O título deste artigo, à primeira vista, desafia o senso comum, cuja lógica associa força à total ausência de fraqueza. Costumamos entender essas duas condições como antagônicas, mas, acredite, não é bem assim, e minha ideia, hoje, é demonstrar isso. Para tanto, convido você a me acompanhar numa viagem através da filosofia e de tradições espirituais que, em comum, interpretam aparentes fragilidades como catalisadoras das nossas maiores potencialidades.
Serei direto: a força só existe de verdade em contraste com a fraqueza. Não estamos falando, necessariamente, de incapacidades físicas ou mentais, mas daquela insegurança incômoda, sabe? Daqueles segundos de incerteza que parecem se estender mais do que antecipamos e nos fazem hesitar, envergonhados… É nessas horas que nosso verdadeiro caráter se revela e descobrimos que somos mais fortes do que pensávamos. A conhecida frase de Friedrich Nietzsche, “aquilo que não me mata me fortalece”, resume bem a ideia.
Nesse sentido, ganha relevância o adágio do filósofo Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”. Quando voltamos os olhos para nós mesmos com o propósito de compreender melhor quem somos, nos regozijamos com nossas qualidades, mas também somos confrontados com nossos defeitos. Passado o susto inicial, a boa notícia é que com esses últimos vêm novas oportunidades de aperfeiçoamento.
Dito de outra forma, o crescimento pessoal começa com a aceitação da própria vulnerabilidade. Perceba que “aceitar”, aqui, é palavra-chave, na medida em que, embora sejamos todos vulneráveis em maior ou menor grau, nem todos admitimos isso. Negar nossa natureza frágil, porém, além de ser ilusão, restringe bastante nossas possibilidades. Como destaca Brené Brown, especialista no assunto, “a vulnerabilidade é o berço da inovação, criatividade e mudança”. Quem a admite abre espaço para se tornar mais e mais determinado, mais e mais perseverante, mais e mais certo do que precisa fazer a seguir.
Mahatma Gandhi, outra autoridade em matéria de resiliência, dizia que a força não vem da capacidade física, mas de algo a que ele se referia como “vontade indomável”. Forjada tanto em nossas lutas quanto em nossas fraquezas, essa vontade é posta à prova sobretudo quando as coisas não vão bem como esperávamos. Por esse ângulo, é nos momentos adversos que descobrimos até onde queremos ir de verdade e, principalmente, o que estamos dispostos a fazer para superar o que impede o nosso avanço.
Fraquezas também fomentam a capacidade de adaptação, essencial para quem almeja prosperar num mundo em constante mudança como o nosso. “A medida da inteligência é a habilidade de mudar”, já dizia Albert Einstein, quase um século atrás. (Qual não seria seu espanto se estivesse vivo hoje!) Enfrentemos nossas idiossincrasias a fim de, ajustando-nos e reajustando-nos continuamente ao inesperado, conseguirmos ir além do que iríamos se tudo tivesse saído como planejado.
Em resumo, a coragem, na sua essência, é precedida pela fraqueza. Se podemos ser fortes e corajosos agora, é porque antes nos vimos fracos e vulneráveis e trabalhamos para mudar isso. A coexistência dessas forças aparentemente contraditórias dá significado a nossa experiência humana. Ernest Hemingway expressou isso brilhantemente ao cunhar a frase “a coragem é a graça sob pressão”. Todos nós dispomos de tal graça, mas poucos estão vocacionados a usá-la, cientes de que isso pode expor suas maiores limitações.
Veja o exemplo de Joisa Pereira, uma de muitos alunos do Gran que optaram pelos concursos públicos depois de se sentirem fracos e vulneráveis em algum momento da vida. Demitida aos 38 anos após uma longa carreira na iniciativa privada, ela decidiu buscar um novo caminho, mais estável e vantajoso. E não é que, algumas reprovações mais tarde, as quais, é importante frisar, desvendaram suas “fraquezas”, Joisa veio a ser aprovada em primeiro lugar em um ótimo concurso de nível superior?!
Pois então, amigo leitor, amiga leitora. A dor, fraqueza ou angústia que você sente neste exato momento pode ser convertida em algo bom. Tenha fé e aja o quanto antes para colher os frutos mais tarde. Ah, sim: quando for a hora, considere compartilhar sua história de superação. Chegará a sua vez de inspirar outras pessoas que venham a enfrentar situações semelhantes à que você atravessa agora. Nada como um ciclo virtuoso de inspiração, certo? Lembre-se: sua força está em sua vulnerabilidade.
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