Saber o número de candidatos por vaga em um novo concurso costuma ser uma das maiores curiosidades e preocupações dos concurseiros no Brasil. Muitos são os que se assustam ao saber que o número de concorrentes a serem vencidos em um concurso público pode passar de 2.000.
Mas se no Brasil a situação parece complicada, imaginem como se sentem os candidatos ao concurso da Assembleia Legislativa do estado de Uttar Pradesh, na Índia, que recebeu 2,3 milhões de inscrições em seus concurso público com 368 vagas e baixo salário?
As autoridades do Estado Uttar Pradesh divulgaram que mesmo realizando 2.000 entrevistas de candidatos por dia, seriam necessários até quatro anos para completar a fase de entrevista.
Nesse caso o número de inscritos é um sinal claro do desespero dos jovens do país por um trabalho que traga estabilidade financeira. Apesar da baixa remuneração oferecida, dezenas dos participantes do concurso possuem doutorado e milhares são mestres.
Com vagas para profissionais como guarda-noturno e ajudantes de limpeza para a Assembleia Legislativa local o governo de Uttar Pradesh pensava em atrair pessoas com ao menos cinco anos de educação escolar, mas entre os interessados estavam 255 doutores (em áreas como engenharia) e 25 mil mestres.
O salário inicial é de 16 mil rupias (cerca de R$ 1.000).
A procura sem precedentes mostra como é difícil o mercado de trabalho nas regiões mais pobres do país, apesar de a taxa nacional de desemprego ser inferior a 5%.
Ao se eleger no ano passado, o primeiro-ministro Narendra Modi prometeu criar empregos e, apesar de programas do governo para capacitar profissionais, a realidade é que a Índia tem dificuldades para gerar vagas para os 12 milhões de estudantes que entram no mercado de trabalho todos os anos -sem falar no enorme saldo de desempregados na população de 1,3 bilhão de pessoas.
Economistas e investidores dizem que a maior parte da culpa está nas regras trabalhistas, que não encorajam as contratações pelo setor privado, sem falar nos benefícios concedidos para os funcionários públicos.
Hoje menos de 10% dos 500 milhões de trabalhadores indianos estão no mercado formal -metade destes tem emprego em estatais como a Indian Railways (ferrovias).
Para Surjit Bhalla, presidente do conselho da Oxus Investments (firma de investimento financeiro), a procura de milhões de pessoas por um emprego público mostra “tudo que está errado na Índia: tanto nas leis trabalhistas como no fato de que no funcionalismo você não precisa fazer nada e tem ótimo salário. Você não pode ser demitido, está lá para todo o sempre”.
Raghuram Rajan, presidente do BC indiano, diz que o problema é que o emprego público tem um “alto status” na sociedade indiana, graças à estabilidade e aos benefícios.
Segundo ele, não há atalhos para resolver a questão: o ambiente de negócios precisa ser atrativo para o investimento, para a criação de bom empregos, produtivos no setor privado.
*Com informações da Folha de São Paulo