Algumas histórias começam com a voz rouca de quem atravessou noites mal dormidas em ônibus de estrada. A de Noemi Araújo e Silva dos Santos tem esse tom. Aos 40 anos, após mais de vinte concursos, ela ainda carregava uma pergunta incômoda: até quando? A resposta não veio de forma espetacular, mas chegou: Técnica Judiciária Administrativa do TRT-4 era o destino, e cada passo até essa conquista seria dado longe dos holofotes, em decisões solitárias e muita, muita persistência.
Filha de uma professora e de um advogado, Noemi mirava o curso de Direito. Foi barrada duas vezes no vestibular. Na terceira tentativa, acabou abraçando a segunda opção, Administração. Ao longo da graduação, estagiou numa tradicional escola de inglês de Salvador. Contratada, permaneceu na função por quase dez anos. O projeto de estudar “um pouco” para concurso começou tímido, inspirado em duas primas – uma aprovada para o TRT, outra para o TRE – e com material de estudo emprestado. Mas a vida costuma apertar para sinalizar que é hora de acelerar: quando a escola de inglês fechou e inseriu Noemi na estatística do desemprego, o estudo, antes difuso, teve de ganhar método.

Noemi fazendo simulado no ônibus da excursão para a prova do TRT-MG.
Foram inúmeras viagens Brasil afora, com muitos perrengues no caminho.
No início, Noemi cometeu o equívoco clássico: acreditar que basta ocupar uma cadeira no cursinho presencial. A experiência lhe rendeu apenas isso, experiência, e nada do nome na lista de aprovados. Em 2016, ela descobriu o Gran e trocou o curso caro pelo online que cabia no orçamento. Foi só então que começou a entender o que era estudar de verdade, assistindo a viedoaulas, anotando, revisando e resolvendo questões… Nessa fase, chegou a pegar um “bico” em call center, onde sentiu na pele o que é trabalhar sob pressão. Não demorou para concluir que estabilidade não é luxo; é necessidade, especialmente quando não se quer cumprir metas por minuto nem ser obrigado a manter a voz calma e sorridente o tempo todo.

Das antigas em um Gran Dicas, quando eu ainda nem namorava a minha atual esposa e mãe dos meus três filhos. Rs
Então a roda da vida girou mais um pouco e incluiu outra variável na equação: a doença do pai. Câncer. Começaram os deslocamentos diários para consultas e exames, além das viagens para as sessões de radioterapia. Em plena pandemia, o home office até ajudava na logística, mas não aliviava o coração. Noemi trabalhava até o meio da tarde, depois levava o pai para o tratamento e, de noite, estudava até as 21, 22 horas. Dormia cedo não por preguiça, mas por saber que cérebro cansado não aprende. Foi nesse ritmo que encontrou o método que funcionava melhor para ela. A sequência era videoaulas, resolução de questões e revisão honesta dos erros, tudo acompanhado de uma boa noite de sono.

Último dia de radioterapia, com o pai e a enfermeira que cuidou dele durante o tratamento.
Os primeiros resultados vieram em conta-gotas. Noemi começou a ver o nome nas listas de aprovados, ainda que em concursos menores, e até a alcançar boas colocações em certames como o do TJ e do TRT do Espírito Santo. Também começaram os “quases”, que frustram e ao mesmo tempo ensinam.
O grande sonho, no entanto, tinha endereço certo: TJDFT. As passagens e a hospedagem já estavam compradas quando a FGV transferiu o local de prova para Goiânia. Um único parágrafo no site da banca arruinou meses de planejamento. Noemi pesou tudo e viu que atravessar de ônibus até Brasília, assistir ao Gran Dicas, seguir exausta para Goiânia e ainda fazer prova era receita certa para a reprovação. Tomou a difícil decisão de não ir. Chorou e respirou fundo, pronta para a próxima.

Lágrimas que depois viraram vitória.
O fotógrafo registrou essa forte imagem em um Gran Dicas durante a pandemia.
Por acaso ou providência, assistiu a um professor do Gran mencionando o edital do TRT-4, no Rio Grande do Sul. As milhas que seriam para Brasília eram a conta exata para o voo até Porto Alegre. Às vezes, quando tudo se encaixa, é só Deus sussurrando “Vai!”.
Ela foi. No sábado, participou da nossa revisão de véspera tomando notas como se aquela fosse a última aula do mundo. No domingo, enfrentou duas provas. Entre uma e outra, o almoço foi pão e suco de caixinha. Na saída, com o orçamento apertado, em vez do carro de aplicativo com tarifa dinâmica, pegou um ônibus para a rodoviária. Quando saiu o resultado, foi aquele misto de euforia e incredulidade ao confirmar que o nome na lista era mesmo o seu.
A sensação era ótima, mas, ainda assim, Noemi não parou. Continuou estudando e fazendo provas enquanto aguardava a nomeação. O capítulo mais bonito dessa história, aliás, foi escrito justamente durante as nomeações. Uma candidata que estava à frente de Noemi sumiu do grupo de aprovados. Sem nenhuma manifestação dela nas conversas, Noemi saiu pelas ruas de Salvador em busca de notícias. Procurou o endereço, falou com o porteiro, deixou contato. O retorno veio na voz de uma mãe em plena dor: a moça havia falecido, vítima de câncer.
Noemi chorou – por alguém que nem sequer conhecia –, mas resolveu agir para que o processo não parasse. Decidida a não incomodar a família enlutada, providenciou com outras colegas a certidão de óbito e informou o tribunal, cuidando para que tudo ocorresse sem ferir ninguém e com o máximo de respeito possível. Embora inserida num cenário de competição extrema, Noemi lembrou que humanidade é condição para o verdadeiro mérito.

Coleção de camisetas da Noemi. Você tem alguma dessas?
E, então, a nomeação e a posse finalmente se tornaram realidade. Uma sexta-feira de agosto virou a sexta-feira da vida. Noemi escolheu a cidade que seria seu novo lar e pousou em Carazinho sob o frio gaúcho. Ali, foi apresentada ao novo melhor amigo, o aquecedor.

Assinando o sonhado termo de posse.
Os ônibus noturnos; as longas excursões para o interior de Minas, Goiânia, Piauí e Espírito Santo; o pão com suco; o call center; o hospital… Tudo isso agora é história – história de uma mulher que carrega no peito, orgulhosa, o crachá do TRT-4.
Já lhe perguntaram se em algum momento ela pensou em desistir. A resposta é “não”. Muitas vezes o desânimo bateu, sim, mas nada que a fizesse renunciar ao seu sonho. Quem já pagou passagem em dez vezes, atravessou o país com apostilas na mochila e o orçamento contado, dividindo o dia entre estudo, trabalho e hospital, entende que desistir não é opção.
Pois bem. A moral dessa história é que nem mesmo um pai doente ou o cansaço extremo de tantas andanças pelas estradas do Brasil – sem dinheiro para uma alimentação digna – são justificativa para desistir de um grande sonho. A persistência, nesse caso, envolve saber quando é hora de dar uma pausa e simplesmente dormir um pouco antes de retornar ao lugar certo: a mesa, o caderno, a aula, as questões.

Comemorando com os pais o primeiro mês como servidora pública federal.
Noemi tomou posse com os dedos congelando e a alma em festa. Ela não venceu porque passou; passou porque, ano após ano, escolheu vencer.
Então, caro seguidor, trate de tomar nota do mapa que ela deixou: estude com método, respeite suas limitações – financeiras e emocionais –, lide com suas fraquezas e cuide dos seus. Em resumo, siga firme, um dia após o outro, que uma hora será a sua vez de abrir o Diário Oficial e ver o seu nome lá. Nesse dia, você finalmente compreenderá que a vitória começou de verdade quando você decidiu que seu sonho vale qualquer esforço.

Noemi voltou a um Gran Dicas, desta vez como servidora pública federal e apenas para agradecer ao nosso time.
Nós que agradecemos, Noemi!
Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran, maior Edtech do Brasil em número de alunos, com mais de 800 mil discentes ativos pagantes. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha o universo dos concursos desde a adolescência e ingressou profissionalmente nele aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanais para o blog do Gran, que já somam milhões de leitores.
Formou-se entre os melhores alunos em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Foi incluído na lista Forbes Under 30 (2021), eleito Empreendedor do Ano pela Ernst & Young (2024) e reconhecido pela MIT Technology Review como Innovator Under 35 no Brasil e na América Latina. Autor de quatro livros best-seller na Amazon Kindle.
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