É incrível como a língua portuguesa é capaz de gerar discussões acaloradas. Mais impressionante ainda é como os erros de português costumam atrair a atenção do povo. Quando alguém me mostra um texto ou uma fala errada, com intenção jocosa, automaticamente me lembro daquele versículo bíblico que diz “por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu?” (Mt. 7:3). O português apresenta dificuldades, e quem as domina deveria, com amor, ensinar, e não fazer disso instrumento de ironia.
Sobre isso, nada tão polêmico quanto o uso de “para eu” ou “para mim”. Vamos entender como devemos usar as duas formas.
Ex.: Ele trouxe uma roupa para mim.
Segundo a frase acima, ele trouxe algo (“uma roupa”, objeto direto) para alguém (“para mim”, objeto indireto). Perceba que o pronome “mim” foi empregado apenas para expressar que o que foi trazido tinha como receptor a primeira pessoa do discurso. Mas e se essa primeira pessoa, na mesma oração, tiver de praticar outra ação verbal? Veja o exemplo a seguir:
Ex.: Ele trouxe uma roupa para mim usar durante a festa.*
Agora, “mim” não é apenas quem recebe o que foi trazido, mas também quem vai ter de executar o ato de usar. Logo, “mim” está na oração “tentando” ser sujeito do verbo “usar”. Mas a norma padrão diz que “mim” não pode ser sujeito, uma vez que a língua é dotada dos pronomes pessoais do caso reto para executar tal função. Por isso, o correto seria “ele trouxe uma roupa para eu usar durante a festa”.
Mas, agora, vejam o seguinte exemplo:
Ex.: É deselegante para mim usar essa roupa durante a festa.
Agora, “para mim” não está empregado a fim de expressar que a primeira pessoa praticará o ato de usar. “Para mim” agora quer dizer “na minha opinião”. Essa estrutura também é conhecida como dativo de opinião e, nesse caso, o certo mesmo é “para mim”, mesmo que logo após exista um verbo no infinitivo. Em outras palavras, a depender do contexto, usa-se sim “mim” antes de verbo!
Depois disso, peço, por gentileza, que você pense um pouco mais antes de sair gritando “Você é índio? Mim não conjuga verbo!” – uma grande indelicadeza com seu interlocutor e com os indígenas. Agora, você é proprietário do correto conhecimento. Sua missão, a partir de agora, é ensinar quem ainda desconhece. Espalhe a palavra!
Elias Santana – Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Respectiva Literatura – pela Universidade de Brasília. Possui mestrado pela mesma instituição, na área de concentração “Gramática – Teoria e Análise”, com enfoque em ensino de gramática. Foi servidor da Secretaria de Educação do DF, além de professor em vários colégios e cursos preparatórios. Ministra aulas de gramática, redação discursiva e interpretação de textos. Ademais, é escritor, com uma obra literária já publicada. Por essa razão, recebeu Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
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