Neste exato momento, estou dentro do avião, indo de Brasília a Florianópolis. Diante dos meus olhos, vejo um panfleto da companhia aérea com este texto: refeição a bordo. No mesmo instante, pensei: eis um excelente assunto para o artigo desta semana!
Note que a frase foi empregada sem a presença do acento grave – e está correta! A expressão “a bordo” funciona como uma locução adjetiva subordinada ao substantivo “refeição”. Devido ao fato de “bordo” ser uma palavra masculina, o emprego do sinal indicativo de crase é proibido. Pelo mesmo motivo, não se emprega crase em expressões como frango a passarinho ou compra a prazo.
Diferente seria se o texto fosse refeição à mesa, por exemplo. A locução, agora, tem como núcleo um substantivo feminino. E a gramática é clara: a fim de evitar quaisquer possíveis ambiguidades, em locuções femininas, o emprego do acento grave é obrigatório. Isso justifica a ocorrência de crase em frases como jantar à luz de velas ou compra à vista.
É preciso, todavia, tomar cuidado com as expressões em que é possível inferir à moda de ou à maneira de. Nesses casos, o emprego do acento grave passa a ser obrigatório, mesmo que o núcleo da locução seja masculino. É isso que justifica a presença da crase em uma jogada à CR7 ou uma galinhada à Goiás. Para que não haja confusões, dou uma dica: essas expressões só estão implícitas quando o núcleo da locução faz referência a uma pessoa ou lugar!
Portanto, não se confunda: sempre é preciso verificar o núcleo das locuções (adjetivas, adverbiais, prepositivas ou conjuntivas) encabeçadas pela preposição a: se for masculino, nada de crase; se for feminino, crase obrigatória! Porém, se as expressões à moda de ou à maneira de estiverem implícitas, o uso do acento grave passa a ser obrigatório, independentemente do gênero do núcleo!
Uma última observação: nas locuções, a preposição não aparece devido a uma relação de regência. Isso significa dizer, em termos populares, que nenhum outro termo pede a preposição.
Vou continuar meu voo! Bons estudos!
Elias Santana
Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Respectiva Literatura – pela Universidade de Brasília. Possui mestrado pela mesma instituição, na área de concentração “Gramática – Teoria e Análise”, com enfoque em ensino de gramática. Foi servidor da Secretaria de Educação do DF, além de professor em vários colégios e cursos preparatórios. Ministra aulas de gramática, redação discursiva e interpretação de textos. Ademais, é escritor, com uma obra literária já publicada. Por essa razão, recebeu Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
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