Com este artigo, em que analisaremos o tema Raciocínio Lógico Matemático (RLM), chegamos ao quarto artigo da série “Quebrando a Banca FCC”. Como você que nos acompanha já sabe, ao longo das últimas semanas vínhamos destrinchando, com base nos certames mais recentes, a forma como essa que é uma das mais tradicionais organizadoras de concursos para tribunais, defensorias e prefeituras no Brasil costuma cobrar as disciplinas básicas em suas provas.
“A matéria Raciocínio Lógico-Matemático tem estado presente em praticamente todos os concursos públicos que exigem como grau de escolaridade o ensino fundamental e o ensino médio.”
A matéria Raciocínio Lógico-Matemático tem estado presente em praticamente todos os concursos públicos que exigem como grau de escolaridade o ensino fundamental e o ensino médio. Mas também tem sido cobrada em muitas provas de nível superior. Grande parte dos concurseiros a consideram um bicho-papão, tanto que muitos deles fogem dos editais que incluem essa disciplina no programa assim como o diabo foge da cruz. Todo esse receio faz algum sentido, na medida em que não se estuda Raciocínio Lógico ou Matemática da mesma forma que se estudam disciplinas como Direito Constitucional, Direito Administrativo, Língua Portuguesa ou Informática, por exemplo. É fato: preparar-se em Raciocínio Lógico-Matemático exige cuidado especialíssimo, além de ferramentas muito peculiares e elaboração de problemas mentais bem diferentes daqueles aos quais um concurseiro está acostumado.
“A verdadeira mãe de toda a preparação, quando o tema é Raciocínio Lógico-Matemático, é a senhora prática.”
O estudo da lógica é o estudo dos métodos e princípios que permitem distinguir o raciocínio correto do incorreto; aquilo que “tem lógica” daquilo que não tem; o que é verdadeiro do que é incorreto (falácia). A verdadeira mãe de toda a preparação, quando o tema é Raciocínio Lógico-Matemático, é a senhora prática. E o verdadeiro desafio para os concurseiros é obter no dia “D” as respostas certas no menor tempo possível. Então, mais uma vez fica a dica: pratique, pratique, pratique… e, quando não estiver praticando, volte a praticar!
Para apresentar os números que em seguida serão traduzidos em um gráfico, contamos com a ajuda do nosso mestre das exatas, o professor Josimar Padilha. Ele examinou as provas de certames aplicados nos anos de 2013, 2014, 2015 e 2016. Foram eles: TRF 3ª Região/2016 – Técnico e TRF 14ª Região/2016 – Técnico; TRT 9ª Região/2015 – Técnico e Analista; TRT 4ª Região/2015 – Técnico e Analista; TJ AMAPÁ/2014 – Técnico; TRE Amapá/2014 – Analista; e TRT 1ª Região/2013 – Técnico e Analista.
Para começar, nosso colaborador classificou as provas por nível de dificuldade. As dos concursos para o cargo de Técnico do TRF 14ª Região/2016, do TRT 9ª Região/2015, do TRT 4ª Região/2015, do TJ do Amapá/2014 e do TRT 1ª Região/2013 foram consideradas de grau médio de dificuldade, ou seja, nível 3; as demais foram consideradas difíceis (nível 4). Da amostra selecionada para análise, o professor Josimar não identificou nem provas de nível 1, consideradas muito fáceis; nem provas de nível 5, muito difíceis.
Os temas das 68 questões (340 itens no total) sobre RLM estavam assim distribuídos em nossa amostra: estruturas lógicas – equivalências, negações e tautologia – 2 questões (2,94%); inferências e lógica de argumentação – 6 questões (8,82%); análise combinatória e probabilidade – 1 questão; lógica matemática – problemas matemáticos – 38 questões (55,88%); relações arbitrárias entre pessoas, lugares e objetos e dedução de novas informações – verdades e mentiras – 14 questões (20,59%); e sequências – 7 questões (10,29%).
Esses dados nos permitem chegar a uma conclusão bastante relevante sobre o que a FCC mais cobra em RLM. Anote aí: 76,47% de todos assuntos cobrados nas provas que estudamos se referiam a lógica matemática/problemas matemáticos (55,88%) e relações arbitrárias entre pessoas, lugares e objetos/dedução de novas informações/verdades e mentiras (20,59%).
Compare com a distribuição das questões por tópico nas provas do Cespe/UNB analisadas por nossa equipe. Artigo completo AQUI.
Veja agora o que diz o professor Padilha sobre algumas diferenças entre o estilo da banca FCC e o do Cespe/Cebraspe:
Para responder uma questão cobrada pela banca Cespe, é necessária a leitura de uma situação voltada muitas vezes para a realidade do cargo em que o candidato está inscrito no concurso. Além do conteúdo formal sobre a matéria, a banca exige do candidato interpretação, percepção e aplicação dos conceitos a casos concretos. Os itens da prova são divididos por grau de complexidade, de modo que a prova pode ser considerada mais difícil. Muitas vezes, se o candidato não estiver acostumado com esse estilo de prova, seu rendimento fica comprometido. Para ilustrar, eis um exemplo de questão:
(CESPE/PCDF/AGENTE/2013) O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou, em 2013, dados a respeito da violência contra a mulher no país. Com base em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, o instituto apresentou uma estimativa de mulheres mortas em razão de violência doméstica. Alguns dos dados apresentados nesse estudo são os seguintes:
- mais da metade das vítimas eram mulheres jovens, ou seja, mulheres com idade entre 20 e 39 anos: 31% estavam na faixa etária de 20 a 29 anos e 23% na faixa etária de 30 a 39 anos;
- 61% das vítimas eram mulheres negras;
- grande parte das vítimas tinha baixa escolaridade: 48% cursaram até o 8º ano.
Com base nessas informações e considerando que V seja o conjunto formado por todas as mulheres incluídas no estudo do IPEA; A ⊂ V, o conjunto das vítimas jovens; B ⊂ V, o conjunto das vítimas negras; e C ⊂ V, o conjunto das vítimas de baixa escolaridade – vítimas que cursaram até o 8º ano –, julgue os itens que se seguem.
Item: Se V\C for o conjunto complementar de C em V, então (V\C) Ç A será um conjunto não vazio.
Comentário:
Temos uma questão que envolve três conjuntos de vítimas, ou seja, mulheres que sofreram violência. Podemos fazer a seguinte análise desses dados:
A: Mulheres jovens
B: Mulheres negras: 61%
C: Mulheres com baixa escolaridade: 48%
V: A È B È C, o conjunto V é formado por todas as mulheres incluídas no estudo do IPEA, logo:
A ⊂ V
B ⊂ V
C ⊂ V
Os diagramas podem ser assim construídos:
O item indica que V\C corresponde ao complemento do conjunto C em relação ao Universo (V) e que (V\C) Ç A ≠ Ø, ou seja, a interseção do complementar de C com o conjunto A deve ser diferente de vazio. Verifiquemos tal afirmação no diagrama:
A parte hachurada do diagrama acima corresponde a V\C, complementar de C.
A parte hachurada no diagrama acima corresponde ao conjunto A.
A parte hachurada no diagrama acima corresponde ao conjunto (V|C) Ç A.
Quando analisamos o diagrama resultante, inferimos o seguinte:
O valor mínimo que podemos ter na interseção de (V|C Ç A) é 6%, ou seja, é diferente de vazio. Portanto, o item é correto.
As questões da banca FCC são mais simples do que isso. O examinador exige o conhecimento do assunto, mas não cobra outras habilidades do candidato, como interpretação. Veja o exemplo:
[Fundação Carlos Chagas (FCC)] Uma escola de música oferece apenas os cursos de Teclado, Violão e Canto e tem 345 alunos. Sabe-se que:
– Nenhum aluno estuda apenas Canto.
– Nenhum aluno estuda Teclado e Violão.
– 225 alunos estudam Teclado.
– 90 alunos estudam Teclado e Canto.
– 50 alunos estudam apenas Violão.
Quantos alunos estudam Canto e Violão?
- a) 70
- b) 120
- c) 140
- d) 150
- e) 160
Comentário:
Basta transferir os dados para um esquema como este para obter a resposta:
É isso, amigo concurseiro. Na próxima semana, concluiremos a série Quebrando a Banca FCC com a disciplina Direito Administrativo. Quem nos ajudará na análise das provas será o nosso professor Rodrigo Cardoso. Até lá!
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Gabriel Granjeiro
Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há quase 10 anos. Formado em Administração e Marketing pela New York University, Leonardo N. Stern School of Business. Fascinado pelo empreendedorismo e pelo ensino a distância.
Josimar Padilha
Professor do Gran Cursos Online. Ministra aulas presenciais, telepresenciais e online de Matemática Básica , Raciocínio Lógico, Matemática Financeira e Estatística para processos seletivos em concursos públicos estaduais e federais; Professor de Matemática e Raciocínio Lógico em várias faculdades do Distrito Federal. Servidor Público há mais de 20 anos. Autor de diversas obras. Palestrante.
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