O que era brincadeira de criança invadiu o mundo dos adultos, como solução para a mobilidade urbana. Em São Paulo – e em tantas outras cidades pelo mundo – já é possível encontrar pessoas formalmente vestidas fazendo o uso de patinetes em seus deslocamentos cotidianos.
Mas o assunto que quero tratar aqui é ainda mais polêmico que um executivo em um brinquedo. Você sabe qual é o gênero da palavra “patinete”?
Na contramão do emprego cotidiano, os dicionários e o Vocabulário Oficial da Língua Portuguesa (VOLP) registram “patinete” como um substantivo feminino; portanto, o adequado, segundo o padrão, é a patinete, essa patinete, minha patinete, alguma patinete, assim como claquete. Como justificativa, o professor Pasquale afirma que há um (frágil) respaldo para isso: palavras de origem francesa terminadas em ete devem ser femininas.
Daí vem o curioso: os próprios dicionários conseguem se contradizer em relação a essa regra. Croquete, que também é de origem francesa, é um substantivo masculino no Aurélio, no Aulete e no VOLP. Omelete, no Aurélio e no Aulete, é feminino (e até admite a variação omeleta); mas, no VOLP, admite os dois gêneros (tanto a omelete quando o omelete). E toalete? O requintado sinônimo de banheiro é masculino para os dicionários citados anteriormente, mas é feminino no VOLP! A confusão é grande!
Há uma máxima linguística que explica bem o ocorrido: os dicionários estão sempre atrasados em relação ao uso. Em se tratando de Brasil, que parece querer sempre ir na contramão dos verdadeiros donos da língua, o retardo é ainda maior.
Eu não sei você, mas, quando eu comprar o meu, vou usar o patinete, porque não sou um arrogante e antiquado doutrinador. Se isso aparecer em provas (o que espero que não aconteça, pois é falta de bom-senso do examinador), mudo meu jeito analisar a palavra, mas com a esperança de que um dia a nossa amada língua seja verdadeiramente respeitada!
Elias Santana
Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Respectiva Literatura – pela Universidade de Brasília. Possui mestrado pela mesma instituição, na área de concentração “Gramática – Teoria e Análise”, com enfoque em ensino de gramática. Foi servidor da Secretaria de Educação do DF, além de professor em vários colégios e cursos preparatórios. Ministra aulas de gramática, redação discursiva e interpretação de textos. Ademais, é escritor, com uma obra literária já publicada. Por essa razão, recebeu Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
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