MITO, VERDADE E RAZÃO: uma síntese sobre a origem da filosofia ocidental

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03 de junho2 min. de leitura

Caras e caros colegas,

Hoje falaremos um pouco sobre o surgimento da filosofia ocidental como substituição das explicações mitológicas pelas justificações racionais, o que nos leva de volta à Grécia Antiga. Então, prontos(as) para viajar?

Antes da filosofia, o homem buscava explicar a realidade por meio da mitologia, que prevaleceu na Grécia do século XXI ao VI a.c. Essa necessidade de explicação dos fenômenos naturais, nasce tanto do desejo de dominação do mundo, quanto para afugentar o medo e a insegurança.

A verdade do mito, contudo, não obedece nem à lógica, nem à verdade empírica, muito menos à verdade científica. O pensamento mitológico é verdade intuída, que não necessita de provas para ser aceita. É, portanto, uma intuição compreensiva da realidade, uma forma espontânea do homem situar-se no mundo.

Já filosofia, retomando as questões postas pelo mito, busca uma explicação racional da origem e da ordem do mundo, nascendo como racionalização da narrativa mítica. Assim, os seres divinos tornam-se realidades concretas e naturais. Dito de outra forma, a filosofia procura fundamentar a origem e ordem do mundo por meio do discurso racional.

O objetivo dos primeiros filósofos, portanto, era o de construir uma cosmologia (explicação racional e sistemática das características do universo) que substituísse a antiga cosmogonia (explicação sobre a origem do universo baseada nos mitos).

Dessa forma, os primeiros filósofos pretenderam explicar não apenas a origem das coisas e da ordem do mundo, mas também (e sobretudo) as causas das mudanças e repetições, das diferenças e semelhanças entre as coisas, seu surgimento, suas modificações, transformações e seu desaparecimento ou corrupção e morte.

De modo sumário, podemos apresentar quatro traços principais do discurso filosófico, quais sejam: 1)     tendência a racionalidade: a razão é tomada como critério de verdade, acima das limitações da experiência imediata e da fantasia mítica; 2)     busca de respostas concludentes: colocado um problema, sua solução é sempre subentendida à discussão e à análise crítica, o discurso deve comprovar , demonstrar e garantir o que é dito; 3) ausência de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de investigação para responder os problemas; e, 4)tendência à generalização, isto é, oferecer explicações de alcance geral percebendo, sob a variação e multiplicidade as coisas e fatos singulares.

Os primeiros filósofos queriam descobrir, com base na razão e não na mitologia, o princípio substancial (a arché) existente em todos os seres materiais. Para tanto, procuraram um princípio a partir do qual se pudesse extrair explicações para os fenômenos da natureza. Assim, Tales vai dizer que o princípio de tudo é a água; Anaximandro, o infinito indeterminado, Anaxímenes, o ar; Heráclito, o fogo; Pitágoras, o número; Empédocles, os quatro elementos: terra, água, ar, fogo, em vez de uma substância única.

Essa contrariedade entre as várias respostas dadas pelos chamados “filósofos da natureza” (ou pré-socráticos) à questão ontológica (o que é o ser?), leva a uma crise do saber na Grécia Antiga, abrindo espaço para os questionamentos dos sofistas, que passam a defender o abandono da razão e a utilização da história como instrumento para buscar a verdade, gerando um relativismo, segundo o qual “o homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras) (MACHADO NETO, 1987, p. 93-94).

Os sofistas gregos foram os primeiros “antepassados diretos de um tratamento empírico do direito em termos a prenunciar uma sociologia jurídica” (MACHADO NETO, 1987, p. 93).  Segundo Alf Ross, “os sofistas oferecem o primeiro intento de formular uma teoria sociológica de relação entre o direito, por um lado, e o poder, e o interesse por outro, e do conflito entre os grupos sociais” (1963, p. 228), como já tivemos a oportunidade de falar no artigo “Direito e poder: a filosofia social dos sofistas gregos”.

Por hoje é só, pessoal.

 

 

Até breve,

Chiara Ramos

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