Por: Dino Santos
Quando falamos em técnicas de estudo para as provas discursivas, devemos ter em mente dois pontos: primeiro, é praticamente impossível se preparar bem sem a orientação de um bom profissional, que avalie os textos e ajude a melhorá-los; segundo, esse profissional precisa conhecer não só a teoria de como se produzem dissertações, mas também ter muita experiência na produção textual.
Isso porque é fácil dizer a um aluno que um texto precisa de clareza, objetividade e concisão, mas nem sempre quem aponta os defeitos de um texto sabe como orientar os alunos sobre como corrigi-los. Em suma, aulas teóricas sobre redação, como mera apresentação de modelos, não são suficientes para levar o candidato a dominar a técnica de escrever com segurança e destreza. A prática e a orientação sistemática por profissional gabaritado são o atalho para o sucesso.
A preparação deve começar como em qualquer disciplina, pela leitura do edital. A Banca pede um texto sobre a atualidade ou quer saber se o candidato sabe discorrer sobre determinado ponto do edital, ou, ainda, deseja o exame de um estudo de caso. É fundamental conhecer, também, qual é a Banca para obter outras provas semelhantes, já realizadas em certames anteriores. Há diferentes formatos de provas, com ou sem roteiro, com ou sem texto motivador, e antecipar como a prova será apresentada, economiza muito tempo.
Em relação às técnicas para aprender a produzir texto, ao longo de dezesseis anos de trabalho, temos conseguido relativo sucesso utilizando a estratégia de desmontagem de textos aprovados com boa nota e da intelecção de temas diversos. Em relação a este, o melhor caminho é sempre transformar os temas em perguntas sim ou não ou em perguntas com pronomes interrogativos. Se uma Banca propõe que se escreva sobre “cotas como mecanismos de acesso ao ensino superior”, fica mais fácil começar a pensar sobre o tema se o transformarmos em pergunta, por exemplo: as cotas são um mecanismo justo de acesso ao ensino superior?
Essa estratégia é muito simples, porém efetiva e eficaz, porque os textos, argumentativos ou expositivos são respostas a indagações hipotéticas. Nós escrevemos, em concursos públicos, porque queremos nos posicionar em relação a algum questionamento oriundo de determinada temática, o combate à violência, por exemplo – argumentativo; ou porque desejamos tratar de algumas questões de natureza conceitual, os princípios da Administração Pública, por exemplo – expositivo. Vale a máxima de René Descartes; duvido, (pergunto) logo penso; penso, logo existo.
Se a Banca apresenta um roteiro, a estratégia de transformá-lo em perguntas é válida, também, porque, como já comentamos em outros artigos, hoje a dissertação mudou muito e pode ser comparada a um questionário em que cada parágrafo responde uma pergunta formulada pela Banca. São bons exemplos disso as provas recentes do TJDFT, MPU e CNJ. Nesses casos, por vezes a introdução do texto será a resposta à primeira indagação e a conclusão da última. Nem sempre será possível fazer um texto no modelo antigo em que se coloca uma introdução para situar o leitor em relação ao assunto. É mais viável ir direto à resposta do primeiro questionamento.
Do ponto de vista do aperfeiçoamento do domínio do idioma, vale lembrar que não basta apenas ler mais. Quem lê muito não escreve necessariamente bem, porque há dois tipos de leitura, a saber: a que fazemos em busca de conteúdo; e a que fazemos em busca da estrutura fraseológica do texto, de como colocar o pensamento no papel. Enquanto falantes de um idioma, não vamos inventar palavras novas, muito menos estruturais gramaticais novas. Portanto, o segredo para escrever bem é literalmente aprender a “roubar” as boas estruturas frasais de coordenação e subordinação que encontramos nos textos de candidatos aprovados com boas notas e em articulistas de renome.
É preciso aprender a utilizar os conectivos lógicos – argumentos – de forma efetiva, fazendo exercícios com as diferentes categorias da coordenação e da subordinação. Precisamos aprender a utilizar as aditivas, adversativas, conclusivas, causais, concessivas, finais, reduzidas, enfim, ganhar maestria na confecção de frases, períodos e parágrafos. A melhor estratégia é desmontar os bons textos para aprender como ocorre a construção.
As técnicas de preparo para as provas discursivas envolvem, portanto, dois grandes eixos, a saber: primeiro, conhecer o formato da prova e as características da Banca realizadora do concurso, verificando qual é o modelo a ser confeccionado e o recorte apresentado em certames anteriores; segundo, desenvolver o domínio da fraseologia da língua portuguesa por meio da desmontagem de enunciados e de exercícios de reescrita com base em textos aprovados com notas altas. Tudo isso deve ser feito sob a supervisão de um professor gabaritado, ou seja, que conheça o texto sob o ponto de vista teórico, mas escreva no dia a dia.
O professor Dino dos Santos é consultor legislativo da Câmara Legislativa do Distrito Federal, mestre em linguística pela UnB, autor do livro Provas Discursivas: Estratégias, da Editora Gran Cursos.