Na forja do destino

Você talvez enxergue o destino como um carrasco, um senhor cruel e cheio de caprichos, entre os quais o de lançar obstáculos na estrada de quem ousa sonhar. Mas será mesmo que ele é um tirano? Penso que não. Para mim, ele está mais para um artesão divino que esculpe com maestria a matéria bruta de quem decide enfrentar uma jornada desafiadora. Ele não pune; ele forja. 

O destino não é um adversário, é um guia que nos conduz a uma versão aprimorada de nós mesmos. E digo mais: embora às vezes ele pareça cruel, na verdade não é. Nada do que ele nos impõe está além da nossa capacidade de superação. Já dizia Marco Aurélio, o imperador-filósofo: “Aceite de bom grado o que o destino lhe traz, pois o que acontece a cada um de nós é adaptado à nossa necessidade”. 

É que a grandeza, como ensinam os estoicos, brota em campos áridos. As raízes precisam contornar as pedras sob a superfície se quiserem se aprofundar. Da mesma forma, o destino, em sua aparente severidade, nos impele a contornar nossos limites e encontrar virtudes escondidas. Ele provoca: “Mostre-me quem você é. Prove-me do que é capaz”. E é nesse diálogo interno que o nosso potencial desperta.

Quando aceitamos com resiliência um desafio imposto pelo destino, descobrimos dentro de nós uma força que nem imaginávamos ter. Sêneca acreditava que a adversidade, longe de nos diminuir, nos revela. “Um homem sábio vê na dificuldade um teste que pode suportar, e assim transforma o desespero em coragem”, dizia. Trata-se de aceitar que os espinhos no caminho são ferramentas para o crescimento.

O destino é também criterioso. Ele separa, com precisão cirúrgica, aqueles que apenas fantasiam sobre conquistas daqueles que estão dispostos a pagar o preço do sucesso. É um processo seletivo implacável, porém justo. Apenas quem se reergue após uma queda, quem abraça o desconforto e enfrenta a incerteza alcança as recompensas mais valiosas. O destino não acolhe a timidez – ele valoriza a ousadia daqueles que, mesmo com medo, avançam. Reserva o melhor aos audaciosos que insistem em dançar mesmo sendo um tanto descoordenados e que não desistem no meio da música.

“Até onde você está disposto a ir para alcançar o que deseja?”, questiona a senhora Providência. Ao responder, você avança não apenas em direção às suas metas, mas também em sua essência, pois, como ensinou o imperador-filósofo, “a vida de cada um vale tanto quanto as coisas a que ele dá importância”. Sob essa perspectiva, vemos um destino que, funcionando como um instrumento divino de lapidação, transforma cada infortúnio em oportunidade para você manifestar virtude.

Para os estoicos, a virtude é o bem maior, e o destino, ao nos testar, dá a chance de cultivá-la. A serenidade diante dos contratempos, a coragem para persistir e a sabedoria para aprender com os reveses são conquistas que nenhum prêmio material supera. É como ocorre com o alpinista, cuja maior recompensa não está em ver sua bandeira tremular no topo da montanha, mas na contemplação do próprio feito. Ele vê o mundo lá embaixo e sente a inestimável satisfação de ter transformado hesitação em força, insegurança em determinação, medo em coragem. 

Note que o destino não se importa com o que você quer. Para ele, só interessa o que você pode vir a se tornar. Não tenha dúvida: ele vai afastá-lo dos seus desejos superficiais e empurrá-lo para as profundezas da sua existência, onde você finalmente descobrirá que está destinado a fazer muito mais que imaginava. Ao desviá-lo do caminho fácil, dissolve a ilusão de controle e lhe entrega algo infinitamente mais valioso: a confiança em sua capacidade de persistir.

Para você, concurseiro, há uma provocação ainda mais profunda que o destino lança: até onde você é capaz de suportar a solidão dos estudos, tão característica da jornada de quem escolhe esse caminho? Quando você é deixado sozinho com suas incertezas, sem nenhuma garantia de aprovação imediata, por exemplo, começa a entender que os únicos valores que perduram são aqueles que você constrói em si mesmo.

E assim, quando a aprovação chegar – porque ela chegará –, você compreenderá que sua maior conquista não foi o cargo público, mas a pessoa em que você se transformou nos meses de preparação. Cada hora dedicada aos estudos, cada fim de semana sacrificado, cada recusa em ceder a distrações moldou um servidor público mais preparado, resiliente e consciente de sua missão. O destino, esse mestre exigente, não estava apenas forjando um aprovado, mas um profissional e ser humano à altura do serviço público que o nosso país merece.

Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.

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