Sempre tem um jeito

Quando a Constituição dos Estados Unidos da América foi concluída, no século XVIII, o diplomata Benjamin Franklin estava consciente de que não haveria nenhuma garantia de que ela suportaria o desafio do tempo, apesar de ser otimista quanto à estabilidade da norma fundamental norte-americana. Foi aí que ele cunhou uma frase de efeito que, assim como o documento que a inspirou, perdura até hoje. Franklin disse: “Nada é certo nesta vida, exceto a morte e os impostos”.

Em nossa conversa de hoje, proponho uma releitura dessa máxima. Quero fazer uma espécie de provocação otimista, reescrevendo-a nestes termos: “Com exceção da morte e do pagamento de impostos, tudo na vida tem jeito ”. Essa perspectiva de que sempre existe um modo íntegro e correto – nada próximo do tal “jeitinho”, ressalto – de resolver praticamente qualquer problema muda toda a nossa visão sobre nossa existência e nos capacita a fazer muito mais e ir bem mais longe.

Sei de uma história que pode ilustrar o que quero dizer. Os japoneses, como todos sabemos, apreciam peixes frescos. O consumo lá é tão grande que com o passar dos anos a fauna aquática foi ficando cada vez mais distante da costa. A solução parecia ser viajar por dias no mar, a bordo de embarcações de maior capacidade, até encontrar os cardumes. No entanto, o expediente não se mostrou perfeito, pois o caminho de volta era longo, e os pescados não chegavam ao mercado tão frescos como se gostaria.

E agora? Uma nova – e genial – solução foi pensada: construir navios ainda maiores, dotados de enormes tanques de água, de modo que os peixes fossem trazidos vivos à costa. A ideia parecia boa, mas também não resolveu totalmente o problema. Sabe por quê? Porque os tanques vinham cheios demais, e, com comida à vontade e sem predadores naturais, os peixes se tornavam preguiçosos e apáticos. Isso, veja só, alterou o sabor da carne. A reclamação foi geral.

Mas, como eu disse, quase tudo na vida tem jeito, e eis que alguém sugeriu introduzir pequenos tubarões nos tanques. A presença dos predadores obrigou os peixes a se manter em constante alerta e movimento, de modo que chegavam ao destino vivos e sadios – embora alguns poucos fossem engolidos pelos tubarões no caminho – e, o principal, com gosto de peixe fresco. O sucesso foi total.

Uma importante lição pode ser extraída dessa história: tal qual os peixes, parece que também nós só nos mexemos de verdade em busca de salvação quando a ameaça é real e palpável. Enquanto não há predadores em nosso tanque, seguimos preguiçosos e apáticos, atribuindo aos outros a culpa por nossas falhas e frustrações. Em outras palavras, nossa verdadeira força – e ela é imensa! – só se revela quando não temos outra saída.

A verdade, porém, é que não precisamos de tubarões em nossa vida para encontrar formas de resolver nossas aflições. Às vezes, basta nos afastarmos um pouco do cenário que logo enxergamos tudo de uma perspectiva diferente e… inspiradora. Percebemos, então, que os desafios e as encruzilhadas no caminho não são nada além de testes, oportunidades para exibirmos nossos talentos e descobrirmos o nosso real valor. Dito de outra forma, não é preciso encarar cada novo problema como uma árdua batalha a ser vencida em nome da sobrevivência. Nada é tão dramático assim, entende?

Algo maravilhoso acontece com quem já descobriu que é o comandante da própria embarcação e que não adianta procurar alguém para substituí-lo na importante missão de decidir – e guiar –a rota. Somos todos timoneiros de nossa própria existência. Podemos e até devemos ouvir conselhos, mas, no fim, quem dará um jeito em tudo no caminho? Acertou. Nós mesmos.

Foram muitos os momentos na história do Gran em que os problemas pareciam insuperáveis. Mesmo quando tudo indicava que não havia solução, que não tinha jeito, jamais deixamos de acreditar que era, sim, possível sair dessa, não importava o quanto o mundo parecia conspirar contra nós. Nunca deixamos de enxergar a luz no fim do túnel, ainda que se tratasse de um pontinho brilhante lá longe… Sempre seguimos acreditando, lutando cada nova batalha e avançando em nosso projeto de vida.

Para provar que não estou falando por falar, a seguir você pode ver um e-mail que recebi em 21 de julho de 2014, enviado por nosso antigo gestor financeiro, o Eduardo. Naquele ano, enfrentamos dificuldades financeiras consideráveis e, como resultado, ficávamos entrando e saindo do cheque especial. Eduardo mal havia entrado na empresa quando me enviou a mensagem a seguir, por isso ainda não tinha acesso a todas as contas bancárias da companhia. Ele queria saber qual era o nosso saldo na Caixa Econômica Federal (CEF), na expectativa de que o valor fosse positivo e pudesse cobrir o fluxo negativo de R$ 88 mil que ele reportava. A má notícia era que não havia nada lá. Tempos difíceis…

Quase dez anos mais tarde, aqui estamos, com mais de 680 mil alunos ativos e 1,1 mil colaboradores e 700 professores, impactando direta ou indiretamente a vida de milhões de pessoas. Somos reconhecidos internacionalmente como uma das empresas mais inovadoras da América Latina e a maior EdTech do Brasil em número de acessos ao site. Poderia mencionar vários prêmios e conquistas relevantes, mas isso tornaria o texto demasiado longo, então prefiro ressaltar que, se em julho de 2014 estávamos tão mal na fita e hoje somos o que somos, é possível, sim, reverter as piores situações. Nunca subestime o poder do trabalho árduo.

Então acredite: tudo na vida tem jeito, com exceção da morte e dos impostos, é claro.

“Não dispomos de pouco tempo, mas desperdiçamos muito. A vida é longa o bastante e nos foi generosamente concedida para a execução de ações as mais importantes, caso toda ela seja bem aplicada. É assim que acontece: não recebemos uma vida breve, mas a fazemos; dela não somos carentes, mas pródigos.” – Sêneca

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