Apesar do título sugestivo, a nossa conversa de hoje não será sobre culinária. Aliás, mau cozinheiro que sou, não faço nem ideia de qual seja a panela mais indicada para preparar este ou aquele prato. Quanto ao feijão, tudo que sei é que é uma boa fonte de carboidratos, ferro, cálcio, potássio, fósforo e fibras. Assim, embora eu seja um devorador contumaz desse alimento que marca presença na mesa dos brasileiros, estou bem longe de me sentir seguro para tentar preparar uma feijoada ou mesmo o feijão de caldo básico de todo dia. Reconheço que provavelmente eu pagaria um grande mico.
Então, não, não vamos trocar receitas de feijão aqui. Não se preocupe, que logo você vai entender o porquê do título do texto. Na verdade, a mensagem de hoje é sobre conhecimento e sabedoria. Qual é o significado dessas duas palavrinhas? Será que estamos diante de sinônimos? Em caso negativo, o que difere um termo do outro? E o que isso tem a ver com você e sua busca por realização pessoal?
Para introduzir o tema, peço licença para contar duas historinhas, que ilustram como o conhecimento e a sabedoria funcionam na prática. Naturalmente, fiz pequenos ajustes nos contos originais, a fim de torná-los mais fáceis de assimilar.
Lá vai a primeira: Certa vez, dois discípulos procuraram o mestre com a intenção de que ele lhes ensinasse a diferença entre conhecimento e sabedoria. Em resposta, o mestre pediu que, no dia seguinte, pela manhã, os dois colocassem vinte grãos de feijão dentro dos sapatos e subissem o monte da aldeia até o ponto mais alto.
Os dois obedeceram. Um deles, no entanto, precisou parar várias vezes no trajeto por causa dos pés machucados pelos grãos duros nos calçados. E reclamava de dor, e andava mais um pouco; e parava de novo, e tornava a resmungar; e seguia por mais um metro ou dois… Enquanto isso, o outro apenas sorria. Assim que chegaram ao destino, o resmungão de pés esfolados perguntou ao parceiro de aventura como ele conseguira suportar a dor sem interromper a escalada nem reclamar dos feijões que deviam estar lhe ferindo os pés. O homem respondeu, simplesmente: “Ontem à noite eu cozinhei os grãos.”
A segunda história ocorreu na cidade de Granjeiro, no interior do estado do Ceará, onde costumava haver um concurso de cortar troncos. Havia por lá um mestre lenhador famoso por sempre vencer a competição, mas as coisas pareciam estar prestes a mudar, porque, desta vez, um jovem forte, musculoso, sarado mesmo, resolvera desafiar o campeão invicto, inclusive apostando muito dinheiro na disputa.
O concurso começou, e de hora em hora o mestre lenhador interrompia o trabalho e se sentava um pouco. O jovem, por sua vez, não parava um só segundo. No fim, feita a contagem dos troncos cortados, adivinhe só? O lenhador vencera de novo. “Não é possível!”, reclamou o rapaz. “Como o senhor pode ter ganhado, se eu o vi parar tantas vezes para descansar?”, perguntou ao, de novo, campeão. “Ora”, respondeu o homem, “eu não estava descansando. Apenas parei algumas vezes para afiar o machado.”
Pois bem, amigo leitor, amiga leitora. Quando temos algum objetivo importante na vida, é uma boa ideia buscar a melhor percepção possível dos fatos que acontecem a nossa volta. Nesse contexto, compreender a diferença entre conhecimento e sabedoria pode ser fundamental, já que, a depender da situação, um pode ser mais proveitoso que o outro.
Conhecimento é o conjunto de informações que temos sobre algo. Pode ser conhecimento de matemática, de história ou de qualquer outra disciplina formal, mas pode ser também conhecimento de vida, que todos acumulamos ao longo do tempo. Sabedoria, por sua vez, é utilizar bem esse conhecimento. Sábios têm mais paz de espírito, pois entendem que os obstáculos surgem no caminho para ensinar. De fato, é inegável como aprendemos a cada dificuldade superada, não é? No mínimo descobrimos como lidar com elas da melhor forma e, assim, ganhamos tempo na próxima vez. Em outras palavras, as adversidades são fonte de sabedoria, mais do que de conhecimento.
A senhora Vida gosta de dificultar nossos avanços, fazendo surgir em nosso caminho surpresas, muitas vezes bem complicadas de resolver com apenas conhecimento. Refiro-me àquele tipo de situação que exige algo mais de nós, um certo grau de esperteza e uma boa dose de prudência que só a sabedoria nos dá. Sabedoria é, então, a rara qualidade de quem põe em prática o conhecimento acumulado, a fim de tornar seu tempo na Terra prazeroso e marcado pela simplicidade e pela leveza. Albert Einstein resumiu bem a questão: “A sabedoria não é o produto da escolaridade, mas a tentativa de adquiri-la ao longo da vida”.
Percebe como sabedoria não tem nada a ver com intelectualidade, e sim com pragmatismo? A intelectualidade está, na verdade, mais associada ao conhecimento, ao tal do “coeficiente de inteligência” (QI), ao passo que sabedoria remete a valores como humildade, honestidade, franqueza, misericórdia, integridade, autenticidade. Quantas pessoas você conhece que têm muitas graduações e títulos acadêmicos, mas nenhuma ou pouca sabedoria? Eu conheço muitas. Também conheço alguns concurseiros que, apesar de terem muito conteúdo, não sabem fazer prova – isto é, não sabem utilizar o conhecimento acumulado –, por isso não passam ou ao menos não se classificam de jeito nenhum nos concursos. Vários deles não se dão ao trabalho sequer de conhecer a banca examinadora! Ora, o general chinês Sun Tzu milênios atrás já ensinava que, “se você conhece o inimigo, não perderá as batalhas que enfrentar”.
Vejamos, pois, três traços de alguém sábio:
- O sábio se coloca no lugar dos outros, tem empatia, pensa em como suas decisões e palavras podem afetar as outras pessoas;
- Ele sabe que não sabe tudo. Sabe que a vida nada mais é do que uma grande sala de aula e que toda pessoa que atravessa seu caminho é um potencial professor. Sabe, ainda, quando é hora de fechar a boca e apenas ouvir;
- É sensível, humilde e sincero. Consegue, graças a essas qualidades, equilibrar as emoções de forma que elas não atrapalhem a tomada consciente de decisões.
Em síntese, caro leitor, se conhecimento está para o conjunto de informações, experiências e aprendizados que internalizamos do mundo a nossa volta e arquivamos no cérebro, sabedoria tem a ver com o modo como utilizamos esse conhecimento na prática, ou seja, como o exteriorizamos. Sabedoria é o caminho – nunca o ponto de chegada – que nos permite ir hoje um pouco além do que fomos ontem. É um privilégio daqueles que não se contentam em ter apenas conhecimento.
Então sigamos juntos e sempre em frente, acumulando conhecimento, que entra pela mente, sem jamais deixar de buscar sabedoria, cuja porta de entrada e de saída é o coração. Saibamos cozinhar os nossos feijões para que eles, tornados macios, não nos machuquem os pés, e tenhamos humildade para reconhecer que é prudente de tempos em tempos parar e afiar o machado com o qual desbravamos a estrada rumo à realização dos nossos sonhos.
“Como é feliz o homem que acha a sabedoria, o homem que obtém entendimento, pois a sabedoria é mais proveitosa do que a prata e rende mais do que o ouro.” (Provérbios 3:13-14)
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