemente, ocasionará a fluidez e coerência do texto.
Revisando o texto antes da redação final
A despeito da alegada falta de tempo, é imprescindível fazer uma revisão do texto antes de transcrevê-lo no formulário definitivo, principalmente quando se considera que a prova de redação é, na maioria das vezes, a responsável por “selar o destino” dos candidatos nos certames. Revisar nem sempre significa cortar informações ou esticá-las. É certificar-se de que está escrito no papel aquilo que se queria efetivamente transmitir ao leitor. O trabalho de revisão consiste em verificar se o texto está:
ü correto – que obedeça às regras gramaticais da língua portuguesa (a norma culta), sem muito rebuscamento;
ü coeso – que tenha todos os seus vínculos lógicos estabelecidos por meio de elementos gramaticais adequados;
ü coerente – a ponto de não provocar sobressaltos no leitor (que ele compreenda facilmente as ideias já na primeira leitura);
ü conciso – para que o leitor não tenha a impressão de estar perdendo tempo na leitura.
Enfim, o propósito da revisão é garantir que o leitor (corretor) não encontre as mesmas dificuldades de compreensão que você (candidato) tenha encontrado ao ler, pela primeira vez, seu próprio texto. Seguramente isso influenciará, de maneira bastante positiva, na pontuação que ele atribuirá ao seu trabalho.
Para não errar:
Antes de passar o texto “a limpo” para o formulário definitivo, releia-o como se não fosse você que o tivesse escrito e verifique se constitui um todo coerente. Para isso, siga os passos abaixo:
1º) Identifique as construções gramaticais truncadas que podem dificultar a compreensão das ideias (lembre-se de que não estará perto do leitor para esclarecer possíveis dúvidas);
2º) Verifique se os trechos estão realmente bem distribuídos nos parágrafos, estabelecendo uma concatenação adequada entre os períodos.
3º) Elimine qualquer marca de subjetividade, adjetivação excessiva, redundâncias ou afirmações irrelevantes;
4º) Procure transpor-se para a posição do leitor, para saber se as suas informações se antecipam às possíveis indagações dele.
5º) Finalmente, transcreva o texto para o formulário definitivo.
Sugestões de leitura:
Revistas:
- CartaCapital
- Le Monde Diplomatique – Brasil
- Caros Amigos
- Fórum – Outro mundo em debate
- Língua Portuguesa
Jornais:
- Correio Braziliense
- O Globo
- O Estado de São Paulo
- Folha de São Paulo (edição de domingo, principalmente)
- Almanaque Abril: Atualidades para o ENEM e Vestibular
Sites:
www.correiocidadania.com.br (Correio da Cidadania)
www.lemondediplomatiquebrasil.com.br (Le monde Diplomatique – Brasil)
Texto escrito por Vânia Araujo, professora do Gran Cursos Online.
Currículo: Licenciada em Letras, pela Universidade de Brasília (UnB). Ministra aulas de Interpretação de textos e de Redação Discursiva há mais de dez anos nos principais cursos preparatórios para vestibulares e concursos do Distrito Federal. Já trabalhou também em cursos de Belo Horizonte e Goiânia.