Sem plano B

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A cidade era Cabedelo, na Paraíba. A casa ficava num bairro difícil, com a esquina vigiada por olhares que há muito tinham desistido. Boa parte dos amigos de infância estavam perdidos nos atalhos do crime. George, não. 

A mãe repetia como um mantra: “Estuda, meu filho. Estuda.” E ele obedecia. Ficava em casa, caderno aberto, cultivando o silêncio de quem escolhe um destino diferente. No sexto ano, conquistou a medalha de bronze na Olimpíada Brasileira de Matemática. O pequeno disco metálico carregava uma mensagem imensa: “Você consegue”.

Com a pandemia de covid-19, veio também a urgência. O salário de operador de máquina do pai mal cobria as despesas básicas, e os irmãos estavam desempregados. George quis ajudar. Passou a assistir às aulas on-line pela manhã e a vender sacolas de tarde, batendo de porta em porta. Ganhava cerca de trinta reais por dia. Era pouco, mas a conta de luz paga foi motivo de orgulho.  

Depois, foi assistente de pedreiro. A rotina era dura: tijolo, cimento, sol escaldante… e sessenta reais a diária. Acordava às cinco da manhã e estudava no ônibus. No intervalo do almoço, equilibrava o garfo em uma mão e o caderno de questões na outra. À noite, seguia firme até o corpo ceder ao cansaço.  

Para George, não havia plano B. Vencer pelo estudo era a única opção.

Então veio o Enem, e sua nota abriu as portas da universidade. Ele entrou, mas as contas tornaram a apertar. O jeito foi voltar aos canteiros de obra entre um período e outro da faculdade.  

Até que uma amiga deu a dica que mudaria tudo: o Banco do Brasil estava abrindo concurso para a área de tecnologia. O edital pedia só ensino médio, o que favorecia candidatos como George. Além disso, o conteúdo não o assustava, e o velho computador compartilhado com os irmãos já havia se transformado em um laboratório improvisado de programação, ótimo para praticar.  

Só lhe faltava método, que ele logo encontrou. Assinou a plataforma Gran, organizou o caos, criou rotinas, tornou-se fã de videoaulas e fez da resolução de questões um hábito, quase um vício bom. De manhã, estudava língua portuguesa; de tarde, mergulhava no Gran Questões; de noite, revisava tudo.  

A confiança crescia no mesmo ritmo do cansaço. No fim, a certeza era tanta que George deixou a sala de prova com a serenidade de quem fez o que tinha de ser feito. 

“Eu sei que passei.”

E passou mesmo.  

George foi direto do canteiro de obras em Cabedelo para a tecnologia do Banco do Brasil em Brasília. De sessenta reais por dia, passou a receber um salário que, para quem já assentou tijolos em troca de arroz e feijão, era inimaginável.  

Juntou dinheiro e, com apenas 22 anos, comprou uma casa nova para os pais, em um bairro seguro, onde o medo não ronda a porta. “Minha família não passa mais fome”, diz, com a voz firme de quem venceu.  

O pai, homem de poucas palavras e sonhos contidos, hoje enche o peito para anunciar na fábrica: “Meu filho é um gênio. Trabalha no Banco do Brasil.”

George comprou para os pais uma casa em um bairro bem mais seguro que o anterior.
Ela ainda está em reforma, mas ficará pronta logo, logo.

Muitos diriam que agora George deveria desacelerar. Mas para ele não tem essa. A dedicação é mesmo traço da sua personalidade e vem lhe rendendo outros frutos, como a graduação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e dois prêmios de melhor aluno do semestre. Além disso, ele tem lá seus planos profissionais e o desejo genuíno de inspirar outros “Georges” que estudam no ônibus e dividem o computador com os irmãos.

George é empregado destaque no Banco do Brasil.

Histórias como essa costumam ser vistas como milagre. Mas não é disso que se trata. O que George fez foi desenvolver um método eficaz, estabelecer uma rotina disciplinada e ter a coragem de dizer “não” a tudo que pudesse desviá-lo do caminho. Sua bússola sempre apontou para a mesma direção: sem plano B.  

Quem começou vendendo sacolas e ajudando a subir paredes sabe que o sucesso não depende de sorte. Ao contrário, o futuro se constrói dia após dia, com esforço, foco e persistência. O fato é que George ganhava sessenta reais por dia como ajudante de pedreiro e hoje, pelas suas contas, recebe quase isso por hora. Veja a diferença!

Então, caro leitor, se estas linhas alcançaram você no fim de um dia exaustivo, quando corpo e mente pedem trégua, seja resiliente. Escolha ler mais uma página. E depois outra. E mais uma. Aproveite cada oportunidade para estudar – no trajeto do ônibus, no intervalo do almoço, nas menores pausas do cotidiano. E resolva questões até entender onde está errando. 

Em resumo, organize-se, monte um bom plano de estudos, peça ajuda quando necessário, mas, acima de tudo, mantenha a constância. Acredite: chegará o momento em que você também sairá da prova com a certeza de que passou.

Nem precisa de legenda.


Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran, maior Edtech do Brasil em número de alunos, com mais de 800 mil discentes ativos pagantes. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha o universo dos concursos desde a adolescência e ingressou profissionalmente nele aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanais para o blog do Gran, que já somam milhões de leitores.

Formou-se entre os melhores alunos em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Foi incluído na lista Forbes Under 30 (2021), eleito Empreendedor do Ano pela Ernst & Young (2024) e reconhecido pela MIT Technology Review como Innovator Under 35 no Brasil e na América Latina. Autor de quatro livros best-seller na Amazon Kindle.

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