Já haviam se passado três dias sem banho, sem fome, sem futuro. Patrícia estava estendida no tapete da sala, o notebook aberto como quem tenta uma saída de emergência. Aos 43 anos, um choque anafilático a havia expulsado da própria vida. O saldo era um doutorado interrompido, uma franquia de inglês fechada e renda zero.
Na casa em silêncio, ela confrontou Deus, sem rodeio:
— E agora?

O agora veio num pop-up.
Era 12 de junho de 2018, e, de súbito, saltou na tela do computador o anúncio do concurso do Iphan. Aquele Dia dos Namorados não pedia romantismo; pedia vida. Filha de servidores, Patrícia fez a conta em segundos: estabilidade é guarda-chuva em meio a uma tempestade. Firmou um trato: ela estudaria até passar e Ele capricharia no final.
Mas o desafio não se resumia aos editais — Patrícia enfrentava o próprio corpo. Polialérgica, com histórico de choques anafiláticos, vivia cercada de inimigos invisíveis: leite, perfumes, cosméticos, calor. Cada novo episódio era pior que o anterior. Em 2020, por engano, tomou sorvete comum achando que era vegano. Foram seis horas de adrenalina e meses de dor para simplesmente conseguir sentar. O jeito foi estudar deitada, assistindo às videoaulas do Gran, até conseguir voltar à mesa.
Vieram as provações.
Em Manaus, prestou concurso na área de controle. Foi bem na prova objetiva, e a discursiva seria uma semana depois. Estava confiante a ponto de aceitar um convite inocente para uma trilha. Mas no meio do caminho havia uma pedra, e escorregadia. Patrícia caiu e quebrou o pulso em dois pontos. Impedida de escrever, viu o nome aparecer no Diário Oficial pela primeira vez, porém sem a peça que validasse a aprovação. Ela chorou estudando.

Em Santa Catarina, a dor foi outra. Sob calor de 40 graus, Patrícia tentou fazer a prova apesar de a sala não ter ar-condicionado. O perfume dos concorrentes atiçou ainda mais suas alergias, então o inevitável aconteceu. Passando mal, foi levada à enfermaria, depois para uma sala isolada, onde retomou a prova com a visão turva. Vírgulas faltaram, parênteses foram abertos mas não fechados, e o resultado foi a desclassificação por menos de 1 ponto. Anotou o número e continuou.
Jamais orou por motivação. Pedia, sim, disciplina.
Passou a acordar antes do resto do corpo, os dedos digitando enquanto a mente ainda despertava. Nada de domingos, nada de feriados. O dinheiro era pouco, então se virava como podia. Da saúde cuidaria depois. “Se eu passar e não der pra trabalhar, resolvo. Agora eu passo.” O método era simples, bruto e contínuo.
Quando saiu o edital do Senado, ela não tinha planos específicos. Na verdade, estava estudando para a área de controle, mas, como a prova seria em Belo Horizonte, dava para ir. Requereu sala isolada e encarou o grande dia com a serenidade de quem já sobrevivera ao pior. Ao entregar a prova à fiscal, ouviu dela a previsão:
— Você vai passar.
Patrícia sorriu, sem dar muito crédito. “Era só mais um treino”, pensou.
Mas não é que ela passou mesmo?
O “sim” veio em uma madrugada de agosto. Patrícia estava na casa dos pais, que aguardavam ansiosamente a publicação do resultado. O pai passara o dia fazendo contagem regressiva, até que não aguentou mais e foi dormir. Patrícia continuou acordada. Às 2h16, digitou o sobrenome raro e a tela respondeu. Correu acordar todos. Era meio do ano, mas tinha gosto de Ano-Novo.

Hoje, ela estaciona o carro ao lado do Planalto, caminha alguns passos e entra para trabalhar. Brasília, cidade que ela adotara de longe, agora é lar. Com o verde acinzentado do cerrado refletido nos olhos, ela percorre ruas seguras e se sente cercada de colegas que a puxam pra cima. Carrega no peito uma gratidão diária que faz questão de não esquecer.
— Todos os dias, eu agradeço pelos detalhes que o mundo não vê: o crachá que pesa certo, a porta que se abre, a cadeira que é minha…
Perguntada sobre o acordo com Deus que fez um dia, ela sorri:
— Ele caprichou mesmo.
Você se identifica de alguma forma com Patrícia? Está “deitado” sobre um tapete sem renda, com medo, doente ou apenas precisando de um recomeço? Então guarde esta lição: não há dia perfeito.
Lide com o você tem. Comece a estudar antes mesmo de despertar por inteiro; peça uma sala separada, se preciso; e aceite falhar por menos de 1 ponto sem drama. Troque de prova, mas não de rumo. E confie. O que está em jogo são pequenos passos que você deve somar dia após dia.
Como fez Patrícia, conte com o apoio do Gran, mas esteja ciente de que a travessia, a conquista e o mérito serão sempre só seus.
— Parar de estudar não é remédio, ela diz. A vida que você quer está esperando. Depende só de você.
Uma vaga no Senado parece distante até que, às 2 horas de uma madrugada qualquer, o seu nome aparece no Diário Oficial. Não se trata de sorte, mas de fazer bom uso do hoje.
Apenas vá.

Gabriel Granjeiro –O e sócio-fundador do Gran, maior Edtech do Brasil em número de alunos, com mais de 800 mil discentes ativos pagantes. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha o universo dos concursos desde a adolescência e ingressou profissionalmente nele aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanais para o blog do Gran, que já somam milhões de leitores.
Formou-se entre os melhores alunos em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Foi incluído na lista Forbes Under 30 (2021), eleito Empreendedor do Ano pela Ernst & Young (2024) e reconhecido pela MIT Technology Review como Innovator Under 35 no Brasil e na América Latina. Autor de quatro livros best-seller na Amazon Kindle.
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