Olá, pessoal! Tudo bem? Sou a professora Débora Juliani, farmacêutica, especialista em Análises Clínicas. Faço parte da equipe do Gran Concursos e, como você já sabe, estou sempre por aqui para falar de temas relacionados às Análises Clínicas e ao mundo dos concursos de Farmácia, Biomedicina e Técnico de Laboratório!
Imagine o seguinte cenário: é um dia como qualquer outro, você está no Laboratório de Análises Clínicas, trabalhando tranquilamente quando, terminando uma coleta de sangue… você espeta o dedo com a agulha! É ou não é o pesadelo de qualquer técnico ou analista de laboratório?
Pois é… Infelizmente este é um risco ocupacional ao qual nós, que trabalhamos com Análises Clínicas, estamos sujeitos: o risco biológico, um risco comumente presente em ambientes de saúde, laboratórios, indústrias de biotecnologia, coleta de resíduos e outros setores onde há manipulação de materiais biológicos ou contato com fluidos corporais que possam conter agentes patogênicos, como bactérias, vírus, fungos e parasitas, além de toxinas produzidas por esses organismos.
Quando falamos especificamente de um acidente como o descrito, envolvendo um perfurocortante durante a coleta de sangue de um paciente, a maior preocupação se torna a contaminação do profissional com os vírus causadores das hepatites virais, HIV, ou ainda com vírus e bactérias causadoras de outras infecções como a sífilis.
Neste sentido, a Portaria nº 14, de 8 de abril de 2024, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Completo Econômico Industrial da Saúde (SECTICS), órgão vinculado ao Ministério da Saúde atualiza, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pós-Exposição de Risco (PEP) à Infecção pelo HIV, IST e Hepatites Virais.
Vamos começar pelo começo: o que é a Profilaxia Pós-Exposição (PEP)? A PEP nada mais é que o uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir HIV, hepatites virais, sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), após potencial exposição de risco, neste caso, de natureza ocupacional.
Para ficar mais didático, vamos dividir as condutas em três etapas: profilaxia do HIV, profilaxia das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), especialmente sífilis, e profilaxia das hepatites virais, ok?
- Profilaxia do HIV: Começando pelo HIV, é essencial ressaltar que o primeiro atendimento após a exposição de risco é uma urgência, em função da necessidade de início precoce da profilaxia para maior eficácia da intervenção. A PEP deve, necessariamente, ser iniciada o quanto antes, tendo como limite as 72 horas subsequentes à exposição de risco. Nos casos em que o atendimento ocorrer após 72 horas da exposição, não está mais indicada a PEP. Entretanto, se o material e o tipo de exposição forem de risco, recomenda-se acompanhamento sorológico da pessoa exposta.
Uma informação “chave” para a tomada é o status sorológico do paciente-fonte. Naturalmente, nem sempre ele está presente e disponível para realizar a testagem. Nestes casos (paciente-fonte desconhecido ou não disponível para realizar a testagem para HIV), a decisão sobre instituir a PEP deve ser individualizada, mas em geral, é recomendada, assim como quando a testagem do paciente-fonte é reagente para HIV.
Já quando o paciente-fonte é conhecido e a amostra é não-reagente no teste rápido anti-HIV, a PEP não está indicada para a pessoa exposta, a menos que este paciente-fonte tenha história de exposição de risco nos 30 dias que antecederam a exposição devido à possibilidade de resultados falso-negativos de testes imunológicos (janela imunológica). Nestes casos, a avaliação deverá ser individualizada e a PEP poderá ser indicada, a depender do caso concreto.
O fluxograma a seguir, extraído da própria Portaria SECTICS/MS nº 14, de 8 de abril de 2024, sintetiza o raciocínio seguido na investigação diagnóstica.
- Profilaxia da sífilis: Embora a sífilis não seja tão frequentemente transmitida por perfurocortantes como outras doenças transmissíveis pelo sangue (como HIV e hepatites), ainda assim, deve-se adotar precauções para reduzir o risco de infecção.
Para sífilis, não há profilaxia pós-exposição específica como existe para HIV, por exemplo. No entanto, caso o paciente-fonte seja conhecido, deve-se realizar os testes treponêmico (ex.: FTA-Abs e ELISA) e não treponêmico (ex.: VDRL). Considerando a epidemia de sífilis no Brasil e a sensibilidade dos fluxos de diagnóstico, recomenda-se iniciar a investigação pelo teste treponêmico.
Em caso de diagnóstico de sífilis confirmado, o risco de transmissão sífilis passa a ser considerado relevante e o profissional de saúde pode avaliar a necessidade de iniciar tratamento antibiótico profilático com penicilina G benzatina.
- Profilaxia das hepatites virais: a profilaxia pós-exposição (PEP) para hepatites (especialmente hepatite B e hepatite C) deve ser realizada de forma cuidadosa e dentro dos prazos recomendados para reduzir o risco de infecção. A conduta varia dependendo do tipo de hepatite envolvida e o risco de transmissão também depende da situação específica do acidente.
A hepatite B é a mais comum entre os tipos de hepatites transmitidas por perfurocortantes, pois o vírus é altamente infeccioso e pode ser transmitido através do sangue e secreções corporais.
Novamente, uma informação “chave” para a tomada é o status sorológico do paciente-fonte. Naturalmente, nem sempre ele está presente e disponível para realizar a testagem. Nestes casos (paciente-fonte desconhecido ou não disponível para realizar a testagem para HIV), a decisão sobre instituir a PEP depende do status sorológico da pessoa exposta.
Se o trabalhador está vacinado contra hepatite B (vacina completa com comprovação de anticorpos) ou se tem histórico de infecção prévia (com teste positivo para anticorpos anti-HBs), o risco de infecção é muito baixo ou praticamente inexistente, portanto a PEP não está indicada. Já caso o trabalhador não esteja imunizado (anticorpo anti-Hbs negativo), a PEP é recomendada, até 24 horas após a exposição, com administração de imunoglobulina anti-hepatite B (HBIG).
Quando o paciente-fonte está disponível para realizar a testagem, a triagem da infecção pelo HBV é realizada por meio de testes rápidos de detecção do antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HbsAg). Se positivo, novamente avalia-se o status sorológico da pessoa exposta e o raciocínio clínico é o mesmo descrito para paciente-fonte desconhecido. Já quando o HbsAg é negativo no paciente-fonte, a PEP não está indicada.
Finalmente, em relação à hepatite C, o risco de sua transmissão por acidente com perfurocortante é menor que o da hepatite B e ainda mais baixo que o do HIV. No entanto, por ser uma infecção grave e crônica, deve ser tratada com cuidado…
Ao contrário da hepatite B e do vírus HIV, para hepatite C não existe imunoglobulina nem medicamentos antivirais de PEP. Além disso, não há vacina para hepatite C.
O risco de infecção depende do status sorológico do paciente-fonte (estabelecido por meio do anti-HCV ou RNA viral). Se reagente, a pessoa exposta deve ser acompanhada com exames sorológicos (anti-HCV) e PCR para HCV (HCV RNA), para detectar a infecção nas semanas após o acidente. Normalmente realiza-se a primeira testagem 6 semanas, a segunda testagem 3 meses e a última testagem 6 meses após a exposição. Se a soroconversão acontecer (anti-HCV positivar) e/ou se houver detecção de carga viral por meio do PCR para HCV, deve-se iniciar o tratamento antiviral da pessoa exposta.
Se o paciente-fonte for não reagente, virtualmente não há risco de contaminação para pessoa exposta e não é necessário seu acompanhamento sorológico em relação a essa infecção. Já no caso de status sorológico do paciente-fonte desconhecido ou indeterminado, deve-se avaliar caso a caso, com base na gravidade da exposição e na probabilidade clínica e epidemiológica de infecção pelo vírus da hepatite C.
Então, com todo esse conteúdo, vou ficando por aqui! Espero que tenha gostado e que continue estudando com o Gran Concursos para conquistar sua vaga dos sonhos! Temos cursos online voltados exclusivamente para editais das principais residências e concursos, civis e militares, do Brasil. Um forte abraço e bons estudos!
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