Língua portuguesa (feat. Anitta, Pabllo Vittar & Djavan). Por: Elias Santana

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11 de agosto2 min. de leitura

Ouvi, nesta semana, um novo sucesso do cancioneiro popular brasileiro: Sua Cara, interpretada por Anitta e Pabllo Vittar. Um trecho chamou a minha atenção:

Você já tá querendo e eu também,

Mas é cheio de história e de porém.

Quero que você olhe com carinho para a palavra “porém”. Habitualmente, classificaríamos esse vocábulo como uma conjunção adversativa. No contexto em que foi empregado, todavia, essa não é a análise morfológica correta.

Você consegue perceber que tanto “de história” quanto “de porém” se ligam ao mesmo vocábulo (“cheio”)? Essa conexão é estabelecida pela preposição “de”, nos dois casos. Por questões de paralelismo, se “história” é um substantivo, podemos afirmar, sem dúvidas, que “porém” também é.

“Elias, mas eu aprendi desde cedo que “porém” é uma conjunção! ” Na maioria das vezes, realmente, essa é a classificação morfológica dessa palavra! Mas existe na nossa gramática um processo de formação de palavras conhecido como derivação imprópria. Por meio dela, uma palavra pode mudar de classificação morfológica, conforme a necessidade de quem elabora o texto. Por isso, vou dizer o que já falei diversas vezes: as análises gramaticais devem ser feitas dentro do texto, e não fora dele.

Vamos entender a lógica dessa derivação imprópria na música: há duas pessoas que se querem, mas uma delas está impondo dificuldades, por meio de histórias e de adversidades. Em outras palavras, a pessoa que está cheia de histórias diz “eu te quero, porém hoje não tenho tempo/ porém estou cansado/ porém moro longe”. Por isso, trata-se de uma pessoa “cheia de porém”. E essa mudança de classe gramatical tem uma finalidade: estabelecer a rima entre “também” e “porém”. E mais: como essas duas palavras pertencem a classes gramaticais distintas (aquela é advérbio, e esta é substantivo), a rima é classificada como rica!

Sabe quem fez uso de recurso semelhante? Djavan! Veja:

Só dizer sim ou não,

Mas você adora um se.

A ideia foi a mesma: “se”, nesse verso, foi transformado em substantivo, com uma finalidade: expressar que alguém adora impor condições. É parecido com o que acontece na primeira música: “se hoje eu tivesse tempo/se eu não estivesse tão cansado/se eu não morasse longe, eu estaria com você! ” Ou seja, nesse caso, sempre há uma condição que impede o enlace amoroso!

Você agora percebe como é possível aprender língua portuguesa em qualquer contexto em que ela esteja presente? Não apenas os clássicos da literatura são instrumentos para isso. Os clássicos devem ser estudados, mas, principalmente, como ferramentas para se compreender o presente! Só assim, poderemos aprimorar o nosso futuro!


Elias Santana

Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Respectiva Literatura – pela Universidade de Brasília. Possui mestrado pela mesma instituição, na área de concentração “Gramática – Teoria e Análise”, com enfoque em ensino de gramática. Foi servidor da Secretaria de Educação do DF, além de professor em vários colégios e cursos preparatórios. Ministra aulas de gramática, redação discursiva e interpretação de textos. Ademais, é escritor, com uma obra literária já publicada. Por essa razão, recebeu Moção de Louvor da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

 


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