Tenho acompanhado nas redes sociais, e às vezes até mais de perto, pessoas que se dizem infelizes. As causas variam pouco: em geral, é gente que se sente dançando a música dos outros, meio fora de ritmo, como se não conseguisse ouvir a melodia que está tocando especificamente para si. São homens e mulheres, jovens e com mais idade, que dão mais voz do que deveriam aos parentes, amigos, colegas e quem mais queira ditar o caminho pretensamente “ideal”, supostamente “correto”.
É lamentável constatar que muitos de nós insistem em viver a vida dos outros, isto é, apenas seguir o rastro e a sombra do rebanho. Sobre isso, o filósofo estoico Sêneca, que viveu de 4 a.C. a 65 d.C., já ensinava: “É triste realmente a condição de todas as pessoas ocupadas. No entanto, a mais triste é a daqueles que sofrem não pelas próprias ocupações, que dormem conforme o sono alheio, andam pelo passo alheio, amam e odeiam mediante ordens, sentimentos os mais livres de todos. Estes, se quiserem saber quanto é breve a própria vida, pensem que pequena parte é de fato sua”.
Ignorar o potencial que temos dentro de nós, permitindo que os outros ditem o que devemos ou não devemos fazer, equivale a esquecer quem somos. Mais que isso, é o mesmo que abandonar a semente do nosso futuro em qualquer lugar onde lhe será inviável brotar e render frutos. Nada de bom pode surgir desse erro, seja no campo individual, seja no coletivo. De fato, tão difícil quanto evoluirmos como indivíduos é avançarmos enquanto nação, ou mesmo espécie humana, sem a consciência de que temos de começar a reforma de dentro para fora, cultivando o futuro em terra fértil e sendo zelosos nos cuidados diários e contínuos até a colheita.
Refiro-me a assumir a responsabilidade por algo valiosíssimo que nos foi dado com o dom da vida: o senso de propósito. Sim, a vida só faz sentido quando se atende ao propósito que a acompanha. Todavia, tenho a impressão de que muitos de nós têm negligenciado esse aspecto importantíssimo de sua existência. Que todos nascemos com um dado propósito, quase todos concordam; infelizmente, porém, boa parte das pessoas – normalmente são aquelas que se sentem infelizes – mal sabem qual é o seu. Quanto a isso, não há saída: elas precisam descobrir sozinhas para, na sequência, num exercício diário de resiliência, seguirem avançando, um passo de cada vez, na busca por realização.
O filósofo chinês Confúcio, há mais de 2,5 mil anos, diante da pergunta de um discípulo sobre como mudar o mundo, nos legou uma valiosa lição. Segundo ele, primeiro há que orientar as famílias a cultivar seus valores e crenças. Depois, deve-se pedir que os membros desse núcleo familiar mudem a natureza dos seus sentimentos a fim de que os pensamentos reflitam mais sinceridade. Feito isso, cada um precisa buscar o verdadeiro conhecimento, que reside em sua alma. Sentimentos e pensamentos renovados, personalidade transformada, o resultado é uma família mais bem-orientada, um Estado mais bem-organizado, uma sociedade com mais Ordem, Harmonia e Justiça. Difícil seguir esse roteiro? Sem dúvida. Mas acredito de verdade que devemos ao menos tentar.
Então fica a dúvida: será que temos dançado a melodia errada? Talvez a maioria de nós, sim, e sabe por quê? Porque essa gente tapou os ouvidos, endureceu o coração, trancou a alma; enfim, escolheu seguir um manual que não é o seu. Ainda assim, tenho fé de que, se essas pessoas decidirem virar a chave e escolher amar a si próprias e ao próximo, o futuro lhes reservará boas surpresas.
O nosso destino deve ser um só: a vida com propósito, esse presente tão precioso que nos foi dado sem que se pedisse nada em troca. Quanto mais comprometidos com ela estivermos, maior será a nossa capacidade de controlar até mesmo os efeitos nocivos que certas pessoas produzem em nós, e mais fácil será caminhar na direção dos nossos sonhos. Só há um pequeno problema nisso tudo: para seguirmos no rumo certo, temos de saber exatamente aonde queremos chegar, e isso só é possível para quem se conhece de verdade e compreende por que está aqui. A boa notícia é que, quanto mais certeza temos de quem somos, menos importa o juízo que os outros fazem de nós, e é assim que a vida vai ficando mais leve de levar…
A descoberta é diária e pressupõe força de vontade e dedicação, pois a resposta tem de vir de você. Ninguém deveria sequer cogitar dizer quem você é, menos ainda opinar sobre quem você deveria ser. Assuma esse papel para si e proíba os outros de se envolverem onde não são chamados. O protagonista da sua história há de ser você, ninguém mais.
“A vida não examinada não vale a pena ser vivida.” – Sócrates (470-399 a.C.), filósofo
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