O paradoxo do progresso

Quem constrói algo grandioso na vida logo experimenta uma espécie de paradoxo do progresso. É comum – eu diria até mesmo esperado – que os avanços pareçam, em um primeiro momento, retrocessos. O caos se instala e pode até dar a impressão de que a vida piorou ao invés de melhorar. Contudo, tal desordem é necessária para que a transformação definitiva ocorra. As conquistas vêm disfarçadas de desafios e contratempos, mas é precisamente nessas dificuldades que se forja um progresso duradouro.

Cada mudança significativa na rotina provoca um desarranjo temporário em tudo a nossa volta. Pense numa casa em reforma: a poeira, o entulho, a bagunça são inevitáveis, porém também precedem um novo e melhorado lar. A preparação para concurso público segue roteiro semelhante. Durante meses, talvez anos, o concurseiro se dedica intensamente, renunciando a sua zona de conforto e convivendo com o cansaço e a frustração. O sentimento de estagnação pode ser esmagador, então é crucial o estudante ter em mente que essa fase ruim é passageira, que, em meio à reforma da sua vida, ele está construindo algo grandioso.

Como empreendedor e aficionado por biografias e histórias de sucesso em várias áreas, posso afirmar: os maiores homens e mulheres de que temos conhecimento só se tornaram o exemplo que são depois de muitas idas e vindas. Em todas as minhas leituras, ficou bem claro que o diferencial das pessoas bem-sucedidas é a capacidade de enxergar os desafios como oportunidades de crescimento. Cada obstáculo superado é visto por elas como um passo dado no projeto de se tornar mais forte. 

Eu mesmo vivi isso. Tenho origem que considero de muito privilégio, especialmente em um país tão desigual como o nosso. Os meus pais são casados – e felizes – há quase 40 anos, de modo que venho de uma família muito bem estruturada. Pouco tempo depois do meu nascimento, meus pais melhoraram significativamente de vida, alcançando uma situação que lhes permitiu proporcionar aos filhos excelente formação. Meu irmão e eu tivemos acesso a boas escolas, além de tempo para nos dedicarmos plenamente aos estudos e tranquilidade para não nos preocuparmos com nada a não ser o nosso desenvolvimento pessoal. Pude até mesmo fazer universidade no exterior!

Parece tudo perfeito, não é? Mas, acredite, não era. Minha formação, construída à base de muito estudo e de inúmeras atividades extracurriculares, ainda não havia me moldado para a dura realidade do empreendedorismo. Foi ao começar meu próprio negócio que constatei a minha falta de resiliência diante de tantos contratempos. Falhei e, quando tudo levava a crer que a empresa quebraria (meu sócio e eu estávamos devendo no cheque especial e nos víamos sem perspectivas), sucumbi e chorei. 

Tudo no início da minha carreira empreendedora parecia um grande retrocesso. Afinal, eu estava trabalhando de graça e ainda morava com meus pais, apesar de ter tido a opção de permanecer nos Estados Unidos e conseguir um emprego na área de finanças, em que eu ganharia mais de 100 mil dólares por ano, como ocorrera com muitos dos meus colegas de faculdade. Desgostoso, eu poderia simplesmente ter cedido à tentação de percorrer o caminho mais fácil e previsível, mas não o fiz. Ecoava em minha mente as palavras que sempre ouvi dos meus pais: desistir nunca é uma opção. 

Hoje sei que foi esse começo difícil que me lapidou, me fortaleceu e me preparou para ser o líder que me tornei, ainda sujeito a falhas, naturalmente, mas sempre disposto a aprender com elas. Reconheço nas provações enfrentadas ali por volta dos 20 anos de idade o grande diferencial que me levou, aos 30, à liderança de uma das maiores empresas no ramo de educação e tecnologia, que conta com um time excepcional de 1.100 colaboradores e 500 professores, numa estrutura que atende quase 800 mil alunos.

Esse é o paradoxo do progresso, caro leitor. Piora para depois melhorar, e, quando melhora, o avanço é exponencial, indo muito além do que uma jornada mais conservadora e linear alcançaria. O mesmo se aplica à preparação para concursos públicos. Cada dia de estudo, cada lista de exercícios respondida, cada simulado feito, ainda que produza resultados aquém do desejado, é progresso disfarçado de retrocesso ou, em alguns casos, de estagnação.

Na sua trajetória como estudante profissional, pode parecer que tudo está desmoronando. Sentir-se perdido, lidar com a escassez de recursos e enfrentar o esgotamento são experiências comuns. A vontade de desistir estará sempre à espreita. As crises são, no entanto, o prelúdio de uma transformação significativa. Trata-se do paradoxo do progresso, quando você está fazendo tudo certo, mas, ainda assim, tudo parece piorar. Resista, pois é a essa altura que a verdadeira mudança começa a acontecer.

Para se manter firme, é importante celebrar cada pequena vitória ao longo do caminho. Todo passo dado, por mais tímido que seja, merece ser comemorado. Pequenas conquistas serão o combustível que manterá a sua motivação em alta e reforçará a sua determinação. Elas são sinais de que você está avançando, mesmo que a evolução pareça lenta. Até a leitura deste artigo é indicativo do seu crescimento, pois significa que você dedicou tempo ao desenvolvimento pessoal. Orgulhe-se de si mesmo, porque o componente emocional é tão importante para o sucesso numa empreitada quanto o esforço físico e/ou intelectual. Jamais se esqueça disso.

O paradoxo do progresso ensina que o caminho para a realização dificilmente será linear. Na verdade, é mais provável que ele se caracterize por altos e baixos… Seja como for, confie no processo e continue a se dedicar. Você está cada vez mais próximo dos seus objetivos, e a vitória será certa se você seguir firme.

Eu acredito, eu sei. E você?

Gabriel Granjeiro

Presidente e sócio-fundador do Gran Cursos Online. Vive e respira concursos há mais de 15 anos. É autor de livros e artigos que já foram lidos por mais de 1 milhão de pessoas e formou-se com honors em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business.

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