O poder da empatia

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22 de Agosto de 2022

Hachiko, um cachorro da raça akita, conhecida pela lealdade, era filhote quando foi encontrado abandonado numa estação de trem de Tóquio. Parker, que o acolheu, era um professor universitário que todos os dias tomava o trem para o trabalho. Num primeiro momento, os dois trocam olhares. Não demora nada, aproximam-se um do outro, e mãos, patas e rostos se tocam suavemente. Ocorria ali uma profunda identificação entre os dois, um encontro de almas, sabe? O cãozinho logo conquistou a todos da família, mas sua paixão era mesmo o senhor Parker, com quem manteve até o fim da vida uma amizade surpreendente, marcada por empatia, lealdade e infinito amor.

O tempo passa, mas a rotina se mantém: diariamente o “doguinho” acompanha o tutor até a estação, de onde o mestre segue para mais um dia no nobre ofício de lecionar e ajudar jovens a mudar de vida. No fim da tarde, era certeza: lá estaria o cão aguardando o amigo desembarcar para juntos retornarem para casa. Esse ritual se repete por meses, até que um dia o homem simplesmente não volta. Vítima de uma hemorragia cerebral no meio de uma aula, Parker nunca mais sai dos vagões para encontrar aquele que o espera abanando o rabinho.

Não faz diferença. Não para Hachiko. Por anos a fio – precisamente 11 anos e 4 meses – o cãozinho continua indo até a estação dia após dia, no mesmo horário, na esperança de que o amigo-professor chegue no próximo trem. Envelhecido e muito fraco, dá o último suspiro no mesmo lugar onde durante anos ficara pacientemente à espera do dono.

Esse é o resumo do filme “Sempre ao seu lado”, baseado em fatos que ocorreram no Japão. Não há como não se emocionar com o longa. Busquei essa história comovente porque ela remete ao tema da empatia, que, na minha opinião, deveria estar em alta, sobretudo depois de termos vivido a maior pandemia da nossa geração.

Pois bem. Você consegue se pôr no lugar de Hachiko e sentir o que ele devia sentir a cada vez que não via o amigo desembarcar na estação? Pode imaginar a tristeza dele por lhe ser negada a oportunidade de abraçar e cheirar, uma última vez que fosse, quem ele tanto amava?

Sim, quero falar sobre empatia, essa capacidade que a maioria de nós – felizmente – tem de compreender os sentimentos e pensamentos de outro ser, como se estivéssemos no lugar dele. O cachorrinho da história amava tanto quem o acolhera filhote, se conectara a ele de forma tão profunda que sabia como Parker, depois de um longo dia de trabalho, apreciaria um abanar de rabo, um abraço efusivo, um carinho especial do cãozinho. Seria algo que, Hachiko sentia, traria alegria a seu tutor – e também a ele próprio, pois a satisfação e o afeto correm numa via de mão dupla.

Alguém empático ama pessoas sobre todas as coisas. Valoriza gente mais do que status, posição social, riqueza, raça ou credo. Nutre amor e interesse genuíno pelo próximo e sente-se bem em ajudar, seja tocando grandes projetos com ou por ele, seja simplesmente ouvindo e se esforçando para compreender suas aflições.

No mundo empresarial, um líder demonstra empatia para com seus liderados ao agir mais pautado pela solidariedade do que pelo desejo de glória pessoal, poder e ganho financeiro. Digo por mim: se sei que um liderado meu está passando por um momento difícil, procuro me colocar no lugar dele e ser ainda mais prestativo do que de costume. Isso não significa, é claro, fazer só o que o outro deseja, mas um pouco de sensibilidade é sempre bom. Um líder empático tem os olhos voltados ao mesmo tempo para as estatísticas da empresa e para a força humana que está na linha de frente. Saber equilibrar os dois campos é fundamental.

Qualquer outra pessoa, independentemente se em posição de liderança ou não, age com empatia quando, em vez de julgar friamente, tenta compreender o comportamento de quem está ao seu redor. Se um colega erra, o empático vem em seu socorro, mas com atenção especial para os sentimentos de quem está na pior. Isto é ser empático: identificar-se com o outro e entender suas razões sem medir a situação pela própria régua.

Ainda assim, é preciso dizer: não é nada fácil manter a empatia. Sabe por quê? Porque cuidar de alguém impõe certas renúncias. Dispor-se a sofrer as dores de outro a fim de ampará-lo é um exercício diário de abnegação, sobretudo se estamos falando de um desconhecido ou de alguém com quem não temos nenhum vínculo afetivo forte. Se já é difícil ser desapegado em prol de quem amamos, que dirá ser altruísta em relação a quem mal conhecemos… Mas é aí que mora a magia: a empatia desperta o que há de melhor em nós e nos inunda de sensações boas quando nos percebemos úteis.

É o que experimentamos, por exemplo, quando exercemos nossa empatia em face do sofrimento de um concurseiro que, embora bem-preparado, acabou de ser reprovado. O candidato tende a se sentir destruído, destroçado. Desiludido, não sabe o que fazer e começa a se sentir impotente, fracassado, “burro”. O primeiro impulso é largar tudo, apesar de o cargo dos sonhos estar mais próximo agora do que estava antes. É esse o ponto, aliás. Dificilmente ele conseguirá ver sozinho o quão perto está de ter sucesso, então cabe a um amigo, um mestre ou alguém da família ajudá-lo a centrar-se de novo.

O empático não julga; é sincero. Mais que isso, passa confiança, escuta atenta e pacientemente, presta atenção aos detalhes, reconhece as limitações, vulnerabilidades e diferenças do outro, trata com urbanidade a pessoa que passa por um momento ruim. Enfim, está à disposição para ajudar no que for preciso.

Então é isso, amigo leitor. A palavra-chave de nossa conversa de hoje é “empatia”. Nada de querer dominar os outros e fazer as coisas sempre do seu jeito. Trate de ouvir mais e falar menos. Seja, enfim, empático. Tenha amor ao fado, ao destino. Receba cada coisa ou cada pessoa diante de você como um presente, uma oportunidade, a chance da sua vida para fazer algo extraordinário e útil. Entenda que é dando que se recebe; é lançando boas sementes que se colhem bons frutos; é ajudando que se é ajudado.

Empatia. Anote essa palavra. Vivencie-a, dentro e fora de si mesmo.

“Não sei qual será o destino de vocês, mas sei de uma coisa: aqueles entre vocês que realmente buscarem e descobrirem como servir serão felizes.” – Albert Schweitzer (1875-1965), filósofo e médico alemão

 

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