Hora certa

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Relógios marcam minutos, mas quem vive de edital logo aprende que o tempo tem sutilezas que nenhum cronômetro é capaz de medir. Há dias em que as horas se arrastam e outros em que elas disparam sem nos dar chance de cumprir metade do que havíamos planejado.

A chamada “hora certa”, ao contrário do que muita gente pensa, não é um instante mágico marcado no relógio do acaso, mas o resultado concreto do alinhamento entre esforço e oportunidade. Chamamos esse encontro de “destino”, mas esse é apenas o apelido poético de uma sequência de escolhas disciplinadas. São meses ou anos de provação ao longo dos quais cada gesto aparentemente banal de estudo ergue andaimes invisíveis, prontos para sustentar o passo firme que levará à aprovação. É nessa sucessão de decisões obstinadas que o futuro vai ganhando forma.

O tempo flui incessantemente, como um mar revolto sobre o qual não temos nenhum controle. Tudo que podemos fazer, então, é nos preparar da melhor forma possível para enfrentar suas ondas. Muitos recomendam esperar pela “maré favorável”, mas talvez a melhor decisão seja outra: construir um barco forte o bastante antes que a água suba. Caso contrário, a embarcação dificilmente resistirá à travessia. É que a hora certa não tolera improvisos; ela exige planejamento.

A qualidade do planejamento, no entanto, não se mede apenas pela quantidade de horas dedicadas. Pesquisas mostram que repetir por repetir não garante evolução. Sem análise crítica e ajustes, a repetição apenas consome tempo sem gerar aprendizado real. É o estudo com método que efetivamente transforma. Ele confere ao tempo uma nova densidade, propiciando avanços que, de outra forma, seriam impossíveis de alcançar.

Quando alguém é aprovado no primeiro concurso, a explicação mais comum é: “era a vez dele”. Argumento conveniente, mas raso. Talvez o terreno dessa pessoa estivesse fértil havia muito tempo, adubado por leituras, videoaulas, experiências e conversas que ninguém viu. Essa comparação superficial enxerga o fruto, mas ignora o tempo de cultivo.

Esse tempo de cultivo, aliás, tem seus paralelos históricos. Nos scriptoria medievais, monges copiavam pergaminhos à luz vacilante das velas. Cada letra exigia uma paciência que, hoje, qualquer concurseiro chamaria de tortura. Ali, no entanto, se preparava o caldo cultural que daria origem às primeiras universidades. É a história mostrando que paciência não é sinônimo de passividade, e sim uma forma de investimento de médio ou de longo prazo.

Para aproveitar tamanho investimento, é preciso estar atento aos momentos oportunos. A mitologia representou Kairós – “hora certa”, “tempo oportuno” em grego – como um jovem com topete na testa e a nuca careca: agarrá-lo exige precisão para fazê-lo no exato momento em que ele se aproxima; do contrário, ele escapa e será impossível segurá-lo. Pense nisso em sua rotina de concurseiro. Toda vez que você endireita a postura numa videoaula ou reescreve um resumo malfeito, está puxando esse topete invisível para mais perto de si.

Mas não se engane: parte essencial dessa preparação envolve lidar bem com os erros. Falhar num simulado não comprova inadequação; mede maturação. Assim como o mosto precisa fermentar antes de se transformar em vinho, o concurseiro precisa de tempo – e de enfrentamento – para desenvolver seu potencial. A nota baixa expõe lacunas, sim, mas isso poupa meses de autoengano. É a verdade antecipada sobre onde ainda se precisa crescer.

Diante da dificuldade, é natural ceder ao ímpeto de se comparar com os outros. Cuidado com isso, pois comparação malfeita intoxica mais do que esclarece. Se for para comparar, compare direito. Seu colega pode atingir a nota de corte em dezoito meses; você talvez precise de trinta e seis. Essa diferença raramente tem a ver com inteligência. Quase sempre está ligada ao tempo que cada um precisa para processar, reparar e florescer.

E é precisamente nesse tempo estendido que mora o desafio. Neurologistas falam do “intervalo de recompensa”: quanto maior o espaço entre o esforço e o retorno, mais sofisticado precisa ser o motor interno da motivação. Nesse contexto, micrometas, revisões espaçadas e métricas visíveis funcionam como baterias de longa duração, mantendo as luzes acesas enquanto a aprovação ainda está fora de vista.

Para sustentar um esforço prolongado assim, vale recorrer a atitudes simples, como trocar material e experiências com colegas, pedir mentoria e adotar técnicas de estudo diferentes das usadas até então. Tudo isso colabora para impedir que a areia da ampulheta escorra em vão. Isso é engenharia de tempo, não ansiedade. Ser arquiteto do próprio compasso é evitar que preciosos minutos sejam descartados como lixo.

Todo esse processo exige mais do que força de vontade. Exige também saúde física e mental. Pode até ser tentador romantizar as madrugadas heroicas sacrificadas em nome dos estudos, mas tenha em mente que a privação do sono compromete seriamente a memória de longo prazo. Quem cuida do sono com o mesmo zelo com que cuida do cronograma entendeu que o sucesso não se sustenta em estruturas trincadas. Bem ao contrário, precisa de um edifício íntegro e sólido para se abrigar.

Quando a hora certa finalmente se avizinhar, não haverá trombetas celestiais a anunciá-la. Mas você vai sentir. Ver seu nome no Diário Oficial, após todas as etapas difíceis pelas quais teve de passar, trará uma sensação ímpar. Nesse instante, você reconhecerá o encaixe perfeito entre as escolhas diárias e o resultado alcançado, como se o universo enfim confirmasse o acerto do contrato que você firmou consigo mesmo.

Em síntese, a hora certa não vem do nada. Ela acompanha a cadência dos seus hábitos. Talvez hoje as leis secas, fórmulas matemáticas e regras gramaticais empilhadas ao seu redor pareçam um tanto inúteis, mas, acredite, cada página lida é decisiva para o movimento, milímetro a milímetro, do ponteiro que um dia repousará sobre o seu nome.

Quem mantiver o ritmo descobrirá – com um espanto sereno – que o relógio parou exatamente onde sempre esteve escrito: aqui, exatamente aqui, é o seu momento.


Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.

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