Por que estou fazendo isso?

Você que está na maratona de estudar para concurso público já se pegou questionando para que tanto esforço? Especialmente naqueles momentos que se estendem até altas horas, quando os olhos mal conseguem se fixar em mais uma linha de texto de lei ou em outra questão de simulado, já se perguntou por que está se dedicando de corpo e alma assim?

Essa indagação não é mero devaneio; ela é o cerne da nossa incessante busca por propósito, essa centelha que ilumina o caminho árduo, no nosso caso através de um mar de videoaulas, PDFs, leis, exercícios no Gran Questões, leitura de editais, inscrições, viagens exaustivas e, às vezes, o amargo gosto da frustração. Entre os que estão nessa jornada, entender o porquê de certas decisões pode ser o combustível que faltava não só para persistir como também para apreciar todas as etapas do processo.

Como se sabe, a vida é feita de fases, algumas mais fáceis de levar que outras… Lembra-se, por exemplo, de quando você era criança, e cada canto desconhecido parecia convidar para uma aventura? Pois bem. Essa sede de descobertas é o berço do nosso amor pelo saber. Jean Piaget, com sua visão perspicaz do desenvolvimento humano, já dizia que nosso aprendizado começa no embate lúdico com o mundo ao redor.

Chegada a adolescência, as descobertas não param, apenas parecem mudar de foco: de fora para dentro. Essa é a época em que tentamos entender quem somos. Erik Erikson retrata o período como a luta entre a nossa verdadeira identidade e a confusão dos papéis que nos são impostos. Não é difícil imaginar por que essa batalha interna para muitos de nós termina na decisão de se preparar para concursos públicos, quer pelo anseio de estabilidade, quer pelo ímpeto de fazer a diferença na sociedade – ou, talvez, por uma combinação das duas aspirações.

Quando alcançamos a maturidade, nossos horizontes se expandem e se tornam mais, digamos, pragmáticos. A famosa pirâmide de Maslow ilustra como, depois de termos assegurado o básico para nossa subsistência, nossa busca passa a ser por reconhecimento e realização pessoal. O concurso público, visto por esse ângulo, pode representar apenas um meio de prover necessidades primárias ou, indo bem além, materializar um propósito elevado como o de contribuir com nosso melhor para o mundo.

É, então, na fase adulta que podemos e devemos racionalizar nossas escolhas, e nesse campo a filosofia tem muito a contribuir. Uma corrente filosófica, em particular, pode transformar radicalmente o modo como o concurseiro enfrenta os desafios inerentes à batalha que tomou para si. O estoicismo, com seu foco no manejo do que está ao nosso alcance, encoraja a concentração em ações concretas, como um bom planejamento dos estudos e a gestão eficaz do tempo. A par disso, postula o desapego em relação aos resultados, que, afinal, estão fora do nosso controle, dados os múltiplos fatores envolvidos num projeto de médio e longo prazo como o de passar em concurso.

Essa forma de lidar com a realidade dos fatos cultiva no concurseiro, acima de tudo, paz interior, uma serenidade que lhe permite encarar as incertezas com calma, enxergando nos revezes não um fracasso, mas um convite ao crescimento. Os princípios do estoicismo formam uma base robusta para o enfrentamento do turbilhão de emoções que caracteriza a jornada dos concursos. Essa base legitima a decisão de se concentrar menos na chegada e mais no percurso, em todos os seus ricos e variados momentos.

Trata-se de opção que, aliás, encontra eco na Bíblia. Eclesiastes 3:1-8 fala de como para tudo na vida há uma ocasião certa. No caso do concurseiro, primeiro vem o tempo de semear, que impõe sacrifícios importantes: é quando esse guerreiro tem de adiar projetos como o de viajar ou mesmo o de participar do churrasco de todo domingo. Nessa fase, cada lei memorizada, cada videoaula vista e cada PDF vencido ganham novo significado, tamanho o esforço necessário para não esmorecer. Mais tarde, haverá, é claro, tempo de aproveitar sem culpa a companhia da família e dos amigos, vivendo intensamente experiências que hoje foi preciso postergar.

A pergunta “por que estou fazendo isso?” funciona, portanto, como um convite para mergulharmos mais fundo em nossas motivações, um lembrete de que todo sacrifício tem seu valor. Ela nos encoraja e impulsiona, aproximando-nos, centímetro a centímetro, do futuro que desenhamos para nós e os nossos.

Então, quando a jornada parecer pesada, pense nesse propósito maior e siga em frente, não só contando os dias, mas fazendo que os dias contem. Encare o processo não como mera preparação para um concurso, e sim como oportunidade de crescimento pessoal e profissional. Acredite: passada esta etapa trabalhosa e por vezes angustiante, você olhará para trás e verá uma versão de si mesmo mais forte, mais sábia e pronta para enfrentar qualquer desafio que a vida lance em sua direção.

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