É natural ter o impulso de buscar reconhecimento, seja na forma de fama desmedida ou de aprovação imediata das pessoas ao nosso redor. Mais significativo, porém, é partir numa jornada rumo à construção de um legado duradouro que transcenda a efemeridade de uma validação passageira. Trilhar esse caminho significa ir em busca de riqueza existencial, algo que vai muito além da superficialidade que acompanha e caracteriza a notoriedade momentânea.
Sêneca, expoente do estoicismo romano, sustentava a ideia de que mais relevante é viver uma vida virtuosa e equilibrada, pouco importando se daí surge ou não o reconhecimento dos outros. As palavras do filósofo ecoam a compreensão segundo a qual o valor intrínseco de nossos atos supera, em muito, a fugaz notabilidade. Nesse sentido, o maior mérito de alguém está mesmo em fazer a diferença no mundo. Ainda que essa diferença seja tímida ou de pequeno alcance, o que vale é a pessoa ter deixado a sua marca.
O existencialismo de Jean-Paul Sartre, por sua vez, destaca ainda mais a responsabilidade individual na construção de sentido na vida. Aqui, a busca por mero reconhecimento é vista como covarde fuga do compromisso existencial, na contramão da autenticidade, que assume papel central na consecução de valores pessoais perenes.
Os ensinamentos de Jesus também dão forma à ideia de que o reconhecimento é fugaz enquanto as qualidades inerentes à pessoa permanecem através do tempo e passam a de fato defini-la. Ele guiou seus seguidores para valores atemporais, como amor e compaixão, prestigiando a riqueza interior sobre a fama terrena. A vida, nas Suas palavras, ganha significado entre os que se esforçam para ser úteis e deixar de herança a bondade e o cuidado para com o próximo, como fez o bom samaritano que ajudava quem estivesse em necessidade e sem se preocupar com notoriedade.
Um fenômeno contemporâneo que ilustra esse contraste entre reconhecimento enganador e valores genuínos é a obsessão por fama nas redes sociais. A busca voraz por likes e seguidores acaba por desviar a atenção de necessidades concretas, as quais impõem ação bem mais do que mera vontade de parecer útil. A propósito, a psiquiatra americana Anna Lembke alerta sobre o vício digital, destacando o potencial nocivo das redes sociais, que, à semelhança do álcool e outras drogas, liberam dopamina no sistema de recompensa do cérebro. É um lembrete para utilizarmos a tecnologia com temperança, direcionando-a a um aprendizado contínuo.
Em síntese, a máxima segundo a qual “o reconhecimento passa, e a importância fica” ressoa como uma chamada à reflexão a respeito das nossas prioridades. A validação externa é inconstante e, no mais das vezes, superficial, diferentemente da verdadeira importância, construída por meio de ações virtuosas, responsabilidade existencial e busca de significado.
É por tudo isso que o convido a refletir: Como você está buscando ser útil hoje? O que você está construindo para deixar para a sua família, para a sua comunidade, e, por que não, para o mundo?
Imagino que você tenha chegado até este texto porque almeja se tornar servidor público e está se preparando arduamente para isso. É um bom começo. O serviço público é uma oportunidade ímpar de ser útil, de contribuir para algo maior e em prol da coletividade. O nome é autoexplicativo. Em serviço do público. Em serviço do próximo. Em serviço. O sentido da vida está aí.
Aproveito para antecipar os votos de um feliz Dia do Servidor Público, celebrado em breve, no próximo dia 28. Dedico minha saudação, em especial, aos que trilharam seu caminho de preparação com o Gran. Que a vocação de ser útil continue a iluminar e inspirar a jornada de cada um que escolheu servir ao público mais que a si mesmo.
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