O falso patinho feio do Itamaraty

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24 de setembro2 min. de leitura

Nem todo diplomata que deixa o Instituto Rio Branco (IRBr) é aproveitado de cara em áreas fins do Ministério das Relações Exteriores (MRE), ou seja, em atividades mais relacionadas com as matérias cobradas no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), como temas políticos, econômicos, de promoção comercial ou consulares, conforme vimos em diversos artigos. Por escolha ou necessidade do Itamaraty, muitos diplomatas têm por responsabilidade funções administrativas, para lidar com recursos humanos ou financeiros.

A Secretaria de Gestão Administrativa é a unidade, dentro da nova estrutura regimental do MRE (Decreto no 9.683, de 9/1/19), encarregada de lidar com os temas dessa natureza. À Secretaria estão subordinados os seguintes Departamentos: Departamento de Tecnologia e Gestão da Informação; Departamento de Administração e Logística; e Departamento de Serviço Exterior[1]. Todas essas seções são chefiadas por diplomatas graduados, Ministros de Primeira e Segunda Classe, que por sua vez são assessorados por outros mais jovens (modernos, na linguagem interna), além de oficiais de chancelaria, assistentes de chancelaria  e demais funcionários e terceirizados.

O Departamento de Administração e Logística é a grande unidade administrativa do MRE. Essa unidade cuida de temas como patrimônio, processos licitatórios, reformas (projetos que envolvem engenharia e arquitetura), pagamentos no exterior e serviços gerais, como transporte, telefonia, limpeza e segurança.

Ao Departamento de Tecnologia e Gestão da Informa cabe prover e administrar os meios e sistemas corporativos para tratamento da informação do Ministério das Relações Exteriores e gerir os recursos aplicados aos sistemas corporativos de tratamento da informação no Ministério nas áreas de tecnologia da informação, comunicações e gestão documental. É, ainda, o órgão da Secretaria de Estado que exerce o papel de interface com o Escritório de Representação no Rio de Janeiro para os assuntos de natureza temática relativos ao Museu Histórico e Diplomático, à Mapoteca, ao Arquivo Histórico e à Biblioteca.

Já o Departamento de Serviço Exterior planeja, coordena e supervisiona as atividades de formulação e execução da política de pessoal, os processos de remoção  e lotação, inclusive em seus aspectos de pagamentos e de assistência médica e social. Muito simplificadamente, comparando esse Departamento com os supracitados, enquanto o primeiro cuida dos pagamentos e o segundo se ocupa dos papéis (físicos e eletrônicos), o de serviço exterior é responsável pela administração de pessoas, com exceção da capacitação dos diplomatas, que está a cargo do IRBr .

O objetivo desse artigo não foi o de assustar candidatos do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD), que a esta altura podem estar preocupados de se dedicar à preparação a um exame de difícil aprovação para eventualmente ser lotado no futuro em uma área administrativa, para cuidar de temas que, na aparência, são menores que outros que tratamos neste blog.

Meu objetivo ao dividir com você essas informações é reforçar um argumento que utilizo sempre, que é o da diversidade de temas com os quais pode trabalhar um diplomata. Utilizo, com frequência, a frase de que o que mais me atraiu e atrai até hoje no Itamaraty foi a possibilidade de ter diversos empregos em uma única carreira.

Se você, após aprovação do CACD e conclusão do curso de formação do IRBr, vier a ser aproveitada(o) em uma área administrativa do MRE, saiba que: 1) o patinho não é tão feio assim; 2) nada será permanente em sua carreira (em pouco tempo, terá a oportunidade de ir trabalhar em outra área); e 3) você poderá gostar desse trabalho e até se especializar, como já ocorreu com muitos e muitos diplomatas.

Comigo mesmo ocorreu algo parecido: o tema que mais gostei de tratar em minha carreira foi o da promoção comercial, área pouco cobiçada dentro do Itamaraty. Portanto, é importante e positivo ter opções profissionais e isso não falta na carreira diplomática.

[1] Curiosamente, na estrutura anterior (até janeiro de 2019), essa unidade chamava-se Departamento do Serviço Exterior. A preposição “de” somada a um artigo definido causava piadas, como se fosse o único departamento do Ministério.

 

Prof.Jean Marcel Fernandes – Coordenador Científico Nomeado Terceiro -Secretário na Carreira de Diplomata em 14/06/2000. Serviu na Embaixada do Brasil em Paris, entre 2001 e 2002. Concluiu o Curso de Formação do Instituto Rio Branco em julho de 2002. Lotado no Instituto Rio Branco, como Chefe da Secretaria, em julho de 2002. Serviu na Embaixada do Brasil em Buenos Aires – Setor Político, entre 2004 e 2007. Promovido a Segundo-Secretário em dezembro de 2004. Concluiu Mestrado em Diplomacia, pelo Instituto Rio Branco, em julho de 2005. Publicou o livro “A promoção da paz pelo Direito Internacional Humanitário”, Fabris Editor, Porto Alegre, em maio de 2006. Saiba +

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