Ingressar na universidade parecia ter sido meu grande feito. Afinal, eu tinha sido aprovada em direito, o segundo curso mais concorrido à época, nas duas universidades públicas da minha cidade. Aos 17 anos, parecia ser tudo o que eu precisava.
Ao final do primeiro semestre, foi anunciada a primeira greve. Naquele tempo, havia uma avalanche de movimentos grevistas das universidades federais de todo o país e eles não costumavam ter prazo para acabar. Eu não tinha muita noção de como aquilo poderia repercutir na minha vida profissional, mas minha mãe, sim.
Antes da notícia acabar de ser enunciada na televisão, ela surgiu lá de dentro do quarto com uma pilha de livros em minha direção: direito constitucional, direito administrativo, direito civil, 1001 questões de direitos para concursos. O diálogo foi rápido e incisivo: “E enquanto a universidade negocia o que quer, você vai gastar seu tempo iniciando sua preparação para concurso. Tempo é dinheiro”.
Nunca esquecerei como me senti “diferente”. No pior sentido. Seria muito injusto eu agora ter tempo para estreitar laços de amizade e aproveitar aquele “descanso” que a greve poderia significar, como significaria para todos os meus colegas de turma.
No dia seguinte àquela conversa, minha mãe me entregou o último edital que o Tribunal Regional Federal da 1ª Região havia lançado até então. O lançamento do próximo parecia estar iminente.
Apesar de ser estudante de direito, aquelas matérias ainda eram estranhas para mim e foi sozinha, com aqueles livros, que comecei a explorá-las. Aos poucos, fui tomando aquele aparente “insulto” da minha mãe como desafio e naquele concurso, cujo edital abria apenas cadastro de reserva (o que então era possível), fui habilitada em 67º lugar para o cargo de técnico judiciário. Eu parecia ter chegado à lua. Fui toda contente contar à minha mãe, e ela simplesmente disse: “Sua meta é passar, não apenas ser habilitada”.
No mês seguinte, foi publicado o edital para a Secretaria da Fazenda. Eu me inscrevi para o cargo de arrecadador tributário e mergulhei na tal da meta de ser aprovada. A chance parecia real, pois eram 88 vagas. Ao mesmo tempo, o edital também era bem mais extenso, e as matérias mais complexas, pois abarcava, inclusive, contabilidade. Daí resolvi que precisaria da orientação de um cursinho.
No segundo semestre do curso de direito, minha vida se resumia a ir ao cursinho pela manhã, almoçar correndo, ir à universidade à tarde, e às vezes permanecendo à noite, e estudar após o jantar até meia-noite. Ganhei uma esteira e coloquei no meu quarto, para ganhar tempo e sanidade mental. Exercício físico e alimentação são essenciais na vida de um concurseiro.
A cada dia, eu me via mais “diferente”. Quando algum professor faltava, enquanto meus colegas iam lanchar e socializar, eu ia para a sala de estudo, cumprir edital. Às vezes dava vontade de desistir, mas a vontade passava quando eu olhava o item sobre o salário.
Enfim, após três meses nessa rotina, o namorado que tentou atrapalhar foi mandado embora, os bons amigos ficaram e a aprovação veio. Daquelas 88 vagas, a 37ª era a minha. Houve poucos momentos tão cheios de satisfação na minha vida quanto aquele em que vi meu nome na lista dos aprovados.
Daí lá vou eu novamente contar para minha mãe: “Mãe, alcancei. Fui aprovada”. Com um tom mais amistoso, ela me respondeu: “Ok, filha, parabéns, mas, enquanto você não for chamada em um concurso em que tenha sido aprovada, a aprovação é mera satisfação. Siga em frente. Esse é o caminho”.
Embora tenha ficado chateada com minha mãe, já que esperava um pouco mais de reconhecimento, no fundo eu sabia que ela estava coberta de razão. Decidi me dar de presente aquele recesso de fim ano e retomar meus estudos em janeiro.
De volta, fui informada que o concurso do Tribunal Regional Eleitoral iria sair em breve. Como procedimento padrão, peguei o edital passado, revisei o que já sabia e fui estudar eleitoral. O resultado veio logo: aprovação no décimo lugar do cargo de técnico judiciário daquele concurso, para o qual acabei sendo chamada. No dia da posse, minha mãe me entregou um bilhetinho – “sempre seja cumpridora de suas metas e não pare antes de alcançar aquilo a que se dispõe”. E então eu me senti tão bem em ter sido “diferente”. Dali a um ano, eu me formei e, diferentemente da maioria, sem me preocupar com a inserção no mercado de trabalho.
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