Entrevistando o professor Diego cinco anos atrás, olhei bem nos olhos dele e disse: “Você vai passar no concurso dos seus sonhos”. O alvo tinha nome e sobrenome, Consultor Legislativo, e eu estava apenas antevendo o que alguns anos mais tarde a realidade viria confirmar.
Diego cresceu entre portas de comércio que abrem às seis e fecham quase às dez. Na farmácia dos pais, o caixa era incerto, com dias de loja cheia e outros em que não entrava ninguém. O menino aprendeu cedo a tabuada da insegurança: “Será que as contas fecham?”. Aos quinze, decidiu ter o próprio dinheiro e um pouco de autonomia. Começou dando reforço escolar, depois lecionando inglês básico no cursinho do bairro. Ganhava R$ 2 por aula, três ou quatro vezes por semana. Para um adolescente, era uma fortuna e significava dignidade. Foi assim que o giz o escolheu. Ali, nasceu o professor.
Já o concurseiro nasceu de um trauma: ao reconhecer o corpo da avó, que morrera enquanto aguardava atendimento no corredor de um hospital, Diego tomou a decisão de jamais permitir que algo assim acontecesse com alguém de sua família de novo. Foi esse o grande divisor de águas em sua vida.

Durante a entrevista de 2020. Foi nesse dia que eu prenunciei a conquista do cargo dos sonhos do professor Diego.
Em 2007, um tio lhe acendeu a luz do concurso público. O primeiro teste foi o cargo de técnico do MPU. Com apenas cinco vagas, não deu. Na tentativa seguinte, eram dezenove vagas, e Diego ficou em 37º. Também não foi chamado.
Começou a teimosia em fazer a prova da Abin. Os colegas da faculdade repetiam: “Você não passa nem em tribunal da região, vai passar na Abin?!”. Aquilo mexeu com o brio – e o brio, devidamente trabalhado, vira aprovação. Um ano depois de ter começado a estudar para concursos, Diego recebeu o primeiro resultado concreto: 5º lugar num universo de 30 vagas. Em 2009, o novo servidor da agência de inteligência deixou Mossoró e veio para Brasília.
Com as contas no limite, um filho pequeno para criar e os pais sem plano de saúde, logo percebeu que precisaria fazer mais, bem mais. “Quero ser capaz de pagar o plano deles”, dizia. E, então, decidiu que era hora de partir para cargos de nível superior. Em 2010, passou para Analista Administrativo da Aneel, ainda sem ter diploma. Foi nomeado apenas em 2014, quando concluiu o curso de tecnólogo feito em paralelo ao de Direito.

Desde cedo Diego trabalhou na pequena farmácia dos pais. Lá, sentiu na pele a rotina instável e estressante.
Em 2012, tentou a Polícia Legislativa do Senado. Ficou fora das vagas, mas dentro do curso de formação. A promessa da presidência do órgão era de nomeação geral, mas 2013 chegou e, com ele, um novo presidente, que determinou a suspensão das nomeações e o bloqueio de todos os cargos vagos de policial legislativo. Foi a grande desilusão de Diego. No dia seguinte à notícia, voltou a estudar.
Foi aprovado para Analista do MPU, órgão onde permaneceu por um ano. Depois, saíram editais gêmeos, da Polícia da Câmara e de Consultor Legislativo. O sonho, àquela altura, já tinha nome – Consultor –, mas, como as vagas da Polícia eram muitas, acabou nomeado lá primeiro. Uma semana mais tarde, o Senado também o chamou, e ele foi. A promessa ficou em suspenso: “ainda faço para Consultor.”
E, de fato, fez. Em 2022, quando saiu o edital do Senado, Diego até começou a se preparar. No entanto, a mistura de trabalho, aulas, pressão e ansiedade lhe tirou o sono e a vontade de ir até o fim. Não se arrependeu. “Valeu pelas vidas transformadas” nas aulas, diz. Deus tomou nota da renúncia.
Então veio 2023.
O 8 de janeiro amanheceu como um domingo qualquer, mas, no início da tarde, fez-se o caos: pó de hidrante e gás por todo lado, capacete com viseira erguida para poder enxergar, escudo em riste, e até um extintor arremessado no rosto e aparado por puro reflexo. Os corredores do Senado testemunharam a luta desigual entre cinquenta policiais e centenas de invasores, seguida de meses de investigação sem hora para sair, apenas para entrar.
Na esfera pessoal, o primeiro semestre terminou com a explosão do motor do carro. Óleo na pista, o veículo bamboleando, braços fora da janela para alertar quem vinha atrás, perda total, seguro negado. E a vida sem parar de exigir presença: filhos, aulas por gravar, papelada, plantões.

Diego com os avós, já falecidos.
Quando a Câmara dos Deputados publicou o edital de Consultor, a porta finalmente se abriu de verdade. O conteúdo era a praia de Diego: direito penal, processo penal e procedimentos investigatórios parlamentares – CPI, Conselho de Ética.
Para viabilizar o sonho, Diego adotou método, sem contar com milagre. As manhãs eram de estudo; o almoço, de resolução de questões; as noites, de revisão. Na reta final, a preparação se estendia por catorze horas diárias. Diego trocava de cenário na tentativa de se cansar menos, alternando entre cadeira, chão, colchão no escritório e balcão da cozinha. Aprendeu com o erro de 2012 e não perdeu tanto tempo assim com Regimento, focando o que valia o dobro – jurisprudência atualizada e letra de lei. O resultado? Somente nos conhecimentos específicos, foram 66 de 70 acertos! E, sim, estudando com o Gran, o mestre que aceita voltar a ser aluno…

Eis que o mestre virou aluno, estudando com o Gran para a Consultoria. Diego ouviu muitas aulas no carro, para aproveitar cada minuto disponível.
A prova teve enredo de novela. A objetiva da tarde acabou anulada por falha logística e foi reaplicada meses mais tarde. Quando tudo parecia certo, veio o corte: a banca reavaliou títulos e subtraiu metade da experiência. Houve uma sucessão de recursos, fundamentação, revisão linha a linha feita por amigos consultores, fé testada no relógio…
A sexta-feira do desfecho encontrou Diego no hospital, soro no braço, celular na mão. Resultado final: segundo lugar. Duas vagas. O choro veio como represa que rompe.
A história de Diego não cabe em slogans. Começou com aulas a R$ 2, foi impulsionada com a morte plenamente evitável de um ente querido, sofreu uma guinada com um extintor que voou em sua direção e um motor que estourou, e alcançou o clímax com a conquista do sonho após 10 mil questões resolvidas.
Aos 38 anos, Diego conta 7 nomeações – Abin, MPU, Polícia Legislativa da Câmara, Polícia Legislativa do Senado, Ministério do Trabalho e Emprego, Aneel e, finalmente, Consultor da Câmara. Ao longo de todo esse percurso, mantinha um alarme no celular: “Acorda para ser consultor legislativo!”
Diego fala em legado com serenidade: vê, no horizonte dos códigos, um artigo, um parágrafo, uma linha que um dia sairá da sua caneta. E celebra o que o serviço público lhe permitiu oferecer: plano de saúde para os pais e os filhos, além da certeza íntima de que ninguém dos seus voltará ao corredor do hospital público de Mossoró. Mora, hoje, na casa com que sonhou e agradece em voz baixa cada vez que cruza a porta.

Com a família, na posse como Consultor da Câmara dos Deputados.
Então, amigo seguidor, se o motor da sua vida parece ter parado no meio da estrada, leve de Diego algumas lições simples e poderosas.
Primeiro, escolha a porta certa e direcione o esforço para o que realmente conta. Depois, aceite que a vida não vai diminuir o ritmo apenas para você poder estudar – sim, haverá semanas em que nada parece render, e tudo bem.
Resolva questões até a mão cansar, corrija-se sem enganação e recomece sempre que for preciso. Saiba que o dia seguinte é o seu melhor aliado.
O resto é isto: abrir o Diário Oficial, encontrar o próprio nome lá e entender, em silêncio, que valeu. Porque promessas só se cumprem quando encontram quem trabalha por elas.

Um crachá como este pode ser seu.
Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran, maior Edtech do Brasil em número de alunos, com mais de 800 mil discentes ativos pagantes. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha o universo dos concursos desde a adolescência e ingressou profissionalmente nele aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanais para o blog do Gran, que já somam milhões de leitores.
Formou-se entre os melhores alunos em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Foi incluído na lista Forbes Under 30 (2021), eleito Empreendedor do Ano pela Ernst & Young (2024) e reconhecido pela MIT Technology Review como Innovator Under 35 no Brasil e na América Latina. Autor de quatro livros best-seller na Amazon Kindle.
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