Qual a razão para Narciso achar feio o que não é espelho? O motivo de a lenda do belo jovem ter sido o primeiro período do presente texto refere-se a uma breve comparação com o universo dos concursos na atualidade, marcado pela chegada intensa de novas bancas à Brasília, o que tem causado bastante dor de cabeça aos concurseiros da capital.
Como reagem os candidatos, acostumados com as belíssimas e bem elaboradas provas da banca CESPE, quando se deparam com uma prova da banca Quadrix, por exemplo? Brasília, nos últimos anos, vem-se acostumando com aquilo que o Brasildos concursos já observa há muito tempo: bancas esquisitas, questões mal elaboradas, mais de uma resposta correta e interposição constante de recursos.
A minha intenção não é censurar banca alguma, e muito menos gerar um monopólio com as mesmas bancas repetidamente. No entanto, novas bancas estão chegando e o candidato à vaga num concurso público, e que realmente busca sua aprovação, tem a obrigação de se acostumar com perfis diferentes do CESPE, da ESAF, da FCC etc.
Assim, aqueles que pretendem prestar provas para os principais Conselhos Regionais do país podem se deparar com o Instituto Quadrix. Se o objetivo for um cargo no Banco do Brasil, na Caixa Econômica, no BNDES, há grande possibilidade de terem que travar uma batalha com a banca CESGRANRIO. Cargos de professores do Governo do Distrito Federal e de Secretária da Saúde? INFELIZMENTE, eu digo, a banca pode ser a IADES. O que fazer?
O grande problema de algumas bancas não é o fato de elas existirem, mas sim a elaboração pífia de suas questões. Fato recente foi a prova da Polícia Militar do Distrito Federal – PMDF. O certame apresentou poucas questões de Língua Portuguesa, e muitas polêmica. A banca FUNIVERSA tem o (péssimo) hábito de misturar conceitos gramaticais em uma só questão. Por exemplo, a opção (a) trabalha o emprego de vírgula, enquanto a opção (b) faz uma grande digressão e aborda o emprego de classes gramaticais, e assim ela prossegue até a última opção.
Qual seria a solução, então? Pouquíssimas organizadoras elaboram suas provas com o objetivo de exigir do candidato um senso crítico, o conhecimento prévio da matéria, a análise de contextos e a interpretação, diante da informações do texto. Nos últimos dois anos, Brasília teve provas organizadas pelas bancas: IADES, CONSULPLAN, FEMPERJ, FUNIVERSA, CESGRANRIO, ESAF, FCC, CESPE, FGV, Quadrix, CETRO, Instituto Cidades. Certamente, cada uma com o seu perfil. Na minha disciplina – Língua Portuguesa – enxergo algumas dessas bancas com certo receio, principalmente para os candidatos brasilienses, que são familiarizados com a maneira CESPE de exigir o seu conhecimento da matéria. Cada banca tem uma forma de construir as questões, cada uma tem uma característica, cada organizadora tem uma tendência e uma flexibilidade em aceitar a interposição de recursos maior que as outras. O candidato que nunca ignora este fato certamente não costumar passar por “apuros” em provas, mesmo que sejam de bancas não familiares.
Algumas bancas gostam de textos muito longos e cansativos, mesmo que deles seja retirada apenas uma questão, como é o caso da ESAF, da FCC e da Funiversa. Outras são marcadas pela grande quantidade de questões de Gramática, em que os textos são base para poucas questões, e como exemplo, temos as bancas Quadrix, CESGRANRIO e o CETRO. Coesão Textual e Interpretação de Textos é assunto presente em quase todas as bancas, porém, umas dão maior ênfase, enquanto outras, não.
Como solução, a minha proposta não é novidade para a maioria dos meus alunos. É preciso, paralelo a um sério estudo dos fatos gramaticais da Língua, que o candidato tenha total intimidade com o perfil da banca que elaborará o concurso que ele prestará. Não há fórmulas mágicas. É essencial a resolução do maior número de questões da banca que organizará a sua prova. Peça a ajuda dos seus professores, de modo que ele indique quais bancas possuem provas com o perfil aproximado da sua. Uma coisa é certa: todos os recentes aprovados que me procuraram nos últimos meses têm ressaltado o valor da resolução de exercícios, antes de encarar a prova, como forma de buscar intimidade junto à banca que realizará o seu concurso, por mais “esquisita” e “desconhecida” que ela seja.
Fabrício Dutra: graduado em Letras – Português e Alemão – pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pós-Graduado em Língua Portuguesa lato sensu no Instituto Liceu Literário Português (Coordenação Prof. Evanildo Bechara). No RJ, Ministrou aulas de Gramática, Redação e Texto em diversos cursos preparatórios para Concursos Públicos, Militares e Vestibulares. Sócio-fundador de Curso Preparatório para Concursos com enfoque em Língua Portuguesa, no Rio de Janeiro. No Distrito Federal, atualmente, ministra aulas de Gramática e Texto no Gran Cursos e cursa Especialização em Revisão Textual. Professor do Gran Cursos.