Quando dizem que é impossível...

Já troquei ideia com muitos aprovados em concursos. Centenas, literalmente, se eu computar as entrevistas para o meu canal Imparável, no YouTube. Milhares, se eu incluir na conta as interações no Instagram. Algo bem comum, nessas conversas, é ouvir do meu interlocutor o relato de que, em algum momento da sua trajetória, teve de lidar com comentários como o de que seria impossível uma pessoa como ele passar em concurso, ou mesmo o de que ele já teria passado da idade para dar uma guinada na vida… Felizmente, para além desses tristes relatos, os bem-sucedidos na difícil empreitada do concurso público também costumam compartilhar uma qualidade que talvez seja o seu maior diferencial em relação aos que ficam pelo caminho. Refiro-me a certa maestria em ignorar solene e elegantemente as palavras perniciosas que não visam nada além de desencorajar.

Eis aí uma habilidade e tanto, sobretudo se levarmos em conta que somos seres sociais e, por natureza, nos importamos com o que os demais pensam a nosso respeito. De fato, não é nada fácil se blindar da noite para o dia contra gracejos tóxicos, mas, acredite, é necessário. Eu mesmo já escutei várias vezes que certo feito seria impossível. Com o passar do tempo, porém, minha habilidade de fazer ouvido de mercador a esse tipo de comentário se aprimorou a ponto de o único efeito dele sobre mim ser o de aumentar exponencialmente minha vontade de provar que a pessoa está errada.

É como se eu percebesse desde logo sempre que alguém intenta amarrar meus sonhos e minha esperança a correntes de descrença e reagisse de pronto. Em suma, recebo frases como “é impossível”, “isso não é para você” e “você não vai conseguir” como combustível para partir em busca de autossuperação, mais do que como barreiras das quais devo desviar. Vejo tanto poder nessa capacidade de transformar desestímulo em força de vontade que gostaria de falar um pouco sobre isso, se você estiver de acordo.

Conhece a canção da compositora Jamily que diz: “Nossos sonhos, a gente é quem constrói. É vencendo os limites, escalando as fortalezas, conquistando o impossível pela fé”? Pois então. Para mim, a crença de que algo é impossível não passa de ilusão, derivada dos nossos medos, dos nossos traumas, das nossas limitações. Penso que o melhor a fazer é olhar sempre para além dos obstáculos e reforçar nossa fé em nós mesmos. É encarar a fala de alguém que manifesta sua desconfiança em nosso potencial como um convite para provarmos o contrário, mostrando que somos, sim, plenamente capazes de alcançar o inalcançável, de vencer o invencível.

Quando acreditamos de verdade em nós mesmos, tudo que seria tido como impossível se revela viável, mesmo se os contratempos parecerem insuperáveis. Com foco naquilo que podemos efetivamente controlar, colocamos em prática a nossa capacidade de, encontrando significado em tudo a nossa volta, crescermos e nos desenvolvermos como seres humanos. Em vez de nos desesperarmos diante do supostamente inalcançável, abraçamos os desafios como parte integrante da nossa jornada.

Outra coisa: ninguém deve caminhar sozinho na busca pelo inatingível. Mesmo os mais intransigentes devem ter humildade para saber identificar a hora de pedir ajuda, apoio ou mesmo orientação. Juntas, duas ou mais pessoas conseguem unir forças para superar desafios que individualmente seriam intransponíveis.

Já parou para pensar que justamente no caminho do impossível pode residir o seu maior propósito, o seu verdadeiro destino? Os filósofos da corrente estoica fazem uso de uma metáfora para ilustrar essa ideia. É a história de um cachorro preso a uma carroça por uma guia. À medida que o veículo desce a estrada, o cão põe-se a correr ao lado, alegre e ofegante. Mas ele sabe que corre o risco de se machucar feio, arrastado pela rua, se não conseguir ser veloz o suficiente. A mensagem por trás da historinha é simples: o destino guia aqueles que o aceitam, mas arrasta os que o recusam.

Em síntese, sempre que você ouvir as famigeradas palavras “é impossível”, tenha em mente que algumas pessoas são deliberadamente postas em seu caminho com o propósito mesquinho de desencorajar, como se lhe prendessem uma bola de ferro nos pés, no intuito de aumentar a carga em sua jornada, que, sejamos francos, já é bastante pesada. Não se deixe tomar por tamanha negatividade nem permita que alguém impeça você de perseguir seus sonhos. Dificuldades vêm e vão. Todos nós já as enfrentamos e superamos inúmeras vezes. Se nossos antepassados de trezentos, duzentos ou até cem anos atrás tivessem consciência de tudo que a raça humana já foi capaz de construir, certamente ficariam chocados e – por que não? – orgulhosos. Essa é a prova de que podemos, sim, escrever nossa própria história, transformando o difícil em realidade, com coragem, os pés no chão e a cabeça erguida, num sinal de fé, determinação e, é claro, humildade.

O poeta, romancista, cineasta, designer, dramaturgo, ator e encenador de teatro francês Jean Cocteau cunhou uma frase que você certamente conhece: “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez”. De fato, nem tudo está ao nosso alcance, mas saber disso nos ajuda a lidar com as frustrações de forma mais serena. Esse é o primeiro passo para, com resiliência, avançar, avançar e avançar.

Vamos juntos, rumo ao que parece impossível e além. Combinado?

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