Fragilidade Cibernética no Governo Brasileiro e a Necessidade de Valorização da TI

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Ataques cibernéticos em instituições do governo brasileiro expôs vulnerabilidades estruturais na gestão de tecnologia da informação (TI) no setor público. Isso reforça um problema sistêmico: a dificuldade do governo em manter talentos qualificados para proteger sistemas críticos, garantir a integridade dos dados públicos e assegurar a continuidade dos serviços à população.

O Desafio na Contratação de Especialistas em Segurança Digital

A priorização de custos sobre a competência técnica tem gerado riscos operacionais significativos. Recentemente, um edital para contratação de serviços de segurança cibernética estabeleceu valores salariais muito abaixo do mercado. Enquanto empresas privadas oferecem até R$ 30 mil para analistas sêniores, o governo propôs cerca de R$ 17 mil (a depender da carreira), resultando em um desinteresse massivo por parte dos profissionais mais qualificados. Essa defasagem salarial, somada à burocracia e às condições rígidas de trabalho, impede a formação de equipes robustas e especializadas.

A infraestrutura gerida por esses profissionais inclui milhares de estações de trabalho, servidores estratégicos e sistemas essenciais para a operação da máquina pública. A escassez de especialistas deixa esses ambientes vulneráveis a ataques cibernéticos cada vez mais sofisticados. A falta de incentivo para a permanência no setor público já demonstrou suas consequências em ataques anteriores, cujo impacto ainda não foi totalmente resolvido.

O Alto Custo da Rotatividade

Pesquisas apontam que a alta rotatividade de profissionais de TI no setor público consome uma parte significativa dos orçamentos, devido aos custos de realocação e requalificação de servidores. 

Profissionais treinados em sistemas proprietários, ao migrarem para o setor privado, levam consigo conhecimento crítico sobre vulnerabilidades institucionais. Além disso, um estudo recente indicou que mais da metade das instituições governamentais sofre com a “fuga de talentos” em TI, comprometendo a implementação de medidas de segurança exigidas por normas regulatórias.

A Disparidade Salarial e seus Impactos

Dados recentes apontam que analistas de TI no Executivo Federal iniciam carreiras com salários até 35% inferiores aos oferecidos por outras instituições públicas estratégicas, como o Banco Central e o Tesouro Nacional. No setor privado, especialistas em cibersegurança podem ganhar até R$ 25 mil, enquanto no governo, o valor oferecido para funções similares é consideravelmente menor. Essa diferença cria um ciclo problemático: os profissionais ingressam no serviço público apenas para obter experiência antes de migrarem para o mercado privado, deixando sistemas críticos sob responsabilidade de equipes menos experientes.

A Estagnação Profissional no Setor Público

Além da questão salarial, a falta de progressão funcional adequada contribui para a evasão de talentos. Pesquisas apontam que a maioria dos servidores técnico-administrativos considera os planos de carreira insuficientes. Enquanto no setor privado há forte incentivo para capacitação contínua – com cursos financiados pelos empregadores em áreas como segurança ofensiva e inteligência artificial –, no serviço público esses benefícios são raros. 

Algumas tentativas de conter a evasão, como a restrição da mobilidade interna, acabaram gerando ainda mais insatisfação, dificultando ainda mais a retenção de especialistas.

A GAPTIC (judiciário) como Alternativa para Retenção de Talentos

Uma das soluções propostas para enfrentar esses desafios é a Gratificação de Atividade Permanente de Tecnologia da Informação e Comunicação (GAPTIC). Inspirada em recomendações de órgãos de controle, essa proposta busca criar incentivos para profissionais de TI do judiciário permanecerem no serviço público, garantindo maior estabilidade e segurança para sistemas críticos. As principais diretrizes incluem:

  • Gratificação por certificação técnica: profissionais que obtiverem certificações reconhecidas internacionalmente receberiam adicionais salariais.
  • Plano de carreira estruturado: possibilidade de progressão dentro da área técnica sem necessidade de migração para cargos administrativos.
  • Programas de capacitação contínua: parcerias com instituições de ensino para especializações em cibersegurança e tecnologias emergentes.
  • Maior valorização institucional: inclusão de especialistas de TI em comitês estratégicos de digitalização e inovação.

Benefícios Esperados

Estudos indicam que a implementação de um modelo como a GAPTIC poderia reduzir em até 72% a rotatividade de profissionais de TI no setor público. Além disso, a adesão a treinamentos avançados aumentaria significativamente, fortalecendo a resiliência das instituições governamentais contra ataques cibernéticos. 

A retenção desses profissionais também resultaria em uma governança digital mais eficaz, permitindo a implementação de soluções tecnológicas mais seguras e eficientes.

Conclusão: A Segurança Digital como Prioridade de Estado

O recente ataque cibernético não é um caso isolado, mas um reflexo de uma crise mais ampla na gestão de talentos de TI no governo brasileiro. Estima-se que grande parte das instituições públicas operam com equipes abaixo do mínimo necessário, deixando dados sensíveis de milhões de cidadãos vulneráveis.

A implementação de políticas como a GAPTIC não se trata apenas de um ajuste remuneratório, mas de um reconhecimento da importância estratégica da TI para a segurança nacional. Para que essas mudanças ocorram de forma eficaz, é essencial superar desafios como:

  • Integração entre instituições: criação de políticas unificadas entre diferentes órgãos governamentais.
  • Transparência orçamentária: alocação específica de recursos para valorização dos profissionais de TI.
  • Medição de impacto: estabelecimento de indicadores para avaliar a efetividade das iniciativas na redução de incidentes cibernéticos.

Experiências internacionais mostram que investir na valorização de especialistas em segurança digital gera retornos significativos, reduzindo incidentes e fortalecendo a infraestrutura tecnológica do Estado. 

O Brasil precisa adotar uma abordagem semelhante para garantir que a proteção de seus sistemas críticos não seja deixada ao acaso. Em um mundo onde as ameaças digitais são cada vez mais sofisticadas, a valorização da TI no setor público não é apenas uma necessidade administrativa, mas um imperativo de segurança nacional.


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