Tempo, o concurso da vida

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O tempo é extremamente valioso, sobretudo porque ele passa rápido. Daí a importância de saber usá-lo bem. Há que reservar tempo para o trabalho, caminho para o sucesso; há que reservar tempo para a reflexão, fonte do autoconhecimento; e há que reservar tempo para os estudos, chave da sabedoria. Acima de tudo, há que reservar tempo para ser útil, pois a vida é curta demais para nos permitirmos ser egoístas.

Já dizia o imperador Marco Aurélio que a vida é “um definhar diário”. Adepto da corrente filosófica estoica, ele falava da incerteza do nosso período na Terra e, pior, da dúvida quanto à capacidade de nossa mente se manter lúcida ao longo dos anos de modo que possamos seguir em nossas tentativas de compreender o mundo e de contemplar o divino e o humano. Em resumo, o tempo físico pode até ser o mesmo para todos nós, mas a percepção dele varia de acordo com o aproveitamento que lhe damos. Se é assim, não deveríamos nos dar ao luxo de desperdiçá-lo com trivialidades, vivendo em função de suposições e conjecturas, por exemplo, e sim apreciar cada momento como único e, talvez, último.

É sobre a busca frenética pela otimização do tempo que conversaremos hoje, inspirados na história de Ingrid Pinheiro, ex-aluna e atual colaboradora do Gran que hoje também é servidora do Judiciário. Vamos conhecê-la?

Sabe aqueles alunos de destaque na escola que costumam até receber prêmios por conta do excelente desempenho acadêmico? Pois então, Ingrid foi um deles. Aprender os conteúdos era muito fácil para ela. Foi assim no tempo do colégio e também na faculdade. Interessada pelas mais diversas áreas, a menina Ingrid perseguia o conhecimento por pura curiosidade.

Nessa constante busca por novidades, ela chegou a estagiar no Ministério Público e na Defensoria Pública. Comunicativa, conversava bastante com os servidores e assistentes a fim de entender melhor os problemas enfrentados pelo público que recorria aos órgãos e, quem sabe, propor possíveis soluções. Quando ajudava alguém a conseguir uma medida liminar, era aquela festa! O trabalho lhe era extremamente gratificante.

Decidida a se tornar defensora pública, Ingrid achou que seria fácil passar no concurso; afinal, acumulara inegável experiência como estagiária e tinha evidente facilidade em aprender. Certamente, bastaria estudar alguns meses para ingressar na carreira… Ninguém lhe avisou, porém, que estudar para obter boas notas na escola ou na faculdade é uma coisa, mas estudar a fim de ser aprovada dentro do número de vagas em um concurso público é algo bem, bem mais complicado.

Ao cometer esse erro de avaliação, Ingrid enfrentou a maior frustração de sua vida. Assistiu, incrédula, aos colegas e melhores amigos da faculdade assumindo cargos de procurador, defensor e juiz enquanto ela ficava para trás. Demorou para perceber que lhe faltavam habilidades como foco, consistência e disciplina, indispensáveis quando o objetivo é passar em um concurso público, mais importantes até que uma excepcional facilidade em aprender ou uma inteligência superior.

Mas ainda não foi aí que nossa protagonista compreendeu onde estava falhando. A chave virou e a ficha caiu mesmo quando ela soube que a mãe sofria de um câncer em estágio avançado. Tempos difíceis nos fazem crescer. Foi assim com Ingrid, que finalmente percebeu que precisava se apressar se queria mesmo fazer algo que orgulhasse aquela que era a mulher mais importante da sua vida. Dando um passo atrás, desistiu da Defensoria e se voltou para a carreira de Analista Judiciária, que costuma oferecer mais vagas nos concursos dos tribunais.

A vida é assim, exige de nós força, determinação, sabedoria, disciplina e alguma flexibilidade para lidarmos com os inevitáveis infortúnios em nosso caminho. Usando de metáfora, Ingrid precisou trocar a turbina do avião em pleno voo de cruzeiro. De repente se viu com a missão de cuidar da mãe e estudar firme para que lhe fosse possível aprender em pouco mais de um mês tudo que estava previsto no edital do concurso em que se inscrevera. Foi uma verdadeira loucura, mas a candidata agiu com pragmatismo: mapeou os assuntos mais cobrados nas provas, matriculou-se em um curso online e passou a estudar em qualquer tempo livre que surgisse.

Na sala de espera das sessões de quimioterapia da mãe, lia materiais em formato PDF e assistia às videoaulas. Nos dias difíceis, dava preferência às aulas mais dinâmicas e interessantes, pois precisava manter o ritmo para não desistir. Nos piores momentos, mesmo, conseguia assistir no máximo a uns quatro vídeos; às vezes um só… Tudo certo, desde que não deixasse de estudar um pouco que fosse, porque – ela sabia bem – o hábito do estudo leva tempo para ser construído, mas pode ser perdido rapidamente.

Aqui, cabe uma observação. Se você me acompanha neste espaço, já me viu comparando a preparação para concursos com a prática de esportes ou atividades físicas em geral. No caso dos exercícios, há dias em que só é possível fazer uma corrida leve, mas tudo bem: o que importa é manter a rotina de movimentar o corpo. Quando se trata do concurseiro, é a mente que precisa estar em atividade constante.

No fim, deu tudo certo: nossa candidata conseguiu ser aprovada dentro do número de vagas no concurso para Analista Judiciária do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Aquele foi um concurso muito difícil em termos de concorrência e de quantidade de matérias e conteúdos cobrados, equiparável aos certames para as carreiras jurídicas. Outra fonte enorme de alívio: a doença da mãe de nossa protagonista, depois de uma cirurgia e sessões de quimioterapia, estava controlada.

Seja como for, nossa colega aprendeu muitas lições naquele período difícil, talvez o mais delicado e angustiante da sua vida. Creio que vale resumir algumas:

1. Nos momentos de hesitação, pense sempre que você só precisa dar mais um passo. Nem sempre será possível enxergar todo o caminho pela frente; pior, visualizar o percurso completo talvez seja até um tanto desmotivador. Concentre-se no próximo degrau da escada em vez de se preocupar com a escada inteira, assim você poderá ir muito além do que imaginava. A cada dia, repita o mesmo mantra: “Só preciso de mais um dia, só preciso acordar amanhã”. Foque no processo em vez de no resultado. Avance um pouquinho de cada vez e, quando chegar ao destino, celebre intensamente. Acredite, todo o esforço terá valido a pena.

2. Por pior que seja nossa realidade, tudo se torna insignificante e sem importância quando testemunhamos o sofrimento de alguém em piores condições. Ingrid sentiu isso na pele, ao dividir com os pacientes da ala oncológica da Santa Casa o dia a dia sofrido do tratamento. Histórias como a da mulher diagnosticada com câncer terminal e que chegava sozinha, de ônibus, para as longas sessões de quimioterapia faziam Ingrid refletir: “Se essa senhora consegue enfrentar um problema que parece insolúvel, por que eu deveria reclamar da minha situação, cuja solução só depende de mim?”

3. Temos de realizar bem nosso trabalho diário e cumprir as nossas obrigações sem perder a empatia pelos problemas alheios. Acima de tudo, precisamos ser muito gratos a Deus por permitir que histórias como a de Ingrid e sua mãe tenham um final feliz.

4. O que de fato importa na vida são as pessoas que desejamos ter por perto, especialmente os membros da família. Não queira, como Ingrid, ter de passar pela experiência de quase perder um ente querido para começar a dar valor ao que é realmente precioso.

Em síntese, a dor e o sofrimento podem orientar o rumo que devemos tomar, ajudando-nos a descobrir aonde temos mesmo de chegar. Talvez não seja exatamente o que você tem em mente… Eventualmente pode ser necessário despertar na marra o gigante adormecido dentro de si, sob pena de ele nunca sair do estado de letargia.

Então não espere estar completamente pronto, até porque talvez você nunca esteja. Antes disso, tal como aconteceu com Ingrid, um imprevisto qualquer pode bater à sua porta e instaurar o caos em sua vida, tirando você do controle que julgava ter. Para reassumi-lo, viva um dia de cada vez e, de noite, prepare a mente e o espírito para enfrentarem o próximo. Com o tempo, esse velho amigo, a persistência se transformará em hábito, depois em parte de você. É quando você terá se tornado um imparável, sempre disposto a partir para novas conquistas. E aí, meu caro, o céu é o limite.

Assista à entrevista de Ingrid que fiz para o canal Imparável. Clique AQUI e prepare-se para se inspirar.

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