Até onde vai a nossa força de vontade? Essa pergunta não pode ser respondida com argumentos genéricos, sobretudo se levarmos em consideração que o tamanho do sucesso e o tempo que uma pessoa gasta para alcançá-lo dependem das particularidades de cada um. Se é assim, será que se pode afirmar que o sucesso está relacionado com um perfil específico de pessoa? E será que grandes conquistas estão destinadas apenas aos que tiveram mais oportunidades na vida?
É claro que não!
São inúmeras as histórias de vida que desmentem esse tipo de afirmação. O sucesso não tem cara; muito menos seleciona seus afortunados com base no perfil social e econômico das pessoas.
O filho do rico e o membro de família culta podem não brilhar tanto. Aliás, podem não brilhar nada. Eles têm exatamente as mesmas chances de alguém sem posses mas com muita vontade de vencer. Não duvide: o tamanho da gana pode fazer toda a diferença. Estou me referindo à força de vontade de quem põe a faca entre os dentes e vai à luta. Estou falando de só parar quando conseguir o que quer.
Não faltam histórias de pessoas desconhecidas que têm muito a nos ensinar. Por isso, se você tem achado que está difícil conseguir a sonhada aprovação em algum concurso público, preste atenção nos exemplos de vida que veremos a seguir.
O primeiro deles é de Jhonatan Gonçalvez, de 21 anos de idade. Depois de perder o emprego de balconista, o jovem tentou fazer dinheiro com a venda de doces, mas o que deu certo mesmo foi vender garrafas de suco em semáforos. É com essa atividade que ele paga a faculdade de Nutrição. Como nos relata, ele não queria se tornar pedinte, porque não achava a prática muito legal. “Queria vender algo. Faz uma semana que estou vendendo, e o retorno está muito legal. Todo mundo tem me apoiado”, comemora. Todo dia encontramos o rapaz debaixo de sol, encarando a vida de frente, com várias pessoas gritando palavras de apoio para ele. Filho de um técnico de enfermagem e de uma dona de casa, Jhonatan afirma que a família não tem condições de arcar com seus estudos. Só a mensalidade do curso custa cerca de R$ 800,00. “Não ia parar a faculdade por causa de dinheiro. Depois de Nutrição, vou começar Gastronomia, porque é o que eu amo fazer”, antecipa. Desde os 7 anos de idade, o jovem é portador de síndrome nefrótica, doença que paralisa a atividades dos rins e é controlada apenas com medicamentos. “Eu via minha irmã trabalhando e, quando fiz 18, falei com a minha mãe que eu queria ter uma vida normal, um trabalho, estudar. Não queria desistir da minha vida, nunca pensei nisso.” No início deste ano, por conta de uma crise, Jhonatan precisou passar algumas semanas internado. “Perdi algumas aulas e acabei reprovando em algumas matérias, mas não é o dinheiro nem esse problema de saúde que vão me fazer parar”, conclui.
Conheceremos, agora, a história de um homem que, depois de ter sido presidiário por 33 anos, foi estudar Direito. Sensacional. Inimaginável.
João dos Santos Ferreira passou parte da vida, mais especificamente 33 anos dela, atrás das grades, condenado por furto, tráfico e roubo. Nem por isso ele perdeu as esperanças de um dia se formar em Direito. A vocação para a ciência jurídica foi despertada quando o homem encontrou no lixo da cadeia um livro da área. Hoje, ele está prestes a se formar no interior paulista, aos 68 anos de idade. Com sorriso estampado, compartilha conosco seus outros sonhos: “Quero trabalhar na Defensoria Pública e defender alguém como eu, porque o Estado não quer nem precisa só punir. Ele quer também recuperar o cidadão”. João concluiu o ensino fundamental e o médio no sistema prisional. Aos 63, prestou o Enem e foi aprovado. “Quero ser útil para a comunidade. Gosto de fazer o bem para as pessoas mais incultas”, diz o agora estudante universitário. Desde que deixou a cadeia, João vive com um salário mínimo. Metade do valor vai para pagar a faculdade. Embora ele conte com desconto de 50% pelo Fies, o fato é que não sobra dinheiro para comprar livros, por exemplo. “Passo apertado, mas vale a pena. É gostosa a dinâmica da aula. Se eu não vou, fico doente”, ressalta.
As histórias de sucesso ultrapassam fronteiras. Fred Barley é um norte-americano de 19 anos de idade que ficou conhecido no mundo todo por sua determinação. O ex-morador de rua pedalava 6 horas por dia para chegar à faculdade Gordon State College, no estado da Georgia, onde estuda. Além disso, para garantir um dormitório na instituição, chegou a acampar em frente à faculdade enquanto aguardava a abertura das inscrições para o semestre. Abordado por dois policiais, Fred explicou a eles a razão de sua permanência no local. Os oficiais foram solidários e pagaram duas noites de hospedagem para o jovem em um hotel simples da região. Mas a esposa de um deles foi além: divulgou a história do rapaz no Facebook. O resultado foram doações de roupas, de material escolar e até de dinheiro. Fred recebeu ajuda de desconhecidos do país todo. O valor em dinheiro alcançou US$ 68 mil em dois dias! E a ajuda não parou aí: a própria universidade acabou garantindo dormitório para o estudante, que também conseguiu um emprego numa pizzaria próxima. Sem dúvida foi a vontade dele de vencer que emocionou e empolgou a todos.
Já no caso de Lyjon de Silva, temos uma história que começou bem triste. A mãe dele, única fonte de estabilidade em sua vida, morreu quando o menino tinha apenas 5 anos de idade. Dali em diante, a vida da criança foi marcada por muita dificuldade e por uma sucessão de abusos. Lyjon passou de casa em casa como se fosse um animal de estimação, até ser deixado na rua pela última “família”. Tudo indicava que ele seria mais um número nas estatísticas de jovens que caem na criminalidade. No entanto, ele escolheu estudar e assim mudou o próprio destino. Por muitos anos, o estudante escondeu dos professores e colegas a sua realidade de abandono. Dormia em estacionamentos, em jardins ou em praças. Em relato ao canal de tevê KTRK, o menino emociona: “Eu queria roupas. Queria poder viver como um menino normal. Queria comer como um menino normal. Mas dormia em jardins. Gostava de dormir no estacionamento de parques, porque conseguia ver as estrelas e o céu. Havia um de onde eu conseguia ver o horizonte da cidade. Dormia junto a piscinas também. Não gosto de dizer que era mau ou que era terrível, porque aprendi muita coisa. Aprendi muitas técnicas de sobrevivência. A vida se tornou um bocado mais fácil”. Depois que a escola descobriu sua verdadeira situação, o menino pôde contar com a ajuda do diretor e de outras pessoas, que lhe conseguiram abrigo, comida e melhores condições de vida. Lyjon de Silva concluiu o 12º ano com uma das melhores notas da turma, o que lhe rendeu uma bolsa de estudos para a universidade. Questionado pela KTRK sobre a sua persistência, o garoto responde com naturalidade. “O que mais eu poderia ter feito? Era isso uma ou vida de crime. Podia ter desistido de tudo, mas tive uma oportunidade. Por que não aproveitá-la?”
Denis José da Silva (17) também levou uma vida bem difícil até surgir sua grande oportunidade. Na companhia dos pais e dos três irmãos, ele passou a infância morando num abrigo improvisado debaixo de uma ponte, e sobrevivendo à base de esmolas. “Em 2005, eu tinha seis anos. Lembro que meus pais, meus três irmãos e eu morávamos debaixo de uma ponte, no município de Ipojuca [Pernambuco]. Debaixo dessa ponte, nossa casa era de lona. Lembro que, às vezes, tinha lagartas que queimavam na nossa cama. Quando íamos tomar banho no rio, também pegávamos camarões dentro de tijolos.” Foi só quando começou a cursar o ensino médio em uma escola municipal de Ribeirão, em Pernambuco, que o menino teve a chance de reescrever seu destino. Em fevereiro de 2015, ele descobriu o programa “Ganhe o Mundo”. Suas excelentes notas na escola garantiram a aprovação em uma prova classificatória, e o garoto foi selecionado para estudar no Canadá, onde pode estudar inglês.
Histórias como essas não passam despercebidas. Foi assim com um ex-cortador de cana na Zona da Mata pernambucana chamado Jonas Lopes da Silva. O homem causou comoção na população local com sua coragem, perseverança e determinação. Ele está entre os 74 estudantes que colaram grau na 95ª turma de Medicina da Universidade de Pernambuco (UPE). A formatura ocorreu no Teatro Guararapes, em Olinda, na Grande Recife. Aplaudido, Jonas ficou surpreso. Não esperava tamanha consideração. Tímido, chorou ao ficar de pé, em destaque, entre os demais (agora) médicos. “Não existem vidas comuns. Apesar de termos tantos milagres hoje para contar, a turma 95 escolheu um desses milagres para receber o grau (de médico) em nome de todos nós. Antes de ser estudante de Medicina, ele lutou contra a exploração de mão de obra infantil nas usinas de cana-de-açúcar no interior de Pernambuco”, discursou a oradora, Débora Lima, assim que a solenidade começou.
História semelhante é a de Michael Vaudreuil, de 54 anos. Por 10 anos ele foi responsável pela faxina da faculdade onde mais tarde se formaria engenheiro: Worcester Polytechnic Institute (WPI), em Massachusetts, nos Estados Unidos. Michael contou que nunca havia pensando em estudar quando começou a trabalhar na faculdade, apesar de saber que, como funcionário, teria direito a uma bolsa de estudos. Sua motivação mudou após a perda da mãe, de 66 anos, e da casa, por problemas financeiros. Foi então que ele decidiu estudar Psicologia. A ideia original era aprender a lidar com a depressão. Mas ele foi muito além.
E no seu caso, quais são suas motivações? Ainda não se sente inspirado o suficiente? Então veja mais estas duas histórias.
Desde os 6 anos de idade, Juliano da Silva Dias avisava que seria advogado. Sempre determinado, ele ainda cursava a faculdade quando foi aprovado no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com nota máxima – como estampa a faixa fixada no prédio onde o rapaz mora, no bairro Rubem Berta, Zona Norte de Porto Alegre. Ele atribui cada uma de suas conquistas à mãe, Vera, única mulher engraxate da Praça da Alfândega. “Não é um sonho individual; é o nosso sonho, a nossa realização. Isto não é uma conquista minha; é uma conquista nossa, da nossa família como um todo”, reconhece o bom filho. Vera trabalha há uma década como engraxate na Praça da Alfândega, no Centro de Porto Alegre. Sempre que ela lustra um dos sapatos, pensa no filho. “Ela representa muitas mães que vivem essa situação e também têm essa vitória, vendo seu filho chegar ao que ela imaginava em um determinado momento”, destaca Ricardo Breier, presidente da OAB. “Esse é um exemplo de meritocracia. Apesar das dificuldades financeiras e sociais, existe uma base familiar muito importante”, resume Breier.
A família, de fato, é uma das grandes responsáveis pela maioria das histórias de sucesso que podemos contar. Mas o amor pelos estudos também é fundamental. Leon Delane Nolasco é a prova disso. No meio de cerca de 200 universitários, o senhor de cabelos brancos chama a atenção. O evento é a formatura de estudantes de 13 cursos de uma faculdade em Goiânia. Aos 84 anos de idade, Leon não deixa a idade diminuir sua sede de conhecimento. Desta vez, ele colou grau em Direito, terceiro curso superior que conclui. Os dois primeiros foram Ciências Contábeis e Matemática. “O céu é o limite”, afirma.
Reparou que não existe condição social, cor de pele, idade, gênero ou precariedade que mine a vontade de alguém em vencer? Há sempre tempo para tentar e para buscar, ainda que seja com sacrifício. A vitória e o sucesso não têm cara; muito menos status social. Mas impõem, sim, que quem os busca tenha força de vontade, e isso depende de cada um. Ou você tem, ou não tem. Meu conselho é que busque, com todas as suas forças, ter.
Costumo dizer aos meus alunos que, se eu houvesse nascido e crescido em extrema pobreza e morando na rua, por exemplo, apenas pediria a Deus serenidade para ter a seguinte ideia: arranjar um emprego como limpador de banheiro em uma escola de ensino fundamental. A partir daí, em questão de tempo, eu me ofereceria para trabalhar mais em troca da possibilidade de estudar. Depois de concluir o ensino fundamental, procuraria emprego numa escola de nível médio, onde também pediria para estudar em troca de mais trabalho. Tenho certeza de que assim, depois de muito esforço, chegaria à universidade, particular ou pública. Se fosse particular, usaria da mesma estratégia de antes para custear os estudos. Tudo que eu precisaria era ter a sabedoria de pensar nisso.
Sempre dou esse conselho às pessoas carentes. Felizmente, algumas vezes até consegui trabalho para elas com base nessa ideia. Hoje assisto a algumas delas seguindo essa estrada. Fico feliz por isso. Afinal, tenho convicção de que o sucesso não tem cara; tem força e esperança na vitória.
Forte abraço!
Prof. Marcelo Borsio
Marcelo Borsio é Delegado da Polícia Federal do DF. Coordenador do Projeto Exame de Ordem do Gran Cursos Online. Professor de Direito Tributário e Direito Previdenciário há mais de 15 anos. Possui graduação em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenze, é mestre e doutor em Direito Previdenciário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Pós-Doutor em Direito da Seguridade Social pela Universidade Complutense de Madrid. Autor de diversas obras no tema, palestrante pelo país, professor e coordenador do curso de Pós-Graduação de Direito Previdenciário e da Prática Previdenciária, na Rede LFG/Uniderp.
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