Você NÃO é o problema

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Cada um de nós tem lá seus talentos e interesses. Todo indivíduo nasce com uma personalidade que é só sua e apresenta qualidades e defeitos que lhe são bem particulares. Até por isso, as pessoas não deveriam ser tratadas igualmente, como se formassem uma massa uniforme. Pela mesma razão, não se deveria esperar delas um mesmo comportamento num mesmo contexto.

Que as pessoas são diferentes ninguém duvida, certo? Ora, se tomamos como verdade o fato de toda pessoa ser única, também deveríamos enxergar o óbvio: não existe fórmula mágica capaz de padronizar grupos humanos. Ninguém deveria esperar, por exemplo, que os estudantes inscritos num mesmo curso, tendo sido alunos dos mesmos professores e assistido às mesmas aulas que os demais, venham alcançar resultados idênticos ou semelhantes numa mesma prova.

Significa que cada uma dessas pessoas é o problema? Não mesmo. Cada um de nós carrega na genética uma combinação exclusiva de traços que nos diferencia dos irmãos e irmãs. Ao longo dos anos, essas particularidades vão sendo buriladas e lapidadas: ora são esfoladas e arranhadas, ora são polidas e lustradas. A cada nova fase, somos apresentados a gente que nos admira e também a gente que nos despreza. De vez em quando ouvimos elogios, de vez em quando escutamos críticas; às vezes somos exaltados, outras vezes somos ridicularizados. Eventualmente somos apenas e solenemente ignorados.

As características que temos podem evocar luz e cor como um dia de sol, ou podem fechar o tempo em tons de cinza, impondo trevas e escuridão. Alguns de nós inspiram entusiasmo, mas há aqueles que, de tão condicionados ao perfeccionismo, apenas arfam na tentativa inútil de alcançar um objetivo impossível. Há outro grupo formado de líderes natos, pessoas empáticas e sensíveis ao sofrimento e aos sonhos alheios; e ainda há os que apenas aceitam a vida com alegria e diligência. O bacana de tanta diversidade é que cada tipo de pessoa tem algo a ensinar a outro. Tudo que precisamos é querer aprender. Como dizia o psiquiatra Carl Jung, “todos nós nascemos originais e morremos cópias”.

Cabe a cada um de nós de tempos em tempos fazer aquela viagem solo, uma aventura no interior da alma, a fim de se encontrar e, quem sabe, descobrir o melhor e mais belo de si. Somente nós mesmos podemos avaliar para valer os pontos fortes e os pontos fracos da nossa individualidade e, então, trabalhar para fortalecer os primeiros e mitigar os últimos. Todos almejamos ter certezas, e não dúvidas; alcançar resultados, e não meramente passar por experiências. Todavia – é preciso lembrar –, as certezas vêm das dúvidas e os resultados surgem da experiência, tudo fruto de nossas escolhas.

Enquanto ser humano, você não é um problema. É, sim, um ser de luz, a materialização de um milagre, a personificação de um guerreiro. É a representação da curiosidade, o emissário da alegria, alguém que aprende dia após dia a gostar de gente, porque, afinal, é com gente que se relaciona. São tantos os papéis que você e eu precisamos exercer, não é verdade? O único deles que penso ser proibido ou, no mínimo, indesejado é o do derrotista que se enxerga como um problema, papel esse assumido por quem se entrega ao pessimismo e ao comodismo; por quem, enfim, aceita o fracasso.

O Criador nos fez diferentes para que cada um possa assumir da melhor forma possível o próprio papel. Alguns vieram ao mundo para atuar como pés: são os que administram, realizam, agem, avançam. Outros fazem as vezes de mãos: servem, acariciam, abraçam, acolhem. Alguns são mente: pensam, calculam, criam. Outros são boca: falam, ensinam, incentivam, aconselham. Você pode ser qualquer um desses, menos “o problema”.

Vamos em frente ou em qualquer outra direção mais promissora que a atual, sempre preparados para eventuais frustrações e, ao mesmo tempo, prontos para o sucesso. Esteja certo: ele virá.

Que tal não aceitar o rótulo de “problema”?

“No meio-tempo, agarre-se com unhas e dentes à seguinte regra: não ceda à adversidade, não confie na prosperidade e sempre preste atenção ao hábito do destino de se comportar como bem quer.” – Sêneca, filósofo estoico

 

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