Influenza sazonal: veja como o tema é cobrado nas provas de concurso!

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Também conhecida como gripe ou influenza humana, a influenza sazonal é uma infecção viral aguda do sistema respiratório, de elevada transmissibilidade e distribuição global. Um indivíduo pode adquirir a doença várias vezes ao longo da vida, sendo cada infecção causada por uma cepa diferente de vírus. Normalmente a doença cursa com uma evolução autolimitada, podendo, todavia, ter quadros clínicos mais graves.

O vírus influenza é do tipo RNA, pertence à família Ortomixiviridae e se divide em três tipos antigênicos: A, B e C. Desses, o tipo A é o que merece maior destaque, em função de ser o mais suscetível a variações antigênicas e, portanto, o maior responsável pela ocorrência de epidemias. Lembrem-se de que, ao adquirir uma cepa de vírus, o indivíduo desenvolve imunidade ativa. Como os vírus do tipo A periodicamente sofrem alterações, há sempre novas cepas em circulação, o que possibilita novas infecções.

Agora, se liga nessa: você e todas as pessoas do planeta com acesso à televisão ou internet já ouviram falar da epidemia de H1N1, certo? Mas o que quer dizer essa sigla? É uma forma de classificar os vírus, baseada em duas proteínas de superfície: hemaglutinina (H), associada à infecção das células do trato respiratório superior, e neuranimidase (N), que facilita a saída de partículas virais das células infectadas. O vírus tipo A infecta homens, suínos (lembra da gripe suína? H1N1), aves (e da gripe aviária? H5N1), mamíferos marinhos e cavalos. O vírus tipo B é exclusividade de humanos e está relacionado a epidemias localizadas, em função de sofrer menos variações antigênicas. O tipo C infecta humanos e suínos e é antigenicamente estável, o que faz com que seu impacto em saúde pública seja menor.

A transmissão direta ocorre por meio de gotículas. Você se lembra das partículas maiores que 5µ? Pois pronto! Essas gotículas são expelidas pelo doente ao falar, tossir, espirrar, e alcançam uma distância de 1 m no ambiente. Em alguns casos esporádicos, pode haver transmissão por partículas residuais que alcancem mais de 1 m. Mas, para a sua prova, guarde essa primeira informação. Transmissão direta => gotículas => 5 µ => 1 m. Isso vai guiar também a parte das precauções utilizadas e vai te ajudar em outras questões.

E pode haver transmissão indireta? Pode sim! Pelo contato com secreção de outros doentes. E, nesse caso, qual o veículo? As mãos! Um indivíduo saudável toca uma superfície contaminada por secreção e leva as partículas virais para a mucosa oral, nasal e ocular. Um exemplo rápido: metrô => doente tosse e cobre a boca com a mão => motorista freia => doente se segura na barra => barra contaminada => indivíduo saudável se segura na mesma barra => coçou o olho, levou a mão à boca etc => bingo! Isso vai depender, claro, da carga viral, do tempo decorrido entre a contaminação e o contato com o indivíduo saudável, entre outros fatores. Mas, se perguntarem por transmissão indireta, é isso: contato com secreção de outros doentes, tendo as mãos como principal veículo.

O período de incubação é de 1 a 4 dias, em geral, segundo o Ministério da Saúde (2016), e o período de transmissão inicia-se entre 24 e 48 h antes do início dos sintomas e vai até o quinto dia após o início dos sintomas (pior nas primeiras 24-72h da doença), aproximadamente.

Ah! E todos somos suscetíveis a uma nova cepa, ok? A cada infecção, adquire-se imunidade natural àquela cepa específica, após a cura. Essa imunidade também pode ocorrer pela vacinação. Estamos falando aqui de imunidade ativa (só para relembrar). Ora, e por que há campanhas anuais? Porque a vacina é feita com fragmentos virais das principais cepas circulantes e, como o vírus apresenta essa variação antigênica, a cada ano é preciso atualização.

Para 2017, por exemplo, a resolução RDC 119/16, que dispõe sobre a atualização das vacinas Influenza estabeleceu as cepas para as vacinas trivalentes e quadrivalentes:

  • Trivalentes – Três tipos de cepas de vírus em combinação, sendo um vírus similar ao vírus Influenza A/Michigan/45/2015 (H1N1) pdm09; um vírus similar ao vírus Influenza A/Hong Kong/4801/2014 (H3N2); e um vírus similar ao vírus Influenza B/Brisbane/60/2008.
  • Quadrivalentes – Dois tipos de cepas do vírus influenza B e dois do vírus A: um vírus similar ao vírus influenza B/Phuket/3073/2013; um vírus similar ao vírus influenza A/Michigan/45/2015 (H1N1) pdm09; um vírus similar ao vírus influenza A/Hong Kong/4801/2014 (H3N2); um vírus similar ao vírus influenza B/Brisbane/60/2008.

Quadro clínico:

Início abrupto, febre, tosse seca, odinofagia (dor de garganta), mialgia (dor muscular), cefaleia e prostração. Segundo o GVS, esse é o quadro da Síndrome Gripal (SG) e a resolução é espontânea em aproximadamente sete dias, embora a tosse e a fadiga possam permanecer durante algumas semanas. O Guia do Ministério da Saúde ainda acrescenta que indivíduos com condições de risco (portadores de doenças crônicas, idosos e crianças menores de dois anos, por exemplo) podem evoluir para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Nesse caso, além da SG, o indivíduo apresenta saturação periférica de O2 < 95% em ar ambiente, sinais de desconforto respiratório, taquipneia, piora das condições clínicas da doença de base e hipotensão com relação aos valores basais.

As complicações mais comuns incluem: pneumonia bacteriana e por outros vírus; sinusite; otite; desidratação; piora das doenças crônicas; pneumonia primária por influenza, que ocorre predominantemente em pessoas com doenças cardiovasculares (especialmente doença reumática com estenose mitral) ou em mulheres grávidas. Dessas, a principal complicação é a pneumonia, responsável por grande número de internações hospitalares.

O tratamento é baseado na administração de antivirais: fosfato de oseltamivir (Tamiflu®) e zanamivir (Relenza®). O fosfato de oseltamivir é o medicamento de primeira escolha, restando ao zanamivir a indicação em caso de intolerância gastrointestinal grave, alergia ou resistência ao oseltamivir. Zanamivir não pode ser administrado a paciente em ventilação mecânica, porque essa medicação pode obstruir o circuito do ventilador (BRASIL, 2016). Essas medicações são fornecidas pelo Ministério da Saúde (MS), no SUS. O esquema básico de administração está nesse quadro, retirado do GVS (2016):

Em alguns casos específicos, pode ser necessário quimioprofilaxia – que, em resumo, é a utilização de antivirais para a prevenção da doença após exposição de um indivíduo suscetível. Essa estratégia pode chegar a 70-90% de eficácia, mas não é amplamente recomendada devido ao risco de indução de resistência viral. Ora, então quando é que se faz quimioprofilaxia? Vamos a alguns exemplos:

  • Pessoas com elevado risco de complicações que não foram vacinadas ou o foram há menos de duas semanas, após exposição a caso suspeito ou confirmado;
  • Crianças menores de 9 anos de idade, vacinadas a primeira vez e que necessitam de uma segunda dose para serem consideradas vacinadas, ou aquelas com condições ou fatores de risco que tenham sido expostas a caso suspeito ou confirmado entre as duas doses da vacina;
  • Pessoas com graves deficiências imunológicas (em uso de imunossupressores, AIDS) ou outros fatores que possam interferir na resposta à vacinação, após contato com pessoa infectada;
  • Profissionais de laboratório ou da saúde não vacinados ou vacinados há menos de 15 dias, após manipulação de amostras de origem respiratória ou procedimentos invasivos geradores de aerossóis, sem utilização de EPI adequado;
  • Residentes de instituições de longa permanência (asilos, presídios, orfanatos, hospitais psiquiátricos etc.), durante surtos.

Se a quimioprofilaxia não é a forma usual de prevenção, qual é? Já falamos dela: a vacinação. A estratégia definida pelo Ministério da Saúde é baseada na imunização de grupos prioritários com predisposição a complicações da doença. A recomendação é de uma dose em primovacinados e uma dose nos anos subsequentes.

Indicações da vacina

  • Crianças com idades de 6 meses a menores de 5 anos de idade.
  • Gestantes.
  • Puérperas até 45 dias após o parto.
  • Trabalhador de saúde dos serviços públicos e privados, nos diferentes níveis de complexidade, cuja ausência compromete o funcionamento desses serviços.
  • Povos indígenas: para toda a população indígena, a partir dos 6 meses de idade.
  • Indivíduos com 60 anos ou mais de idade.
  • População privada de liberdade e funcionários do sistema prisional.

Contraindicações:

  • Menores de 6 meses de idade.
  • Indivíduos com história de reação anafilática prévia ou alergia grave relacionada ao ovo de galinha e seus derivados.
  • Indivíduos que, após o recebimento de qualquer dose anterior, apresentaram hipersensibilidade imediata (reação anafilática).

Via de administração:  preferencialmente intramuscular

Pode ser feita na mesma ocasião que outras vacinas ou medicamentos, procedendo-se aplicação em sítios diferentes.

A Vigilância Epidemiológica (VE) é responsável por levantar todos os dados epidemiológicos a respeito da influenza no Brasil, verificar as cepas circulantes, avaliar os impactos da vacinação, identificar grupos de risco, estudar a resistência aos antivirais, entre outras ações. A VE se organiza por meio da Vigilância Sentinela e Vigilância Universal.

A Rede Sentinela é “composta por unidades de saúde definidas pelos gestores e técnicos dos municípios, estados e Distrito Federal, sendo habilitadas por processo de pactuação no respectivo Colegiado de Gestão, segundo o fluxo estabelecido pelas Secretarias Municipais de Saúde e Secretarias Estaduais de Saúde” (BRASIL, 2016). O registro dos casos de Síndrome Gripal (SG) e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é feito pelas unidades sentinela em sistema de informação específico SIVEP-Gripe.

A Vigilância Universal da SRAG foi estabelecida em 2009, em função da pandemia de influenza. O Ministério da Saúde incluiu essa notificação na rotina dos serviços de vigilância em saúde.

Devem ser notificados casos de SRAG hospitalizados e surtos de SG. No caso dos surtos, a VE deve ser prontamente notificada.

• Surto em comunidade fechada ou semifechada – ocorrência de pelo menos 3 casos de SG ou óbitos, observando-se as datas de início dos sintomas.

• Surto em ambiente hospitalar – ocorrência de pelo menos 3 casos de SG ou casos e óbitos confirmados para influenza vinculados epidemiologicamente, em uma determinada unidade (enfermaria, UTI), observando-se as datas de início dos sintomas, e que tenham ocorrido no mínimo 72 horas após a admissão.

Agora que já passamos pelos pontos principais da teoria, o que você acha de checar como esse conteúdo cai em prova? Vamos resolver algumas questões:

  1. (IBFC/EBSERH/ENFERMEIRO – SAÚDE DO TRABALHADOR/2017)

  1. (INAZ DO PARÁ/PREFEITURA DE JACUNDÁ – PA/2016)

Técnico de enfermagem

O Guia de Vigilância em Saúde classifica a Influenza sazonal como uma infecção viral aguda do sistema respiratório, de elevada transmissibilidade e distribuição global (BRASIL, 2016). Sobre esta patologia, de acordo com o Guia, marque a alternativa correta.

  1. a) A principal complicação são as pneumonias.
  2. b) Pode ser causada por uma grande variedade de bactérias.
  3. c) Em média, o período de incubação é de 3 a 4 dias, podendo variar de 2 a 10 dias.
  4. d) Para efeito de controle, considera-se que o período de transmissão se estende do 5º dia após a exposição do doente até a 3ª semana do início das crises paroxísticas (acessos de tosse típicos da doença).
  5. e) A suscetibilidade é variável.

Vamos comentar essa questão. De fato, a principal complicação da influenza são as pneumonias de origem bacteriana ou viral, podendo também haver outras complicações, como sinusites, otites, piora do quadro clínico de outras doenças crônicas etc. Mas fique atento: as pneumonias são as principais complicações, ok?

Alternativa B incorreta. A influenza não é causada por bactérias.

Alternativa C incorreta. O período de incubação é de 1 a 4 dias, e a transmissão inicia-se entre 24 e 48 h do início dos sintomas. Com essa última informação, matamos a alternativa D: se o período de incubação é de um a quatro dias e a transmissão inicia-se 24 a 48 h antes dos sintomas, o período de transmissão começa, em média, entre 1 e 3 dias após o contato (fazendo a conta por alto).

A suscetibilidade é geral, galera. Todos somos suscetíveis. A alternativa E está errada.

Agora é o momento de treinar. Veja se você acerta essas outras duas questões:

 

  1. (CONSULPLAN/PREFEITURA DE CASCAVEL – PR/ENFERMEIRO/2016)

“A Influenza é uma doença respiratória infecciosa de origem viral, e é um problema de saúde pública no Brasil. Esta patologia pode levar a complicações graves e ao óbito, especialmente nos grupos de alto risco para as complicações da infecção viral (crianças menores de cinco anos de idade, gestantes, adultos com 60 anos ou mais, portadores de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais). A cada ano esta gripe pode se apresentar de forma diferente, assim como a infecção pode afetar diferentemente as pessoas.”

(Ministério da Saúde, 2014.)

“Os vírus Influenza subdividem-se m três tipos, porém, apenas algum(ns) tipo(s) sofre(m) frequentes mutações e é(são) responsável(is) pelas epidemias sazonais, também por epidemias de doenças respiratórias que ocorrem em quase todos os invernos e que, frequentemente, são associadas com o aumento das taxas de hospitalização e morte por pneumonia, especialmente em pacientes que apresentam condições e fatores de risco, como as crianças, por exemplo.” O(s) vírus a que se refere(em) a citação anterior é(são) o(s) tipo(s):

  1. a) A.
  2. b) B.
  3. c) C.
  4. d) A e B.
  5. e) A, B e C.

 

  1. (CONSULPLAN/PREFEITURA DE CASCAVEL – PR/ENFERMEIRO/2016)

Em relação à Influenza, analise as situações a seguir.

  1. Caso de síndrome gripal.
  2. Caso suspeito ou confirmado de Influenza por novo subtipo viral.

III. Caso de Síndrome Respiratória Aguda Grave.

  1. Surto de síndrome gripal.

É(São) de notificação compulsória apenas a(s) situação(ões)

  1. a) II.
  2. b) III.
  3. c) I e II.
  4. d) I, III e IV.
  5. e) II, III e IV.

Gabarito: Questão 3 – D, Questão 4 – E

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Fernanda Coelho
Graduada e licenciada pela Universidade Federal de Goiás em Enfermagem. Pós-Graduada em Enfermagem do Trabalho. Atuou por oito anos no programa de ortopedia e reabilitação infantil do no Hospital Sarah. Nomeada duas vezes na SES-DF, onde hoje atua como coordenadora da Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal. Autora do livro “A Encantadora de Palavras”, pela editora Literata e do blog de mesmo nome.

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